O sol voltou a brilhar suavemente em meu quarto, inundando o ambiente com uma luz morna e acolhedora, sinalizando o início de mais um dia. Levantei-me devagar, como se prolongar o momento pudesse me proteger da inevitabilidade do que estava por vir. As primeiras horas da manhã foram gastas ajudando meu avô a ajeitar a casa. As tarefas eram simples—limpar o pó, varrer os cantos esquecidos—mas trouxeram uma paz temporária, uma pausa dos pensamentos que me assombravam. Eu sabia, no entanto, que mais tarde teria que enfrentar a inescapável conversa com Ren.
Enquanto encerava o chão da cozinha, minha mente se recusava a desligar completamente. As tarefas mecânicas, que deveriam me distrair, não conseguiam afastar a sombra daquela conversa. Às dez horas, dei um abraço apertado no meu avô, como se aquele gesto pudesse me fornecer a força que eu precisaria. Então, saí de casa, com o peso da decisão que havia tomado.
Com o celular em mãos, reli as últimas mensagens que troquei com Ren. Estava tentando, em vão, encontrar algo nas palavras que me indicasse como aquele encontro terminaria.
"Precisamos conversar..."
"Aconteceu algo? Fiz alguma coisa?"
"Amanhã na praça, pode me encontrar? É muito importante."
A única resposta de Ren foi um emoji de sorriso, típico dele—enigmático, sempre se esquivando de confrontos diretos. Eu o conhecia bem o suficiente para saber que algo estava por vir, mas não conseguia prever se seria uma tempestade ou uma calmaria.
Caminhei apressadamente em direção à praça, sentindo o coração acelerar com cada passo. Ao chegar, o lugar estava cheio de vida—pessoas correndo, famílias espalhadas em piqueniques, crianças rindo e brincando de esconde-esconde. O contraste entre aquela alegria e a tensão que eu carregava era quase insuportável. Escolhi um banco sob a sombra de uma árvore e me sentei, com os olhos varrendo o ambiente à procura de Ren.
Os minutos se arrastaram até que, finalmente, avistei sua moto. Ele estava vestido de terno preto impecável, um contraste gritante com o clima descontraído da praça. A gravata ajustada em seu pescoço parecia um sinal da seriedade que ele atribuía àquele encontro. Desembarcou da moto com sua habitual confiança, mas algo em seu olhar parecia diferente. Em suas mãos, ele carregava um buquê de flores, um gesto inesperado que fez meu coração bater mais forte, mas de uma maneira que eu não queria.
Ren se aproximou com um sorriso hesitante e me entregou o buquê. As flores eram vibrantes, cheias de vida, mas o perfume que emanavam apenas intensificou o peso do nó na minha garganta. Olhei para o buquê e depois para Ren, sentindo uma tempestade de emoções conflitantes.
Rejeitei o buquê com um gesto simples, balançando a cabeça. "Senta," pedi, minha voz mais fria do que eu pretendia. Ren obedeceu, colocando o buquê sobre suas pernas. Ele me olhava com expectativa, enquanto eu fixava meus olhos no horizonte, tentando organizar meus pensamentos.
— Então, gatinho, por que me chamou aqui? — começou Ren, sua voz suave, tentando amenizar a situação com seu charme habitual. — Você me deixou preocupado, pensei que tivesse acontecido algo...
Mas eu não estava disposto a brincar de ignorar a realidade. Meu tom saiu direto, mais duro do que eu pretendia.
— Eu quero terminar.
Os olhos de Ren se arregalaram em choque. Ele apertou o buquê com força, os papéis ao redor das flores se amassando sob a pressão de seus dedos.
— Que papo é esse, amor? — disse ele, tentando esboçar um sorriso nervoso. — Estamos tão bem, por que terminar agora?
— Não me chama assim — rebati, minha voz carregada de amargura. Ren se levantou abruptamente, sua postura relaxada desaparecendo num instante. Ele me encarou com uma intensidade que me fez estremecer, e antes que eu pudesse reagir, agarrou o colarinho da minha jaqueta.
— Que papo é esse? Esqueceu de tomar seus remédios?
As palavras dele eram como veneno, mas permaneci firme. Respirei fundo, deixando a raiva e a dor borbulharem dentro de mim antes de soltar a verdade que vinha sufocando há tanto tempo.
— Eu estou muito bem, Ren. Estou tão bem que finalmente lembrei de tudo... tudo o que éramos.
O rosto de Ren mudou instantaneamente. Vi o medo cintilar em seus olhos, uma confirmação silenciosa de tudo o que meu avô havia me contado. Ele deu um passo para trás, como se minhas palavras tivessem empurrado-o para uma queda livre.
— Você lembrou... — Ren tentou falar, mas um grito alto escapou da minha garganta, ecoando pela praça. O som reverberou pelo ar, chamando a atenção de todos ao redor. Ren congelou, o impacto das minhas palavras o mantendo em silêncio.
— Você me usou — continuei, minha voz agora baixa e cheia de uma raiva fria. — Eu estava vulnerável, confuso, quase morri, e você... você aproveitou disso. Fez de mim o seu brinquedo, me controlou como quis, enquanto eu acreditava nas suas mentiras. Aquele jantar, aquela noite... foi tudo uma farsa, como sempre foi.
Ren permaneceu em silêncio, suas mãos tremendo ao segurar o buquê. A expressão em seu rosto oscilava entre choque e culpa, como se finalmente estivesse começando a entender a profundidade do que havia feito.
— O que você sentiu, Ren? Tesão? Satisfação? — provoquei, observando-o abaixar a cabeça. — Você usa as pessoas como um remédio, para aliviar suas próprias falhas e inseguranças. Mas adivinha só? Eu fui sua última dose.
Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, a raiva tomou conta de mim. Desferi um tapa firme em seu rosto, seguido por um gesto de puro desprezo—cuspi em sua face.
Ren não disse mais nada. O silêncio que se instalou entre nós era denso, pesado, carregado de tudo o que nunca havia sido dito antes. Sabia, naquele momento, que aquele capítulo estava finalmente encerrado.
Levantei-me e parti, afastando-me daquela praça e deixando Ren para trás. Mas, no fundo, eu ainda não sabia—nem sequer imaginava—as sombras que estavam prestes a despencar calamitosamente sobre mim.
Dedico esse capitulo a cada um dos relacionamentos tóxicos manipulativos e problemáticos que já passaram por mim, além de dedicar as palavras do Jin para cada maldito ser que já me chamou de amor ou mesmo disse de forma mentirosa que me amava, odeio vocês
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Amor Sublime
RomanceAs vezes você pode encontrar a pessoa amada em muitos lugares, nas situações mais inesperadas, mas e isso que torna ele sublime, eu encontrei meu amor de uma única maneira, encontrei enquanto brigava com ele