II - Desespero.

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– Oh, olá! – minha madrasta diz, entrando na cozinha.

Enquanto Cris, inspecionava o local, anotando tudo em sua prancheta. Nós duas olhamos para Eliz, meu coração aperta, o desespero me atinge, caso Cris visse alguma coisa errada, a menor que fosse, eu poderia ser castigada.

– Como você está se sentindo, Milena? – Cris me perguntou, olhando diretamente para mim, engulo seco, eu poderia dizer que mal e com muita fome mas não poderia.

– Eu... – olho de soslaio para Eliz, que guardava umas facas, em uma gaveta aleatória, tremo. – Eu estou muito bem e...

Meu estômago ronca, alto, me fazendo olhar para baixo, envergonhada.

– Você está comendo bem? Está com fome? – agora era vez de Cris olhar para minha madrasta.

– É que... Estou envergonhada em dizer que acabei de acordar...

– Está tudo bem, tenho um filho da sua idade e ele acorda mais tarde que isso. – nós duas rimos juntas, enquanto minha madrasta cruza os braços. – Pegue isso...

Cris abre o armário e me oferece um pacote de biscoitos, de chocolate com recheio de nata. Recuso, aquele biscoito era o preferido de Daniel, não poderia comer.

– Esse biscoito é do meu filho... – Eliz tenta tirar da mão de Cris, a mesma nega.

– O biscoito é para todos e lembre-se Eliz, o dinheiro que você usa para fazer essas grandes compras vem diretamente do cofre de Milena, lembre-se disso! – Cris abre o biscoito e come dois, com grosseria, ela me passa o pacote e me manda comer. Eu olho para Eliz, afim de pedir permissão, ela permite. Como, como se fosse a única coisa restante na terra.

– Você também quer leite, docinho? – Eliz perguntou, preparando um leite morno para mim, não digo nada, tinha medo de aceitar.

– Eu também quero. – Cris abriu o armário novamente, pegando mais um pacote de biscoito e um copo de vidro.

Eliz bufou, estressada.

Espero que hoje ela passe dos 50 quilos, Elizabete. Você não imagina o quanto eu desejo te ver presa, definhando na cadeia...

Escuto Cris sussurrar, uma lágrima solitária escapa por meus olhos, não passaria de hoje, com certeza eu seria castigada. Me desespero ao ver Cris abrir outro pacote de biscoito, ela me oferece mas eu finjo que não vejo, não posso comer, não posso aceitar.

– Ei, isso é meu! – Daniel aparece rápido, tirando o pacote da mão de Cris.

– Ou, isso lá é educação, mocinho? – Cris toma o pacote novamente, dando brecha para Daniel abrir o berreiro. Ele se joga no chão, se esperneia, grita e chora.

– Toma. – é a minha vez de pegar o pacote, entrego nas mãos do pequeno e rapidamente ele fica em silêncio. – Ficarei satisfeita apenas com o copo de leite, tia Cris. – sorrio, tentando passar confiança.

Cris aceita, sorrindo. Nós duas nos servimos com o leite morno, que estava uma delícia, por incrível que pareça, talvez fosse porque faz exatamente 08 anos desde a última vez que bebi.

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– Está na hora da pesagem, mocinha. – tia Cris aparece na porta do banheiro, me assustando.

– Ok, estou indo.

Sigo-a pelo corredor, parando em frente ao meus maiores pesadelos; a balança e, Eliz. Subo na balança e o suor frio escorre por meu corpo, os números ficam indecisos, variando entre 46 e 48 mas ...

– 52 quilos. Parabéns mocinha! Continue assim, quero te ver pesando 61 quilos, ein! – Cris me parabeniza, sorrio, um sorriso de alegria e despreocupação.

Olho para Eliz que também sorrir, tão despreocupada quanto eu. Minha barriga dói, como se algo estivesse contorcendo-a, peço licença e vou ao banheiro, sinto vontade de vomitar e evacuar ao mesmo tempo.

Merda, o que está acontecendo?

Coloco tudo que comi para fora, vomitando tudo. Choro desesperada, não acredito que ela fez de novo.

– Está tudo bem, Milena? – Cris bate na porta, tento responder mas não consigo, junto forças.

– Sim, tia. Só estou com um pouco de dor de barriga, nada de mais, acho que foi o leite morno...

Nesse momento eu não poderia mentir, quase todos possuem intolerância a lactose, eu não seria diferente, ou seria?

– Ok. Estou indo embora, caso precise de mim, já sabe o que fazer. – ela joga um papel por debaixo da porta e algumas barras de cereal, sorrio.

– Obrigado!

Digo por último, voltando ao meu foco principal. O banheiro fede, é como se algo morto estivesse saindo de dentro de mim. O suor frio escorre por meu corpo, fazendo o mesmo arrepiar, eu estava com calafrios. Laxante. Aquela maldita havia colocado laxante no meu copo, de novo! Como eu odeio isso, como eu odeio ela!

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