XII - O escuro...

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Eu estava assustada, andava de um lado para o outro, a dor na minha barriga havia passado mas o sangue continuou, eu coloquei açúcar e pó de café para tentar estancar o sangue mas ele persistia em escorrer. Meus olhos estavam secos de tanto que chorei, eu não poderia esperar mais, eu poderia morrer! Aproveitei que Krucis havia sumido e decidi que era hora de telefonar para minha avó, disquei seu número no telefone e depois de três bips, ela atendeu, um pouco nervosa.

- Mia-lena? Aconteceu alguma coisa?

- Vó... - eu funguei, sentindo fraqueza nas pernas, eu queria desmaiar, minha avó se desesperou do outro lado, eu conseguia ouvi-la gritar com o caseiro.

- O QUE FOI?

Gritou ela, me deixando ainda mais assustada.

- Eu tô sangrando, eu vou morrer, Vó....

Disse, rápido demais. Um silêncio do outro lado da linha.

- Mia-lena - ouvi a mesma respirar fundo -, onde exatamente você está sangrando?

- Pela vagina . . . - falei, envergonhada.

Risos e mais risos do outro lado da minha, havia percebido que minha avó e o caseiro não eram mais os únicos dentro daquela caminhonete.

- Mia-lena, faça o que a vovó irá dizer agora. Pegue uma caderneta e um lápis, minha querida.

Deixei o telefone sobre o gancho e fui atrás da caderneta e o lápis, achei o mesmo e disse que ela poderia terminar sua frase.

- Isso que você tem se chama menstruação, querida...

Me envergonho ainda mais, não acredito que isso seja menstruação, eu já havia escutado sobre mas não sabia que pudesse sangrar tanto. Engulo seco, fiz um escândalo atoa.

- Vá ao banheiro e procure nas gavetas por absorventes - anotei na caderneta -, eu sabia que isso poderia acontecer, então deixei preparado para você. Se você estiver sentindo dor, procure também nas gavetas do banheiro, por uma caixinha vermelha, lá tem remédios para cólica e dor de cabeça. Tome dois para cólica e um dipirona para dor de cabeça, caso não passe, você pode me ligar novamente, ok?

- Sim, vovó, me desculpe por ligar por essa baboseira...

Tive vontade de chorar novamente.

- Minha querida, isso não é baboseira, agora você se tornou uma mulher e principalmente, agora seu corpo está saudável, graças a Deus! Minha menina cresceu! - eu ouvi ela chorar do outro lado, enquanto vozes desconhecidas me parabenizaram. - Minha bebê se tornou uma mocinha! Quando a vovó retornar, irei te levar chocolate, alguns doces e claro, mais absorventes!

Sorri, embora minhas bochechas estivessem quentes. Anotei tudo que minha avó falava na caderneta e fui fazer a principal coisa para mim. Tomar um banho, eu precisava de um banho quente mas a falta de energia me impediu de fazer isso, decidi tomar banho no lado de fora, o solzinho que restara deveria ter esquentado um pouquinho a água. Me despi e entrei embaixo da água, lavando bem entre as pernas, uma parte do sangue estava seca, enquanto a outra escorria junto com a água corrente. Fechei os olhos ao molhar o cabelo e minutos depois senti que estava sendo observada.

- AH! - gritei assustada, tentando tapar meus seios e minha intimidade.

Krucis estava ali, sério o suficiente para me assustar. De onde ele surgiu? E como eu não notei sua presença?

- Krucis, saía já daqui! - ordenei, me enrolando na toalha, Krucis me olhou, seus olhos brilhavam e eu notei ali, a malícia, engoli seco.

- Você está bem? Eu vi sangue. - perguntou-me, a voz mais rouca do que o normal.

- Eu estava melhor antes de um certo alguém me observar pelada! Que desrespeito, Krucis. - reviro meus olhos, sentindo vergonha.

- Apenas tive que me certificar que você não estava machucada. - sorriu-me, tinha a leve impressão de que seus dentes caninos estavam mais afiados do que o normal mas afastei esses pensamentos.

- Eu estou bem, já que é isso que você precisava ouvir, agora me dá licença. - pedi ao tentar passar por ele mas o mesmo não queria me deixar passar, estava parado como uma porta, impossibilitando a minha passagem - Krucis!

Ele saiu da minha frente mas não saiu do meu pé, me seguiu até a porta do meu quarto, apenas não entrou pois fechei a porta em sua cara, ouvindo o mesmo reclamar. Me certifiquei que ele não iria conseguir me espionar e me troquei, vestindo o absorvente, com dificuldade mas não havia mais resquício de sangue algum.

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- O que você quer, Krucis? - perguntei, ao vê-lo parado, ainda em frente a minha porta, ele sorriu, um sorriso divertido.

- Você está bem? - aproximou-se, tocando em meu corpo, bati em sua mão.

- Ei! Me respeita. - pedi, me afastando dele - Pare de me seguir, Krucis.

Parei de andar, sendo praticamente atropelada por ele.

- Krucis!

Ele se desculpou, sentei sobre a mesa e pensei em que preparar para o jantar, pois já estava escurecendo. Krucis estava do outro lado, me encarando, o cara não piscava. Estava me estressando de uma maneira surreal.

- Perdeu a bunda na minha cara, Krucis? - perguntei, ficando brava, ele riu, se retirando da cozinha.

Bufei, me levantando, quase caindo ao notar novamente a presença de Krucis.

- Esqueci de avisar, irei buscar as lamparinas em casa, retorno em menos de 02 horas. Não saía daqui de jeito nenhum! - ordenou a última parte, sua voz estava sombria.

Ele ao todo estava sombrio, me dava medo. De repente, ele desapareceu. Tratei de preparar a comida o mais rápido possível, pois já eram 17(05) horas da tarde, em breve seria noite e pelo visto, Krucis retornaria quase as 19(07) da noite. Esquentei o feijão e o arroz e algumas porções de batata-frita com queijo e por fim um frango grelhado, nada do que minha avó preparou e deixou para mim, ela havia deixado sopa e bem, eu não gostava muito de sopas.

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Krucis estava atrasado, já eram quase nove da noite e ele ainda não havia aparecido, eu estava dentro do meu quarto, trancafiada e com medo, a floresta estava agitada e eu escutava muito barulho de galho quebrando, o vento forte e uivos. Merda, lobos realmente existiam aqui? Ou seriam coiotes, raposas? Esses bichos uivavam? Merda, Krucis, onde você está? Estava de costas para a janela, segurando uma vela na mão, estava com a luz fraca pois já estava chegando ao fim, quando me virei, dando de cara com dois olhos vermelhos, sendo dominados por aquele breu horripilante da floresta.

Praticamente me joguei contra o chão, aterrorizada, orando para que Krucis voltasse logo e me salvasse, mesmo que ele fosse um tarado maníaco, pelo menos com ele eu me sentia mais segura. Um uivo alto e agonizante foi escutado, dessa vez mais próximo da minha janela, me escondi embaixo da cama, tremia e chorava, e para piorar a maldita cólica voltou. Eu não sabia se estava chorando por causa da dor ou por causa do medo mas com certeza o escuro me assombraria para sempre.

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