VIII - Sonho...

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UMA SEMANA DEPOIS

Já fazem uma semana desde a minha chegada e eu não poderia estar mais feliz, aqui encontrei minha paz e estabilidade. Tudo que eu preciso tenho aqui, embora agora minha avó tenha que ficar quase o dia todo fora, o bom é que tenho Krucis para conversar e ele trouxe uma irmã para que nós pudéssemos conversar assuntos de mulheres como ele mesmo disse. Ela era legal mas eu sentia que tudo que eu falava, ela desdenhava ou julgava, como se apenas o que ela dizia era real e estava certo. Eu não gostei dela, admito e por isso pedi para Krucis não trazê-la mais e acho que ele entendeu errado, pois mudou e parou de falar comigo, não que ele ainda não fale, porém, de todas as palavras que ele dirigia a mim, todos se diziam respeito a fazenda e avisos que deveriam ser passados para a minha avó. Isso me deixou bem chateada, Krucis não entendeu o meu lado e eu também não estava disposta a contá-lo.

– Chegou, vó? – abri a porta, com um sorriso estonteante mas apenas vi Krucis, segurando umas sacolas.

– Batatas. – me empurrou e saiu andando pela sala.

Segui o mesmo até a cozinha, observando tudo que ele fazia, ficando curiosa, não tinha nada para fazer e o sinal de tevê estava péssimo.

– O que foi? – me olhou, fazendo cara feia – Não se preocupe, não irei roubar nada.

– O que? – foi minha vez de fazer cara feia.

– Acha que minha irmã não me contaria? Sei que você disse para ela que nós éramos coitados e que eu tinha cara de ladrão. Garanto que eu nunca roubei nada, muito menos tenho interesse.

Fiquei de boca aberta, eu nunca disse isso!

– Sua irmã é uma grande mentirosa...

– Está chamando minha irmã de mentirosa? – aproximou-se, rápido de mais.

– Estou, pois ela é, eu nunca falei isso de você, Krucis. Nunca.

Ele me preensou sobre a parede, me deixando assustada.

– Tem medo disso, Mia-lena? – zombou, engoli a seco.

– Não! – menti, sentindo minhas pernas tremerem

– Tem certeza? – me apertou ainda mais contra a parede

– Me solta, Krucis. Eu já disse que não falei nada, sua irmã é uma louca e eu não gostei dela, admito isso mas eu não falei mal sobre você ou melhor, sobre vocês! Pelo contrário, ela quem veio falar mal da minha avó e principalmente de mim, ela zombou a minha cicatriz e falou mal do meu cor...po...

Não aguento e desabo, abraçando meus joelhos e me entregando as lágrimas. Era muita pressão psicológica para alguém que mal sentia o coração. Krucis se abaixou, alisando meu cabelo, me fazendo olhá-lo.

– Me desculpa... – pediu, sentando-se ao meu lado – Acho que você não está mentindo May realmente não gosta da sua avó...– riu sem graça.

Me levantei, enxugando as lágrimas com meu casaco.

– Eu vou dormir. Tchau.

– Ei, não vai jantar? Sua avó já deve estar chegando.

– Não, perdi a fome. Obrigado.

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– O que aconteceu com você e o Krucis? – perguntou minha avó, enquanto me servia uma porção de purê de batata.

– Nada. – tentei fugir do assunto mas ela não iria desistir de descobrir.

– Aconteceu alguma coisa, ele não vem mais aqui, isso é estranho. – suspirou – Não me diga que ele trouxe aquela irmã biruta...

A olhei, chocada, minha avó sempre sabia de tudo, isso é incrível.

– Como a senhora soube?

– Imaginei. Aquela garota só traz problemas. – sentou-se a minha frente, comendo e então me olhou, séria – Gosto muito do Krucis, vi aquele menino crescer mas, Mia-lena não se aproxime tanto dele, não quero vê-la machucada. Entende?

– Sim, vó. Irei me afastar o máximo que eu puder. – sorri, mastigando um grande pedaço de carne bovina.

– Mia-lena, sexta-feira que vem precisarei dormir fora, você consegue ficar sozinha aqui? Se não conseguir, irei levá-la comigo.

Me surpreendi, ficar sozinha? Olhei para fora da janela, vendo a luz da lua minguante adentrando o pequeno espaço.

– Acho que sim, vó, não se preocupe com isso, Eliz já me deixou presa dentro de casa por vários dias. – ri, tentando parecer engraçada, mas apenas recebi uma careta em resposta.

– Não irei deixá-la por vários dias sozinha, talvez eu volte no domingo, pela manhã. Preciso resolver essa questão da energia, não podemos ficar no escuro, esses mosquitos acabam comigo. – coçou as têmporas, sorrindo.

Observo a cozinha, iluminada por poucas velas, realmente, não poderíamos ficar nesse estado, sem luz não dá para viver em um campo. Não mesmo.

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Gritos e uivos, todos em perfeita harmonia.
Um par de olhos amarelos olhavam com atenção para algo e de repente um par de olhos vermelhos também, os dois rosnavam um para o outro e depois pararam. Ficando em completo silêncio, a luz da lua cheia iluminou os mesmos, deixando o pêlo marrom escuro cintilando. Agora eles não eram mais bestas, eram humanos. Os mais belos que eu já vi mas não conseguia olhá-los por muito tempo, algo parecia me puxar para longe deles por mais que eu tentasse ficar e correr até eles, eu não podia. Uma coisa me barrou, um lobo negro com olhos âmbar quente, ele me cheirou e rosnou, ele parecia falar, no entanto, eu não entendia, tudo estava confuso demais e...

Despertei do sonho estranho, sentindo minha cabeça doer e muito, tirei meus lençóis do corpo e me assustei ao olhar para a cama, totalmente suja de areia e com cascalho, de onde isso veio? E principalmente penas de galinha por todo o meu quarto, o que era isso, quem jogou isso no meu quarto? Levantei da cama, irritada, se isso for uma brincadeira de Krucis eu acabo com ele!

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Dois CompanheirosOnde histórias criam vida. Descubra agora