Dois Companheiros

XXXIV -

Anthrodynia

Embora a jovem de cabelos encaracolados agora estivesse mais alegre e mais livre para voltar a fazer o que quisesse, seus pensamentos conturbados não deixavam-na espairecer, mesmo que estivesse em um lugar lindo e mágico. Ela sabia que do lado de fora, as pessoas ainda olhavam para ela como se ela fosse uma intrusa, principalmente após o ocorrido que abalou - não só a ela - todos. Mia-lena ainda estava assustada e mantinha-se em alerta máximo, ainda mais agora que seu coração acelerava a cada instante como se ansiasse por algo - esse que a jovem não fazia a menor ideia do que fosse. E, claro, ela culpava o trauma.

Ela apenas não esperava que um pouco longe dali, um lindo lobo de pelagem escura marchava para encontrá-la, com fome. Mia esperava por algo que não fazia ideia do que era e embora Edgar a ajudasse a esquecer muitas das coisas que pensara, ainda assim, ela sabia que faltava algo. Seu corpo estremecia cada vez que ouvia falarem sobre ele, o cruel e frio Alfa. Talvez, a jovem de olhos castanhos escuros estivesse assustada com toda a história sobre ele ou, talvez ela estivesse animada para conhecê-lo, enfim vê-lo e de fato, ela não se importava caso ele a desprezasse, não dessa vez. Ela queria conversar com Edgar sobre isso, no entanto, sempre que tocava no nome do outro, Edgar ficava chateado e confuso. Não poderíamos esquecer que ele também não entendia nada do que estava acontecendo, seu corpo doía como se ossos estivessem sendo quebrados, ele estava tenso. Amedrontado. As palavras de Catleya ainda faziam ecos em sua cabeça, nutrindo um receio incapaz de ser resolvido, não enquanto ele não estivesse frente a frente com seu irmão.

Mia-lena o observava limpar um ganso, pois o mesmo havia dito que prepararia para o almoço, porém, Edgar estava há tanto tempo limpando a ave que o almoço ficou para o jantar.
A jovem suspirou pesadamente, sentindo a brisa gélida assoprar seus cabelos que estavam desarrumados naquele dia, ela suspirou mais uma vez, afim de se livrar dos pensamentos melancólicos. Tudo naquele dia cheirava a melancolia com uma mistura de terra molhada, iria chover.

- Pronto, apenas preciso temperar e após isso iremos almoçar... - Edgar olhou ao redor, coçando a nuca.

Mia-lena sorriu.

- É... - coçou a garganta - Talvez possamos jantar, não é mesmo? - ele zombou, largando o machado em um canto qualquer, enquanto limpava o rosto que escorria suor.

Mia-lena piscou diversas vezes, parada, fitando o corpo do homem, ele era musculoso mas não de forma exagerada, seus gominhos eram perfeitamente alinhados e sua pele brilhava em contraste com a luz da lua. Seus cabelos molhados estavam presos em sua testa, deixando-o particularmente atraente. E a covinha em suas costas deixava seu traseiro redondo bastante atraente.
A garota corou ao notar o que pensara. Edgar, claro, notou e não poderia ficar calado vendo aquilo, o sorriso presunçoso estava ali, colado em seus lábios.

- Você quer tocar? - perguntou ele, aproximando-se, Mia-lena virou o rosto, tentando fugir de seus olhos brincalhões.

- Não...

Disse ela, no entanto, os dois sabiam que não era verdade. Edgar segurou em suas mãos, fazendo-a olhá-lo enquanto ele mesmo a fazia deslizar as mãos sobre seu abdômen. Mia suspirou, surpresa, olhando para ele em uma mistura de confusão e súplica. Os dois se beijaram, um beijo profundo e eletrizante, não conseguiam parar, embora soubessem que as pessoas poderiam olhá-los.

- Edgar... - Mia-lena tentou empurrá-lo. - Estão nos olhando ... - sussurrou envergonhada.

Edgar beijou sua testa, dando atenção ao seu pescoço em seguida, distribuindo beijos molhados que faziam a pele da jovem estremecer.

- Não ligo, poderei fazer o que quiser com você aqui - a beijou -, somos companheiros, minha lobinha...

Ela sorriu, empurrando-o novamente.

- Chega - brincou com seus cabelos úmidos -, você precisa de um banho, está fedendo a sangue, vamos entrar, eu preparo um macarrão para a gente, que tal?

Edgar bufou, deixando-a descer do tronco em que estava sentada, deu de ombros, talvez o que ele quisesse não conseguiria tão cedo.

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- EDGAR!

A morena gritou, sentindo sua garganta arder, ela acabara de escorregar no limo e cair, sujando toda a sua roupa, enquanto Edgar ria a dez metros de distância. Ela se levantou, tentando limpar a roupa, falhando, olhou para cima, semicerrando os olhos, sentindo seu coração acelerar. Iria alcançá-lo e fazê-lo pagar pelo que fez com sua roupa recém lavada.

Puxou todo o ar que conseguia, inflando os pulmões e preparou-se para correr. Ela disparou, em uma velocidade anormal, a única coisa que ela queria era alcançá-lo. Edgar por outro lado estava contente por conseguir fazê-la atiçar seu lado lobo e vendo-a com sangue nos olhos, lembrou da primeira vez em que caçou na infância. Ele engoliu seco ao perceber que ali, a presa de Mia era ... Ele.

- Não me pega... - ele desviou de suas mãos, as unhas dela estavam enormes e bastante afiadas, eram negras e pontiagudas, havia tempos que ele não via uma garra como aquela.

-"Isso deve doer tanto..." inspirou, puxando o ar, tentando se concentrar em fugir. Ele era mais rápido do que ela, muito mais mas mesmo assim, a jovem não desistia e sempre o alcançava.

- AH - Edgar gritou ao olhar para trás e notar que Mia estava a centímetros de distância, ele forçou os pés a correrem mais rápido e afastou-se o suficiente para esconder-se. Prendeu a respiração ao vê-la passar rápido na sua frente. Ele riu quando ela estava longe, embora ela fosse rápida, ainda tinha muito a aprender, principalmente a arte de farejar. Edgar olhou quando ela virou, entrando mais ao fundo da floresta e gargalhou mas logo parou, um cheiro conhecido impregnou suas narinas e suas pupilas dilataram, ele rosnou apreensivo. . .

Mia-lena corria como se aquilo custasse sua vida, havia o perdido de vista mas conseguia sentir o seu cheiro. Ela viu, um pouco a sua frente, Edgar transformado e sorriu maléfica ao notar que o mesmo estava distraído de costas para ela.

"- Cansou?" Pensou ela antes de avançar nele e o derrubar.

Edgar rosnou, levantando-se tão rápido que era assustador. Mia-lena puxou seus pêlos, fazendo-o urrar, ele aproximou-se dela, mostrando os dentes e aí, a mais baixa percebeu que aquele não era Edgar, embora seus cheiros fossem parecidos, os olhos dele eram mais vermelhos, seus pêlos mais escuros e sua altura era bem maior do que a de Edgar, pelo que ela lembrava.

- Edgar... - sussurrou assustada.

Porém, ao olhar bem para a fera em sua frente, ela gelou, uma onda de calor consumiu seu corpo, fazendo-o estremecer, sua boca secou e seus olhos arregalaram.

- Minha

O lobo disse, aproximando-se mas antes que conseguisse tocá-la, foi interrompido por Edgar.

- Bem-vindo a casa, maninho.

A fera tomou a forma humana, assustando Mia-lena, os dois eram muito parecidos, idênticos. Tudo isso era confuso demais para ela, sua cabeça girava quando ela agarrou o braço de Edgar e desmaiou.

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CAPÍTULO SEM REVISÃO

Anthrodynia =
é um estado de exaustão que se pode sentir quando se percebe o quão horríveis as pessoas podem ser umas com as outras.