XXVI - O Alfa está a solta

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Ele vaga pela floresta, os olhos vermelhos em fúria, seu único objetivo naquele momento era matar algo. Qualquer coisa que estivesse em seu alcance e os animais ao redor sabiam disso e mantinham-se escondidos, sob as copas das árvores, buracos no solo, sob as pedras, rios ... Todos sabiam que ele estava irado, não conseguia se controlar mas qual era o motivo?

Um Alfa não costumava ser tão descontrolado, não quando está irritado e era assim que ele se sentia, irritado. O motivo? A jovem cujo os olhos lembravam terra úmida e o cheiro era cítrico e ao mesmo tempo adocicado, ele enlouquecia ao saber que ela estava com seu irmão.

– Meu irmão, porra! Ele é o meu irmão!

Ele rosnou, ao derrubar uma árvore, como se fosse a coisa mais natural que houvera no mundo. Atravessou os arames enfarpados, saltando pelos mesmos, sua pata fincava no chão, arranhando o mesmo com suas unhas grandes e afiadas. Iria caçar qualquer coisa que encontrasse, mesmo a menor que fosse e ao avistar uma gazela pastando a metros de distância, ele havia encontrado seu alvo.

A gazela não havia percebido sua presença, ao seu lado estavam seus dois filhotes, e um deles era raro; albino. A chance de nascimento de um daquela cor era de um em um milhão. Os filhotes brincavam entre si, quando um ficou assustado, balançando suas orelhas, sua mãe percebera. Olhou exatamente na direção do alfa e se arrepiou, ela viu sua morte naqueles olhos vermelhos.

– corram meus filhotes e se escondam ...

Os filhotes obedeceram e a mãe foi atrás, afim de se livrar da morte mas era tarde, em poucos segundos o alfa estava ao seu lado, quase alcançando.

– o Alfa está a solta...

Dissera ela, antes de ter seu pescoço perfurado pelos fortes e afiados caninos, o Alfa apertou a mandíbula, sentindo o gosto saboroso e inebriante do sangue, era doce. Mas ao olhar para o lado, sua raiva foi esvaindo, ele notou os filhotes, olhando-o de maneira assustada. E um flash de memória o atingiu, corroendo-o com a culpa.

– Caçar por prazer de matar é a maior covardia que um ser como nós assume diante de nossa natureza. Principalmente ao executar o animal sem qualquer chance de defesa, devemos respeitar nossa natureza, crianças, não somos monstros, embora sejamos semelhantes a um...

As palavras de seu falecido pai o atingiu, deixando-o frustrado e extremamente triste. Ele retornou a sua forma humana, aproximando-se aos filhotes, eles tentaram fugir mas foram alcançados, o Alfa os pegou pela pele frágil atrás do pescoço e os levantou, sorrindo amargurado.

– Me desculpem por isso, não foi minha intenção. – disse, sorrindo docemente.

Virou-se, olhando para o corpo sem vida daquilo que um dia fora uma boa mãe. Suspirou, pegando-a pelas patas e arrastando-a para fora da mansidão da floresta. Mesmo triste com o que tivera feito, ele não poderia desperdiça-la, não poderia desperdiçar a carne.

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– Alfa? O que é isso...

As pessoas pararam para olhá-lo, algumas sorriam calorosamente mas ao verem do que se tratava, os sorrisos sumiram de seus rostos.

– Ele fez novamente...

Algumas sussurram, chateadas. Não era a primeira vez que o Alfa fazia algo daquilo mas daquela vez, as coisas estavam diferentes.

– Pegue-os e cuide deles, serão meus. – entregou os filhotes para Catleya – Certifique-se que ninguém irá tocá-los, ou irei matar qualquer um que encoste neles. – por fim, rosnou alto.

– Sim, Alfa. Farei isso.

Ele se afastou, andando desengonçado, como se estivesse tonto. Seu corpo estava mole e sua boca parecia ter perdido a cor. Antes que pudesse entrar em sua toca foi parado por Catleya.

– Alfa, precisamos conversar sobre alguns problemas ao norte e precisamos do Edgar ...

– Conversamos mais tarde.

Ele respondeu, irritado. Adentrou sua sala e bateu a porta, fazendo as paredes tremerem com o baque. Sentou-se sobre a sua poltrona e afundou-se contra a mesma, adormecendo no mesmo instante.

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