Capítulo 22: Lembranças distorcidas

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Visão de Nyx

Observo meu amigo sendo conduzido pelas enfermeiras para longe, uma sensação de agonia toma conta de mim. Incessantemente questiono o que está acontecendo, mas as enfermeiras mantêm um silêncio enigmático, deixando-me à mercê da incerteza. Minhas ações posteriores seriam muito além do que eu havia experimentado até então.

O quarto agora está vazio, apenas eu e Ren permanecemos nele. Um silêncio pesado paira no ar, sendo quebrado apenas pelo eco de nossas respirações. Foi como se um impulso irrefreável tomasse conta de mim quando as primeiras palavras de Ren foram proferidas.

— Caramba, ele está mesmo mal — disse ele, sua voz emergindo dos lábios de maneira preocupada. No entanto, em vez de encontrar consolo em suas palavras, uma onda de fúria incontrolável se apoderou de mim. Sem pensar, meu punho se fechou e atingiu com firmeza a mandíbula de Ren, fazendo-o cair ao chão, mas ainda consciente.

O impacto ressoou no quarto, ecoando a tensão que se instalara. Agora, diante das consequências de minha explosão, encaro Ren caído, com a mão sobre a mandíbula, vendo algumas gotas de sangue caírem sobre o chão. Junto disso, um turbilhão de xingamentos toma conta da minha mente.

— Seu filho da puta, prepotente e arrogantinho de merda! Você ainda tem coragem de estar surpreso? Foi você quem o colocou ali! Se não tivesse socado ele, ainda diz que o ama. Amor, porra nenhuma! Se amasse, não teria traído ele, não teria brincado com os sentimentos dele.

Ele começou a se levantar na minha direção, pronto para me socar, no entanto antes que uma briga comece entre nós dois, Roger e o avô do Jin vieram nos separar.

—Se acalme rapaz, você não quer repetir o mesmo erro.

—Olha só, além de traidor e agressor de mulher, não entendo como Jin pode ter gostado de alguém como você.

—Você não sabe o que aconteceu, então não ouse me julgar.

Tudo foi se intensificando e depois de alguns xingamentos, cada um saiu do quarto. Ren foi tomar água, já eu, Sr. Takeshi e Roger ficamos na recepção, esperando alguma notícia do Jin.

Foram várias horas de angústia, esperando por qualquer informação. Finalmente, depois de horas angustiantes de espera na recepção do hospital, um médico se aproximou. Seu olhar sério e a maneira como segurava o prontuário indicavam que as notícias talvez não fossem as melhores.

— Vocês estão esperando por notícias do paciente Jin Shimada? — perguntou o médico.

Roger, Sr. Takeshi e eu nos levantamos simultaneamente, ansiosos por qualquer informação.

— Sim, somos amigos dele. Como ele está? — indagou Roger, com um tom de preocupação evidente em sua voz.

O médico suspirou antes de responder, escolhendo cuidadosamente suas palavras.

— Ele sofreu algumas lesões no cérebro, o que causou a convulsão, mas cuidamos disso. Ele está melhor, logo poderão vê-lo assim que acordar. O estado dele é estável no momento, mas precisamos monitorar sua recuperação de perto.

Um misto de alívio e culpa inundou meu ser. Agradeço ao médico e, finalmente, seguimos para ver Jin, esperando que pudéssemos ajudar de alguma forma em sua jornada de recuperação. A sala do Jin era um reflexo da luta que ele enfrentou, com máquinas e monitores ao seu redor. Ao nos aproximarmos, o avô de Jin nos cumprimentou com um olhar cansado, mas esperançoso.

— Ele ainda não acordou, mas os médicos estão otimistas. Vocês podem esperar aqui, caso queiram estar presentes quando ele acordar.

A sala ficou carregada de expectativa e ansiedade enquanto aguardávamos o retorno de Jin à consciência, conscientes de que a jornada de recuperação seria longa e desafiadora.

Roger estava sentado ao lado da cama, ele foi quem sentiu a aperto em sua mão e viu os olhos roxos de Jin se iluminarem

Visão do Jin

Ao recobrar a consciência naquela cama de hospital, mergulhei na penumbra que envolvia meus sentidos. Meu corpo parecia carregar o peso da incerteza, e minha mente ainda flutuava entre o nebuloso retorno à normalidade e a confusão acerca do que estivera distante. O silêncio noturno permeava o ambiente hospitalar, quebrado apenas pelo sutil zumbido dos equipamentos médicos, criando uma sinfonia de vida e cuidado ao meu redor.

Enquanto os contornos da realidade se delineavam lentamente, identifiquei as figuras familiares ao meu redor. Meu avô, emanando serenidade e preocupação em igual medida, permanecia ao meu lado. Seu sorriso afetuoso ecoava o suporte incondicional que sempre me oferecera. Sua presença, como uma âncora, ancorava-me à familiaridade em meio à confusão.

Ao lado dele, Nyx, minha amiga gótica de alma, apresentava uma aura mais caótica do que o habitual. Seu olhar enigmático agora carregava vestígios de preocupação e alívio simultâneo. A transformação em sua aparência despertava minha curiosidade, mas antes que eu pudesse formular uma pergunta, seus olhos encontraram os meus, transmitindo uma conexão que transcendia as palavras.

Enquanto tentava discernir os acontecimentos recentes, uma dor física permeava meu corpo, como se eu tivesse enfrentado uma provação intensa. Foi então que a consciência plena me atingiu - algo significativo ocorrera, algo que me conduzira a esse leito hospitalar e reunira essas figuras essenciais em minha vida.

Entre elas, estava Roger, meu melhor amigo e confidente. Sua mão segurava a minha com firmeza, mas algo em seu olhar indicava um alívio peculiar. Suas palavras, habitualmente descontraídas, carregavam agora um tom romântico, como se a experiência compartilhada tivesse moldado uma nova perspectiva.

— Olha parece que meu príncipe despertou — disse Roger, desviando-se de sua habitual irreverência.

— É bom te ver de novo, Farias — respondi, buscando entender a extensão do que acontecera.

Nesse momento, uma figura familiar adentrou o quarto. Brilhantes olhos azuis como o mar, cabelos em tom de carvalho. Era Ren, uma presença que, mesmo em meio à confusão, trouxe uma sensação de tranquilidade. No entanto, ao mencionar "Mozi," uma expressão confusa tomou conta de todos.

— Amigo, quem você tá chamando de Mozi? E o Roger? — indagou Nyx, dissipando a confusão no ambiente.

— Que? Não tô chamando meu mozinho, não é Ren? 

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