Capítulo 28: Tomada de decisões

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Meu colapso mais recente foi a gota d'água. Meu avô, sempre paciente e atento, decidiu que era hora de conversarmos sobre o que estava acontecendo comigo. Ele acreditava que seria uma boa ideia eu abrir meu coração para ele, como um modo de aliviar o peso que eu carregava.

Não era como se eu nunca tivesse conversado com ele antes, mas há uma grande diferença entre contar sobre sua vida para um familiar e desabafar com um amigo. Assim, depois de toda a explosão de sentimentos - berros, agonia, frustração e rancor - eu e meu avô fizemos algo inusitado.

Sentados no chão do meu quarto, o silêncio pairava sobre nós de forma constrangedora. Eu me perguntava o quanto as costas dele aguentariam encostadas na cama, mas ele parecia confortável, mais preocupado comigo do que com seu próprio conforto.

- Então, me conta o que está acontecendo, Jin - pediu meu avô, com a paciência que sempre o caracterizou. Sua voz tranquila era um alívio em meio ao caos que eu sentia. Encolhi meu corpo, abraçando meus joelhos e encarando meus pés descalços.

- Eu estou muito confuso, vô. Não sei quem eu sou, quem eu fui. Agora, todo mundo está dizendo que tem algo de errado na minha relação com o Ren, mas eu não consigo ver isso - desabafei, ainda encarando o chão.

Meu avô suspirou, um suspiro que parecia nos conectar de alguma forma. Ele olhou na mesma direção que eu, talvez tentando encontrar respostas nas tábuas do assoalho.

- Se você quiser saber algo sobre o seu passado, estou aqui. Tirando seus pais, sou a única pessoa que te viu crescer - disse ele, estendendo sua mão enrugada e tocando as costas da minha, que repousava sobre meu joelho.

- Como foi a minha relação com o Ren? Por que dizem que foi ruim? Você sabe de algo, vô? - perguntei, levantando meu olhar para encarar o rosto dele. A expressão incerta dele me deixou ainda mais confuso. Meu avô nunca foi de rodeios, então por que parecia hesitar agora?

- Bom, você e o Ren tinham uma boa relação no começo. Mas, sempre que eu os via juntos, pelo menos na minha perspectiva, parecia que ele não era o melhor para você - respondeu ele, escolhendo as palavras com cuidado. A confusão em minha mente só aumentava. Nunca precisei decifrar as palavras do meu avô antes.

- O que quer dizer com isso, vô? Como assim, ele não era para mim? O que aconteceu entre nós? - insisti, sabendo que havia algo obscuro naquela história. Talvez essa fosse a chave para eu entender tudo.

- Pelo que eu via, Ren era muito rebelde, e eu sentia que ele estava te transformando em algo que você não era. Não me atrevi a dar conselhos porque, na época, você havia acabado de encontrar alguém que te fazia sorrir, algo que desapareceu depois da morte dos seus pais - explicou ele, agora segurando minha mão com mais ternura, como se quisesse me proteger da dor que aquelas memórias poderiam trazer.

Meu avô continuou, sua voz suave como sempre:

- Mas, um dia, lembro que você voltou para casa chorando. Eu me perguntava o que havia acontecido. Você estava abalado demais para me contar, então perguntei aos pais dele. - Apertei sua mão, meus olhos trêmulos, enquanto tentava processar a avalanche de emoções que começava a me tomar.

- Eles me disseram que vocês terminaram porque você havia dado um chilique. Mas eu te conhecia, Jin. Sabia que algo estava errado. Dois dias depois, você me contou sobre a traição... - As palavras dele trouxeram de volta uma memória que eu havia enterrado. Era como se um véu estivesse sendo levantado, revelando algo que eu havia escolhido esquecer.

Apesar da gravidade da revelação, meu corpo permaneceu em silêncio, sem reação emocional. Eu estava começando a lembrar, mas ainda havia dúvidas.

- Tá, mas e o Roger? Por que ele parece tão importante para mim? - perguntei, tentando conectar os fios soltos.

- Bom, sobre esse jovem, eu sei pouco. Antes do acidente, você me contou muito pouco sobre ele, mas pelo que eu vi, vocês eram próximos - respondeu meu avô, com um leve sorriso que não chegou aos olhos.

- Próximos como eu e o Ren éramos? - insisti, buscando entender a natureza daquela relação.

- Para ser sincero, eu não sei dizer. Mas parecia ser uma proximidade mais saudável, quase como a que eu tinha com sua avó, entende? - O tom dele era melancólico, lembrando de tempos passados.

Compreender a relação que meu avô tinha com minha avó era difícil para mim. Ela faleceu quando eu era pequeno, e a única memória que eu guardava era dela ajeitando as roupas de trabalho dele. Uma lembrança nostálgica, se é que posso chamar assim.

- Tudo bem, entendi sobre minha relação com esses dois. Mas a pergunta que eu não consigo responder é: quem eu devo ser para eles agora? - questionei, sentindo o peso da dúvida.

Com certo esforço, meu avô se levantou do chão frio e estendeu a mão para mim. Eu a segurei, permitindo que ele me ajudasse a levantar. Seus dedos pousaram nos meus ombros, e ele me olhou nos olhos antes de responder:

- Você deve ser aquilo que cada um merece. Deve dar a cada um o Jin que eles precisam, mas sem nunca deixar de ser o rapaz amável que você é, mesmo com esses monstrinhos na cabeça. Então, meu filho, pense comigo: se alguém te fez chorar, seria justo você entregar um beijo ou um sorriso a essa pessoa?

- Não, vô. Claro que não - respondi, balançando a cabeça.

- E se alguém te faz rir e pensar em coisas positivas, seria justo você dar um murro nessa pessoa ou ofendê-la por fazer algo bom? - perguntou ele, com um olhar penetrante.

- Também não, vô.

- Então, Jin, se você consegue me dar essas respostas, tenho certeza que sabe a quem você precisa entregar o sorriso e a quem você deve entregar o murro - concluiu ele, com um sorriso sereno.

- Agora eu sei, vô. Valeu mesmo - agradeci, sentindo um peso sair dos meus ombros.

- Disponha, raiozinho de sol. Agora, vou pegar uma vassoura para ajudar você a limpar essa bagunça - disse ele, dando-me um tapinha no ombro antes de sair do quarto.

Assenti com a cabeça e o observei sair. Foi nesse momento que meu celular vibrou, tirando-me das minhas reflexões. Olhei para a tela e vi o nome de Ren. Suspirei profundamente, pegando o aparelho e, com decisão, enviei uma mensagem:

"Precisamos conversar..."

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