XXV - Mau agouro

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A medida em que seus passos se aproximavam da casa, seu coração apertava dentro do seu peito, como se fosse ser esmagado a qualquer momento, a garganta secou e um arrepio atingiu suas pernas. Ela agarrou a maçaneta com certa relutância, decidindo girá-la e abrir logo a porta, sentindo os olhos de Edgar queimando suas costas mas ela não tinha coragem de olhar em sua direção. Ao entrar na casa, ela foi direto ao quarto de sua avó, alcançando o telefone sobre a escrivaninha, o pegou, lendo o número desconhecido na pequena tela esverdeada.

— Alô — atendeu, receosa.

— Falo com a Mia-lena? – a voz do outro lado parecia aflita, o que causou medo em Mia-lena.

E lá estava ele, o mal agouro, agarrando seus cabelos, fazendo sua cabeça arrepiar.

— Sim, o que deseja?

— Sou o enfermeiro do Hospital da Cidade, onde uma paciente estava internada, na ficha de entrada foi dado seu nome como parente, gostaria de saber seu grau de parentesco com a mesma...

– Eu sou neta dela, diga-me logo o que aconteceu com a minha avó e ...

O que ela escutou em seguida foi capaz de fazê-la perder o rumo. Sua cabeça girou e um grito alto escapou de sua garganta, rasgando seus tímpanos.

– Sua avó morreu.

A jovem perdeu seu chão, sentindo a fraqueza tomar conta de suas pernas, ela tombou, deixando o telefone cair, quebrando o mesmo. Edgar apareceu em seguida, olhando para os lados e então seus olhos caíram sobre o aparelho despedaçado, Mia-lena olhou para ele, os olhos cheios de lágrimas, brilhantes, o rosto abatido e a voz chorosa.

– Minha avó morreu... – fungou ela, escorando-se na parede, abraçando os joelhos – O que farei da minha vida agora? Eu não tenho nada, Edgar! Nada.

– Se acalme, vai ficar tudo bem...

– Tudo bem? – pigarreou, olhando de forma brava para ele – Minha única família acaba de falecer e você diz que vai ficar tudo bem? Você não entende essa dor, parece que tudo que eu amo morre ...

– Eu entendo perfeitamente – Edgar sentou-se ao seu lado, cruzando os braços –, perdi meus pais há uns 18 anos atrás, eu era muito novo e minha cabeça ainda era de um filhote, para mim foi terrível ficar sem meus pais, principalmente por causa do nosso laço, entende? Não estou invalidando sua dor, Mia mas quando o laço de um lupino se rompe, é como se um pedaço de você morresse junto e eu ainda sinto, bem aqui – apontou para o próprio peito –, ainda dói, mesmo tendo passado todo esse tempo e a única coisa que me fez permanecer vivo é o meu irmão, mesmo que andemos tão distantes um do outro...

– Desculpa, eu não sabia...

– Tudo bem, aliás, ninguém tem um laudo de perdas escrito na testa, não é mesmo? – sorriu, puxando-a para um abraço apertado. – Vai ficar tudo bem, eu estou aqui agora e irei cuidar de você, tudo bem?

Ela ponderou sobre e acabou dando-se por vencida. Sentia que ele poderia cuidar dela e queria isso naquele momento.

▪️▪️▪️

  Edgar estava debruçado no sofá, olhando seu reflexo na pequena televisão em sua frente, suspirou pesadamente, pensando em como poderia fazê-la segui-lo, ainda mais agora em um momento tão delicado, não poderia obrigá-la, uma das suas primeiras intenções, agora as coisas estavam de mal a pior, era como se a deusa Selene não quisesse que os dois ficassem juntos.

– Edgar... – Mia-lena adentrou a sala apressada, parecendo assustada.

– Ei, ei, calma, eu estou bem aqui... – ele alertou, puxando-a para mais perto, Mia-lena deitou-se ao seu lado e chorou.

– Eu pensei que você tinha ido embora... – ela enxugou as lágrimas, tentando sorrir, falhando em seguida, ao soluçar pesadamente.

– Shh – ele acalentou a mesma sobre os braços musculosos, Mia-lena arrepiou-se ao sentir as mãos ásperas do mesmo sobre a sua pele úmida, ela havia acabado de sair do banho. – Eu fico aqui com você mais um pouco, o tempo que você quiser...

Ela o olhou, os olhos brilhavam em um castanho terroso, os lábios secos e avermelhados, por fim, sorriu, concordando.

– Eu quero que você fique para sempre. – ela diz por fim, voltando a abraçá-lo.

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