XXXVIII - Flores para você

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O vento balançava os lençóis estendidos sobre um fino fio de aço, algumas mulheres conversavam enquanto lavavam suas roupas, outras se divertiam na água, enquanto duas mulheres em específico discutiam a respeito de Mia-lena.

– Ela não é digna. – expôs Anaís, limpando um xerelete, retirando os seus olhos e em seguida os comendo.

– Você acha que eles me escutaram? São teimosos, antes apenas Edgar perseguia aquela estranha mas agora, até mesmo Ivan a persegue... – Catleya rebateu, tentando se controlar e cortar alguns legumes que estavam caídos em seu colo.

– Ivan? – Anaís engoliu seco, não acreditava que Ivan também pudesse gostar da recém chegada, ele nunca demonstrou interesse em alguém antes.

– Até mesmo Ivan! Mas não se preocupe, eu tenho um plano e garanto que aquela vira-lata não conseguirá se tornar peeira! Ou eu não me chamo Catleya.

As duas sorriram, embora o sorriso de Catleya fosse mais medonho e assustador, ela tinha ódio nos olhos. Era certo, Catleya odiava Mia-lena mesmo sem ter tentado conversar com a jovem, as duas nunca seriam amigas, era o instinto, Catleya sentia-se traída, ela sempre gostara de Edgar, mesmo que ele nunca tenha retribuído.

   Embora Catleya e Anaís demonstrassem odiar Mia-Lena, a jovem de cabelos escuros e sobrancelhas grossas parecia não se importar. Inclusive, nesse delicado momento ela se encontrava perdida em pensamentos questionáveis a metros de distancia dali. Parada em frente ao lago de cor verde - não tão escuro, nem tão claro. A jovem não conseguia se decidir, gostaria de nadar mas não queria sujar sua única peça de roupa limpa daquele dia, e então, ela olhou ao redor e suspirou.

"Estou sozinha, que mal tem?"

Pensou ela, certificando-se que realmente estava sozinha naquele lugar, respirou fundo ao retirar o vestido e o jogou de lado, não deixando-o largado pelo chão, como de costume. Molhou primeiro os dedos dos pés, depois decidiu molhar-se por inteiro, mergulhou fundo, podendo tocar o chão rochoso, peixes nadaram para longe, assustados. Mia-Lena emergiu cuspindo água, rindo em seguida, há muito tempo ela não sentia esse sentimento de paz... O que ela não imaginava era ser observada, Ivan estava no alto de uma rocha, sentado em sua forma lupina, vigiando-a, e inquieto com sua nudez, mesmo longe ele podia enxergar cada mínimo detalhe. Mas ele não esperava que também pudesse estar sendo observado, Edgar estava ali e aproximou-se, cruzando os braços.

- Você não cansa de ser assim? - perguntou ele, assustando seu irmão.

- O que faz aqui? - Ivan queixou-se ao notar seu irmão sentando-se ao seu lado. Edgar ficou em silêncio e suspirou, olhando na mesma direção que antes seu querido irmão olhava.

– Por que você age como se não se importasse com ela? – Edgar o olhou, tentando entender o que passava pela cabeça do mais novo – Para no fim das contas, segui-la por todo lugar, eu vejo tudo Ivan, embora as vezes eu prefira não me importar mas ... Isso anda me incomodando bastante. Ela também é minha companheira, droga!

A última frase foi dita no mais baixo tom, Edgar compreendia a necessidade do irmão de estar sempre ao lado dela, no entanto, não entendia a forma que ele a tratava, como se ela fosse um nada.
Ivan permanece calado, olhando para frente, tentando fugir das acusações do seu irmão, mesmo que lá no fundo ele concordasse.

– Eu não sei o que há comigo, isso é estranho! Essa porra mexe comigo de uma maneira incontrolável, eu jamais imaginei me sentir assim...

– Houve a queimação dentro do peito? – perguntou Edgar, passando as mãos nos ombros do irmão.

Ivan suspirou pesadamente – Sim. Creio que pior do que na vez que nosso pai me concebeu o título de Alfa.

Edgar assentiu, envergonhado. Ele ainda tinha esperanças de que Mia fosse unicamente dele.

– Merda, Ivan. – praguejou baixo – Nós realmente fomos abençoados com ela, uma única companheira para nós dois!

– Abençoados? Eu chamo isso de maldição! – Ivan riu, tristonho – Me desculpe por destratá-lo, eu apenas estava confuso e, quando decidi sumir por um tempo, eu na verdade estava fugindo dos meus sentimentos...

– Você já a conhecia?

– Sim...

– Inaginei, eu consegui sentir seu cheiro diversas vezes mas achei que pudesse ser a nossa ligação de gêmeos. Pelo menos você sempre esteve lá, por ela...

– Não, eu fugi. Me senti fraco, assustado como uma raposa fugindo do fogo. Fui egoísta, eu queria ela apenas para mim e, se eu fosse tão curioso e teimoso como você, teria sido o primeiro a encontrá-la e acredite, eu teria fugido com ela...

Os dois riram, brincando um com o outro.

– Mas Edgar, o meu maior medo não foi perdê-la para você, na verdade foi o contrário. Você é a minha única família. Fiquei apavorado ao pensar que poderíamos nos afastar por causa de uma fêmea – suspirou –, no final das contas, nos afastamos por minha causa.

– Não se preocupe, vamos dar um jeito.

Os dois se abraçaram e levantaram rapidamente ao olhar em direção ao lago e não encontrarem a morena. Se entreolharam e saíram as pressas, caçando-a com a ajuda do olfato apurado.

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– Flores para você, minha bela jovem lobinha... – um homem alto e musculoso estendeu sua mão, ofertando para Mia-lena um lindo e delicado buquê, a humana corou, principalmente ao notar os olhares que recebiam.

– O-obrigado... – gaguejou, tentando controlar a vergonha que atingiu seu corpo.

Esse homem conseguiu deixá-la desnorteada, o cheiro dele era atrativo e chamava a atenção de algo preso dentro dela.

– Alfa Lilion! – ela se virou, vendo Ivan e Edgar lado a lado, seu coração acelerou e seu desejo era correr até os gêmeos e abraçá-los mas suas pernas estavam moles demais.

– Que honra termos sua presença e aliás, o que faz aqui esbanjando dominância? – Edgar praticamente rosnou, se aproximando o bastante dos dois, deixando-a sem ar.

– Eu não pude acreditar ao saber que uma simples fêmea pudesse ter dois companheiros mas agora, ao vê-la presencialmente digo que ela poderia facilmente ter quantos quisesse...

Os três sorriram mas por dentro seus lobos travavam uma guerra sangrenta e mortal.

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⏰ Última atualização: Oct 18 ⏰

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