Emergência no Planeta Terra

XIX: A Infecção

I

Os dias transcorriam lentamente, arrastando-se como um dia quente de verão. As altas temperaturas intensificaram o isolamento das pessoas, agravado pela doença. Em Hogwarts, alguns professores e funcionários mais idosos começaram a sentir-se mal, sendo encaminhados à Enfermaria para descanso e hidratação. Uma vantagem de estar próximo ao fim do ano letivo era justamente essa: a possibilidade de um repouso absoluto, sem aulas. Faltavam apenas algumas semanas para as tão esperadas férias, e Joanne Snape ansiava por retornar ao conforto do seu lar, onde poderia abraçar sua adorável mamãe, dar beijos carinhosos em seu exigente e tirano papai e mimar seus irmãos mais novos.

Um aspecto positivo de toda essa situação era que Joanne se encontrava na sala comunal mais fresca do castelo, localizada abaixo do Lago Negro, que lembrava o interior de um submarino. Suas vestimentas eram confortáveis, sem serem excessivamente curtas: uma bermuda rosa clara, com bolsos, que chegava até os joelhos, e uma blusa turquesa estampada com teias de aranhas pretas, dispostas abaixo de um grande coração da mesma cor. Essas teias pareciam interligadas, como veias e artérias.

Joanne recordou-se de ter recebido aquela blusa de presente de Escórpio Malfoy no último Dia das Bruxas, durante a festa em homenagem à sua mãe na Floresta Proibida. Ela adorou o presente, não apenas pela estampa em si, mas porque foi um presente dado por ele, o amor de sua vida. Joanne não precisava mais esconder seus sentimentos pelo rapaz, muito menos negar que estava apaixonada desde o momento em que o viu pela primeira vez. Escórpio era inteligente e gentil, qualidades que admirava em um garoto. Contudo, seu pai, mesmo sendo a favor dessa união entre os Snape e os Malfoy, provavelmente teria influenciado Escórpio, dizendo-lhe que ela não era boa o suficiente ou não apropriada para ele. Essa era a natureza inata de seu pai. Joanne havia prometido a si mesma que não falaria palavrões na frente de Escórpio, mas era como tentar negar sua própria essência.

Enquanto Joanne se distraía lendo o novo livro de seu detetive particular favorito da literatura, Cormoran Strike, lançado há dois anos atrás. Era para ela ter terminado esse livro há um bom tempo, mas o achou bastante entediante na época. Só que, conforme continuava a leitura, ela se viu intrigada com a etimologia do cavalo branco retratado na história. Se sua memória não a enganava, sua mãe havia contado uma vez que, se uma égua, dentro de sua ninhada, desse à luz um potrinho branco entre outros de pelagens diferentes, esse filhote poderia nascer com algum poder mágico, tornando-se assim uma criatura única. Porém, na versão sombria apresentada no romance, o cavalo branco acabava sendo sacrificado por ser considerado doente. Joanne suspeitava que essa parte da lenda também tivesse uma conexão com a magia, mas não se lembrava com precisão.

A garota ouviu passos e direcionou seu olhar para a frente, sentindo seu coração acelerar de tal forma que era possível escutar e sentir os batimentos dentro do peito. Escórpio Malfoy aproximava-se, vestindo um robe que aparentava ser bastante luxuoso, de cor verde oliva, com um caimento elegante. Suas calças marrons também alcançavam os joelhos. Com aquela vestimenta, ele assemelhava-se a um pequeno lorde, e Joanne sentia-se até um pouco constrangida diante de sua presença. Ele, um pequeno cavaleiro e ela, uma grande estabanada.

— Jojo... o que está fazendo?

— Estou lendo. Um livro do meu detetive favorito.

— Sério? Quem é? Eu gosto muito do Hercule Poirot e do Armand Gamache. Aliás, sabia que a Agatha Christie odiava o Poirot? Tanto que ela disse que ficou aliviada quando escreveu Cai o Pano, o último livro com as aventuras dele.

Joanne não iria discutir com ele porque gostou da curiosidade.

— Eu não sabia que a Agatha Christie odiava tanto o seu personagem mais famoso... bom, se quer saber, o nome do detetive é Cormoran Strike.