Capitulo 1: Devaneios sombrios, Dias comuns

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Sangue, escorrendo lentamente das feridas recém-formadas, pintava uma paisagem sombria diante dos meus olhos. A escuridão se adensava, envolvendo minha visão, enquanto os ecos dos choros e das dores daquele dia ainda reverberavam incessantemente em meu consciente.

O trecho mais obscuro dessa parte da minha vida desvaneceu em meros segundos. Meus ouvidos, anteriormente preenchidos pelo vazio do silêncio, agora eram bruscamente despertados pelas batidas contundentes de meu avô contra a porta. Cada golpe ressoava como um eco ensurdecedor, acelerando os batimentos do meu coração.

Examinei o ambiente ao meu redor; sombras parciais envolviam o chão e o teto, criando uma atmosfera melancólica. Através das frestas dos meus olhos, fixei meu olhar no celular: 1 de agosto, 7:01 da manhã. Era o início do novo ano letivo após as férias, marcando o primeiro dia de uma jornada incerta.

Sob as cobertas, estirei-me, agarrando os lençóis e lançando-os para longe. Eles encontraram o chão com um sussurro suave, e, sentado sobre a cama, minha carne e ossos foram abraçados pela sensação gélida do frio, criando uma conexão física com o ambiente.

Persistindo incansavelmente, meu avô continuava a socar a porta de meu quarto. O som estridente era tão incômodo que, sem reservas, gritei em resposta:

— Já ouvi, velho, droga!

Esses gritos tiveram o poder de interromper os socos. Como um bailarino, corri em direção ao banheiro, e não demorou muito para que o vapor caloroso do chuveiro envolvesse o cômodo, criando um santuário temporário.

A água escorria pela minha pele, marcada por cortes profundos. A sensação, embora efêmera, proporcionava um prazer quase terapêutico. Eu não queria sair dali, mas a perspectiva de meu avô retomando os socos me obrigava a enfrentar a realidade.

Após o banho, dediquei-me a preparar meu uniforme meticulosamente: uma camisa branca com gravata roxa e uma calça jeans. Os sapatos, simples tênis já desgastados, completavam a indumentária que refletia uma espécie de armadura cotidiana.

Deixei meu quarto como o encontrei e dirigi-me à cozinha. Meu avô lia o jornal com concentração, e era evidente que ele tinha algo a dizer.

— Por que demorou tanto para acordar? — indagou ele.

— Não consegui dormir direito, foi por isso que demorei.

— Ainda com os pesadelos?

— Sim. Tem algo que possa me ajudar com isso?

— Apenas o básico. Vá ao psicólogo, dê tempo ao tempo e tente socializar.

Palavras consideradas banais para mim. Minha única resposta foi:

— Socializar, vai sonhando.

Saí de casa em direção ao colégio. As calçadas, antes vazias, as lojas ainda fechadas, e o sol inclemente sobre minha cabeça criavam uma atmosfera incômoda. No entanto, era suportável em comparação com a maior parte da minha vida.

Os minutos se desenrolavam, e o calor do sol já não era tão agonizante. As horas passavam, e eu me aproximava do colégio. Na entrada, os repetentes e engraçadinhos ocupavam a barra dos degraus.

Um moreno de cabelos brancos longos fazia piadas e trocadilhos infames, um punk distraído com o som estridente de uma bateria, e ao lado, um menino de cabelos rosados terminava um pacotinho de Halls.

Ao adentrar o colégio, vislumbrei meus poucos amigos: Nyx, Miguel e Melissa. Cada um envolvido em suas próprias atividades, mas eu tinha minhas próprias impressões sobre cada um.

Nyx, uma boa amiga com péssimo gosto para namorados, assim como Miguel.

Miguel, legal, mas incrivelmente desligado. Meu santo nunca bateu com o dele; ele era pretensioso, e eu não apreciava seu orgulho exacerbado.

Melissa, amiga de Nyx, apreciava o namoro de sua amiga com Miguel. Apesar de inteligente, seu julgamento parecia obscurecido pelos estudos intensivos.

Não interagi com nenhum deles. Mesmo sendo meus amigos, eu preferia manter minha distância. No entanto, o que mais capturava minha atenção era o olhar das garotas voltado para mim.

Não me olhavam com ódio, mas com desejo. A razão era clara: eu era considerado o garoto mais bonito do colégio. No entanto, elas não eram o que eu desejava.

Todas pareciam superficiais, egoístas e presunçosas. Eu não queria aquilo na minha vida.

O tempo fluía como as folhas do outono, o sinal soou, e todos nos dirigimos à sala de aula.

Lá, as aulas tornaram-se tediosas, e eu só desejava que acabassem. As lições eram monótonas, tornando qualquer coisa mais interessante, inclusive os tumultos causados por Laura, que se revelavam mais divertidos.

O intervalo finalmente chegou, e com ele, minha gratidão sincera.

Eu carregava um prato de espaguete de volta ao meu lugar quando esbarrei novamente no mesmo rapaz moreno de cabelos brancos da entrada.

Nossos corpos se conectaram através de um beijo intenso. Seus lábios eram quentes, macios e carregados de uma ousadia que eu nunca havia experimentado antes. De alguma forma, eu desejava mais, mas antes que pudesse prosseguir, uma de suas pernas passou pela minha, lançando-me ao chão. Agarrei sua camisa, e ele caiu sobre mim.

Nossos olhares se encontraram pela primeira vez. Foi como se o tempo, momentaneamente, congelasse apenas para nós dois.

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