IV - Um recomeço

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Você vai nos deixar, mana?

As crianças me agarraram pelo braço, me puxando, enquanto a mãe delas discutia com alguns policiais, minha avó também estava aqui e eu vi quando a mesma estapeou minha ex madrasta. Me afasto das crianças, usando força, um pouco bruta mas era preciso.

– Me deixem, vocês irão ficar bem!

Eu não sou mal, no entanto, sempre sofri pensando no bem deles e sempre que eles tinham uma chance de me ferir eles não pensavam duas vezes. Acabou, isso tudo acabou! Agora era a minha chance de recomeçar.

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– Dói? – a paramédica perguntou, ao pressionar uma compressa de gelo em um galo enorme na minha testa.

– Tudo. Em tudo dói e muito. – respondo, vendo a mesma chorar.

– Você sofreu demais, menina! Graças a Deus conseguimos chegar a tempo, ela poderia te matar!

– Obrigado...

Consigo dizer, sem animação. Eu estava nervosa e assustada, as pessoas estavam aglomeradas em frente ao meu portão, curiosas em saber o que acontecia. Hipocrisia! Tantas vezes que eu gritei pedindo por socorro e elas nunca tiveram a coragem de denunciar Eliz, foram tantos anos... Talvez fosse o medo, meu pai fora um bom delegado, todos respeitavam o mesmo e, tinham medo dele, algumas ainda acreditavam que ele estava vivo, mais uma das mentiras deploráveis da mulher algemada em minha frente.

– Eu não fiz nada! Conte, conte para eles, Mia-lena, diga que eu não fiz nada...

Ajoelhou-se ao meus pés, olhando diretamente em meu rosto, aquele olhar... Engulo seco, olho ao redor, todos me olhavam sérios.

– Ela fez. E poderia ter feito pior que isso. – Cris apareceu, segurando um papel, li rápido o que estava escrito, um atestado médico. – Ela envenenou a menina e a mim também! Aquele maldito café com leite tinha veneno!

Engasgo, veneno?! Olho para minha avó que tapa a boca, assustada. Vejo no momento em que a mesma desmaia, sendo amparada pelos médicos.

– Vó! – grito, tentando ir ao seu encontro mas sou barrada.

– Descanse, vai ficar tudo bem com ela. – a médica chorosa, pediu, um pouco séria.

Concordei, também, estava cansada demais, mal conseguia ficar de pé. Suspirei, contando os minutos, isso tudo era irreal, tudo, agora eu estava livre? Será?

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– Sente-se, querida. – minha avó pediu, fiz que sim com a cabeça e obedeço seu pedido.

Encarando cada pequeno pedaço da sala em L, o cheiro de incenso "sabor" limão invade meu nariz, me fazendo espirrar algumas vezes. Minha avó volta com um prato com comida, nunca vi tanto verde e ... Carne vermelha!

– Obrigado, vó! – peço, dando um leve beijo em sua bochecha.

– Você não mudou nada, continua sendo a mesma criança fofa de sempre, Mia-lena. – sorriu-me, me estendendo um copo com suco de manga.

Sorrio, satisfeita, nada se compara a comida de vó, estava uma delícia e fez meu estômago delirar, talvez agora eu pudesse dizer que tenho lombrigas.

– Durma cedo, está bom? – minha avó olhou para mim, enquanto penteava seus cabelos grisalhos – Amanhã iremos nos mudar...

– O que? Mas por que assim tão rápido? – perguntei, chocada.

Ela suspira, largando o pente sobre a escrivaninha de madeira escura.

– Minha querida, você não irá conseguir viver em paz nessa cidade. Tenha certeza disso, viu como aquelas pessoas te olhavam? Como se você fosse um bicho de sete cabeças – protestou, cruzando os braços –, não quero te ver sofrer, aqui não é o seu lugar. Entende?

– Sim...

Não, eu não entendia. Não queria me mudar, não agora e, para onde iríamos? Vovó nunca me contou sobre suas outras casas e sim, ela tinha muitas, espalhadas por mundo a fora, casas que eu acho nunca ter visto.

Me certifiquei que a porta e janelas do meu quarto estavam bem trancadas, tinha medo de voltar a ver Eliz e ela vir se vingar, embora eu ache isso bem difícil, ainda mais agora, ela estando presa e bem longe daqui. E, com quem meus ... as crianças estão? Sei que estão bem mas eu estou tão preocupada, já fazem uma semana desde que nos vimos e eu estou tão abalada fisicamente e mentalmente, posso estar ficando louca mas, sinto até falta das surras que levava. Embora, tia Cris pôde afirmar que isso faz parte do trauma que sofri e ela pode ter razão, minha cabeça estava uma loucura e para piorar, amanhã bem cedo eu deveria estar acordada e com a mala pronta. Eu não tenho nem roupas para levar, o que minha avó pensa que está fazendo?

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