Capitulo 2: Brigas e Lembranças

31 3 2
                                    

O tempo, mesmo que se congelasse para ambos, foram segundos que me arrancaram daquele instante incomum.

Senti um dos seus punhos atingir meu maxilar, sua agressividade contida apenas pelo chute que desferi em seu estômago.

Isso o afastou, e eu me ergui daquele chão. Mesmo relutante, iniciei um confronto com aquele rapaz moreno. Seus socos eram potentes, desferindo chutes e golpes tão intensos quanto os meus.

Nossa luta continuou com todos ao nosso redor, gritando incansavelmente nossos nomes. No entanto, de repente, o diretor surgiu, nos separando.

Eu e aquele rapaz nos encaramos mais uma vez, uma sensação formigante e quase visceral percorrendo meu corpo, mas estranhamente prazerosa.

— Senhor Shimada, fora. Senhor Campos, fora.

Cada um seguiu para o seu canto. Eu me dirigi até Nyx, enquanto Campos se juntou aos seus amigos. Normalmente, sentiria raiva ou ódio, mas algo mais se manifestou, uma emoção que não experimentava desde os tempos em que morava com meu pai.

Ainda limpando o sangue que escorria da minha boca, Nyx me questionou, com certa curiosidade em seu tom:

— Como você conseguiu brigar com o Roger?

— Esse era o nome daquele... babaca?

— Sim, é. Mas olha, se eu soubesse que você era tão bom de briga, eu te chamaria para nos defender da Laura.

Murmurei baixo, liberando dos meus lábios:

— Talvez com o Roger, eu queira ser bom em outros assuntos.

O sinal tocou novamente, e eu retornei para a sala. Pensava que a aula seguinte seria monótona, mas para mim não foi. Minha mente se perdeu em devaneios sobre Roger - sua pele, seu corpo, o sabor de seus lábios. Antigamente, já havia experimentado o gosto de alguém, mas isso foi breve e não muito bem-sucedido.

Durante o resto das aulas, me questionei sobre o que sentia por Roger. Quando dei por mim, a sala estava vazia, e Melissa me chamava:

— Jin, amigo, a aula já acabou. Vamos, meu filho, você está pensando na morte da bezerra?

— Não, só fiquei distraído. Desculpa.

Levantei-me e fui com Melissa para a entrada do colégio. Nos despedimos, e eu fiquei sozinho.

Foi quando ele apareceu, desta vez sozinho e ainda machucado. Mesmo que algo mexesse no meu coração em relação a ele, não queria admitir.

Chegou perto de mim, estendendo a mão de forma brincalhona:

— Mandou bem na luta, me deixou todo fodido.

— Da próxima vez, farei pior.

Ele sorriu ao ouvir isso, e pude observar mais atentamente seus olhos distintos, belos. Algo surgiu em mim, uma sensação incomum.

Aproximei-me, toquei seu rosto machucado e limpei o corte na bochecha, dizendo de maneira firme:

— Você deveria cuidar melhor deste rostinho bonito. Além disso, seus olhos são incríveis. Para mim, os olhos são a manifestação da janela de nossas almas, e os seus são muito bonitos.

— Mas isso é hipocrisia, você tentou acabar com o meu rostinho bonito.

— Em minha defesa, você que esbarrou em mim. A culpa foi sua, não minha.

— Desculpa pela treta. Não queria que esse fuzuê todo rolasse.

— Desculpa por ter te chutado... Só desculpa.

— De boa. Só da próxima vez, troca o T pelo P.

Meu rosto ficou mais vermelho do que o espaguete que almocei, e tentando disfarçar, disse:

— Você ainda espera uma próxima, sério?

— De você espero muito mais do que só uma briga.

— Pera, algo além de uma briga?

— Sim, sim. Mas isso é assunto para outro dia, ou como meus amigos falam: "Meia noite eu te conto."

Sorri e concluí a conversa com algo que não mudaria:

— Olha, apesar de tudo, você é divertido. Eu gosto disso em você.

— Apesar da gente quase se matar?

— E eu adoro meu senso de humor.

Demonstrei um sorriso enquanto aceitava tudo aquilo. No entanto, algo aconteceu; Roger correu ao olhar o relógio.

Ri quase descontroladamente, mas isso cessou quando meu telefone tocou.

— Jin, cadê você, meu filho?

— Tive uns problemas na hora de sair.

— Não ligo se teve problemas com a rainha da Inglaterra. Vem para casa.

— Já estou indo. Pode ficar despreocupado; já chego aí.

Caminhando para casa, os pensamentos sobre Roger tornaram-se mais persistentes e instigantes. No entanto, junto a eles, surgiu um medo, manifestado por meio de uma lembrança:

— Você nunca será amado por ninguém. Ninguém vai te amar.


Amor SublimeOnde histórias criam vida. Descubra agora