XXXVII - Exílio

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Ele escutava tudo que sua amada dizia, calado mas a medida em que ela contava tudo o que passara nos últimos dias, seu coração acelerava. Ele sentia-se impotente, como se ele e o nada fossem a mesma coisa. Como puderam mexer com sua garota? Ele desejava matá-las, seu lobo uivava em desespero, principalmente ao notar o medo que ela sentia ao contar tudo aquilo. A forma em que ela apertava os dedos, estralando os mesmos, a forma em que olhava para os lados como se estivessem ouvindo o que ela dizia, a forma em que seus lábios tremiam e em como eles estavam rachados, secos e machucados. Tudo isso o matava por dentro.

– Elas entraram aqui?

Ele perguntou, cerrando os punhos, nesse momento já não conseguia segurar a raiva que o consumia.

– Sim...

Isso era tudo, aquela era sua toca, ninguém tinha permissão de estar ali a não ser ele, seu irmão e agora ela. Ninguém deveria entrar ali, era uma regra! Todos sabiam disso. Ele saiu do quarto as pressas, murrando a porta de entrada. Uivou tão alto que todos se assustaram e alguns correram para suas casas. A essa altura do tempo, as agressoras sabiam o que aconteceria, elas sabiam que erraram ao tocar na fêmea dele.

– Não, por favor... – Mia-lena conseguiu alcançá-lo e tentou fazer com que ele parasse de andar, se colocando em sua frente. – Edgar, por favor não faça isso...

Ela olhou em seus olhos, eles não estavam mais como antes, estavam escuros, quase negros e um arrepio percorreu todo seu corpo. A jovem sabia que teria que impedi-lo ou as coisas sairiam do controle, ela aceitaria ser odiada por um, ou três mas por todos? Isso seria impossível, ela não queria isso, não queria mais ser um estorvo.

Saía da minha frente, Mia. – ele diz mas era como se não fosse ele, a voz estava grossa e uivante.

– Por favor, não faça isso, você vai machucá-las...

– E você não percebeu o que elas fizeram com você? Não percebeu? – ele se aproximou, olhando fixamente para a mesma, a deixando assustada. Agora ele tinha o mesmo olhar de Krucis. Um olhar distante e maldoso.

– Eu sei, eu sei! Se você fizer isso, o que os outros vão pensar? – ela o segurou, notando que ele estava se afastando dela.

Não me importo com o que os outros irão pensar. Você é minha e ninguém além de mim deveria te tocar! Se alguém se opor contra o que eu irei fazer, não me preocupo, eu mato todos... – rosnou, transformando-se em um lobo grande e cinzento.

Mia-lena sabia que não tinha mais nada a se fazer, ela não deveria ter contado, não deveria. No entanto, ela não iria desistir, não deixaria que ele fizesse aquilo, sabia que Edgar teria problemas futuramente, ela não permitiria. Desceu a colina correndo, sem medo de tropeçar e cair, a adrenalina era tanta que ela mal conseguia escutar as pessoas em volta. Só a voz de Edgar captava sua atenção, ela o viu ao longe, próximo de uma de suas agressoras, a mulher estava sentada, segurando algo em mãos, ao se aproximar Mia-lena assustou-se. Ela segurava um bebê, um bebê peludo e muito fofo.

– Edgar... – Mia-lena cutucou o braço do homem enraivecido parado ao seu lado.

Porém, ele não deu atenção, olhava friamente para a mulher sentada a sua frente.

Amor...

Mia-lena sussurrou, enfim conseguindo chamar sua atenção. O homem olhou para ela, confuso, porém alegre. Ela não costumava chamá-lo de amor.

Por favor, não faça isso, por mim... – ela inspirou, tentando se convencer de que ele não faria aquilo, embora todas aquelas mulheres merecessem.

– O que aconteceu? Por que vocês estão aqui, parados em frente a minha toca? – um homem carregando dois baldes cheios de água perguntou, curioso mas ao notar sua companheira sentada, em posição de derrota, ele empalideceu.

– Sua companheira estava dentro da minha toca! – Edgar iniciou – E ela ousou tocar na minha companheira! Ela desrespeitou uma das únicas regras que todos vocês tem por aqui e eu pergunto agora, qual foi o motivo? Vocês acham que por Ivan estar longe isso tudo virou uma baderna? Onde vocês fazem o que querem e com querem sem pensar nas consequências futuras? Olhe! – Edgar puxou a jovem mais nova, fazendo-a ficar de frente para o homem – O braço dela está todo ferido, ela é uma recém transformada! Porra, e se ela não conseguisse se regenerar? E se eu não chegasse a tempo?

Os crinos olhavam para tudo aquilo com pena e desprezo, geralmente aquilo não acontecia, principalmente com uma Luna.

– Eu poderia matá-las, todas vocês! Uma por uma e faria com um imenso prazer, no entanto, a minha companheira mesmo depois de tudo que passou decidiu que vocês deveriam ser poupadas. Ela sim sabe como uma Alcateia funciona, mesmo nunca estando em uma antes! – o Beta rosnou alto, deixando todos assustados – Porém, não pensem que irão escapar da minha fúria, por um erro de três pessoas, outras irão pagar. Illa, Eva e Coral, vocês estão no exílio.

Todos se assustaram ao ouvir isso, faziam anos que não escutavam essa palavra. O burburinho começou, enquanto as mulheres pediam uma segunda chance.

– Mas senhor... Temos filhotes! – o homem, companheiro de Illa fala, tentando segurar as lágrimas.

– Hector, eu permito que você pense no que é melhor para você e sua pequena família mas ela – apontou para Illa –, não ficará aqui.

E com isso, retirou-se, deixando uma Mia-lena acuada para trás, ela sentia-se mal mas algo dentro dela sentia orgulho. Agora ela sabia que tinha alguém para defendê-la com unhas e dentes – literalmente.

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CAPÍTULO SEM REVISÃO

Dois CompanheirosOnde histórias criam vida. Descubra agora