XXXVII - Vaga-lumes. Ciúmes e Confusão

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MIA-LENA

Ouvia os pingos de chuva batendo contra as folhas das árvores, o clima estava agradável mas a sensação dentro dessa sala não. Catleya e Ivan estavam sentados em uma ponta da enorme mesa, enquanto Edgar e eu nos sentamos na outra. Ivan nos olhava com uma carranca estampada na cara e, Catleya ainda falava sobre como era terrível aceitar um novo tratado com alguns lobos do sul... norte... oeste? Bem, eu não me lembrava, ela falava muito e muitas das vezes se aproximava demais de Edgar, okay, isso me causava arrepios, eu sentia-me enciumada, era como se agora eu pudesse ver e tocar o perigo que estava escrito em sua testa.

Cat, não podemos esquecer que quando precisamos, Lilion e sua alcateia nos acolheram. – Edgar se prontificou, notando o silêncio do seu irmão. E eu, só conseguia pensar em uma coisa...

CAT

Desde quando Edgar tinha tanta intimidade para chamá-la dessa forma? Ou eu nunca tivesse notado isso antes?
Engulo seco. Catleya era muito bonita, eu não poderia negar, sua beleza era estonteante e bem, eu já a vi sem roupas e o corpo dela com certeza estaria estampado em uma das revistas de moda, ao contrário de mim. Que, embora eu tenha conseguido engordar depois de tanto tempo, apenas nascendo outra vez conseguiria o corpo dela.

– E ela?

Acordei dos pensamentos, vendo que todos me olhavam, o que eu perdi?

– Acha que Lilion e sua Alcateia desconfiada iriam aceitar uma visitante recém transformada? – Catleya perguntou, coçando as têmporas. Eu detestava a maneira em que ela cobria o corpo, era como se estivesse se insinuando, meu sangue fervia.

– Ele não poderá achar nada, ela é minha companheira...

– Sua? Todos já sabem que essa menina é companheira dos dois...

O silêncio reinou, ensurdecedor, meu ouvido chiava e minha garganta secou. Pude ver Ivan mudar a cor de sua íris, tornando-se vermelho sangue, ele olhava diretamente para Catleya, como se a qualquer momento pudesse arrancar sua garganta.

– Quem disse isso? – Edgar indagou, agarrando minha coxa por debaixo da mesa.

Catleya suspirou, sentando-se, tirou um rolo de papel da bolsa e rolou sobre a mesa, fazendo o papel parar no meu colo. Edgar pegou o papel e franziu o cenho, eu tirei o papel de suas mãos. Sabia que o mesmo tinha dificuldade na leitura. Eu li o conteúdo escrito no papel, meu rosto esquentou.

– Espúria? – cuspi as palavras, mal pude notar que Ivan já estava ao nosso lado, tirando o papel de minhas mãos, ele leu rápido e amassou a folha, jogando-a longe.

– Eu pedi sigilo, como aqueles malditos anciãos fizeram isso? – Ivan rosnou, socando a mesa, me assustando – Merda, Edgar você tem que resolver isso...

– Não fui eu que inventei isso, estávamos muito bem aqui antes da sua volta...

Os dois rosnaram, Ivan tentou me puxar para cima, enquanto Edgar me puxou para baixo, me fazendo bater o joelho na ponta da mesa. Bufei estressada, enquanto Catleya olhava tudo com diversão nos olhos.

– Parem! – grito, os assustando – Eu não sou um saco de batatas, vocês estão me machucando, se resolvam sozinhos.

Me levanto, decidida a sair daquele ninho de moribundo, Edgar e Ivan conseguiam me estressar de uma forma inevitável. Antes que eu chegasse a porta, Catleya me parou, segurando firmemente meu braço e me olhando... Como se eu fosse seu pior inimigo.

– Eu tenho uma ideia para resolver isso, eu acompanho os dois até a Alcateia de Lilion, ele me conhece há mais tempo e...

– Você não vai, Catleya. – Edgar começou, coçando a nuca – Ele deixou claro que quer conhecê-la – apontou para mim –, Lilion nos conhece desde a infância, sabemos como ele é, não podemos causar um conflito por pouca coisa. Se é isso que ele quer, os daremos.

Os gêmeos suspiraram, ao mesmo tempo que cruzaram os braços acima do peito. Eles eram tão parecidos e ao mesmo tempo não.

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A chuva havia parado e o pôr do sol aparecia no horizonte, embelezando tudo que tocava, as flores coloridas brilhavam e eu podia ver alguns vaga-lumes sobrevoando as mesmas.

Respirei fundo ao notar a presença de Ivan, ele sentou ao meu lado, em silêncio mas eu sabia que não viria algo bom dessa aproximação, nunca tinha nada de bom vindo de Ivan.

– Você sabe o que está fazendo.

Ele começou, puxando um cigarro fino do bolso, o olhei sem emoção. Não sabia que o mesmo fumava.

– O que eu estou fazendo? – perguntei, retórica, não gostaria de saber sua resposta, sua voz me irritava.

– Você está tentando afastar meu irmão de mim ...

– Ah, claro que estou! – revirei os olhos – Sou eu que vivo dizendo o que Eddie precisa ou não fazer, como se ele fosse uma criança indefesa e burra!

– Você não entenderia, Edgar é diferente...

– Diferente como? Ele é esperto, sincero e paciente com todos, por isso eu creio que ele seja o favorito!

– Favorito? – riu – Nós não somos como os humanos, no nosso mundo não existe favoritismo.

Levanto, e tento me espreguiçar mas é inútil quando alguém cisma em me encarar. Suspiro.

– Você não enxerga isso porque está ocupado demais com a sua soberba. Se você deixasse-o participar da liderança veria o quanto Edgar é esperto.

Digo por fim, me afastando dele. Ivan não enxergava seu irmão, mesmo que os dois fossem parecidos e eu sei que embora Edgar não demonstrasse, ele sentia-se inseguro e triste em relação a isso e eu não posso aceitar que Ivan venha me culpar por erros que ele mesmo cometeu.

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CAPÍTULO SEM REVISÃO

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