X - Você acredita em...

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Domingo, em uma noite confortavelmente agradável, o clima árido estava perfeito, vários pirilampos voavam sobre o jardim. Em um silêncio absoluto e óbvio, eu tinha que quebrar o silêncio.

– Vó? – chamei por ela, que estava sentada em sua cadeira de balanço, tricotando uma blusa vermelha.

–– Diga, querida.

– A senhora acredita em lobisomens? – decido perguntar, depois de segundos em silêncio.

Ela me olha, estática, o olhar curioso sobre os óculos me analisavam por completo.

– Bem, não muito. – deu de ombros

– Por que?

Algo dentro de mim estava inquieto, como se ansiasse por uma resposta mais plausível? Talvez fosse isso.

Ela suspirou, largando a agulha e as linhas – Quando eu era criança, minha avó me contava histórias sobre, inclusive, uma história que sempre chamou a minha atenção, era sobre um rapaz, incluso que vivia em uma cabana distante de todos...

– Como assim? – fiquei confusa, ela ajeitou os óculos sobre o nariz, sorrindo.

– Minha avó morava em uma vila e esse rapaz vivia longe de tudo e todos. Era muito misterioso e ela dizia que ele era um rapaz muito bonito, embora fosse esquisito – riu –, e de repente, em um dia chuvoso, uma criança desapareceu da vila e nunca mais foi vista, começaram a acusar esse rapaz, pois ele foi o último a ser visto próximo dela. E em uma noite escura, um bebê recém nascido também desapareceu...

– E...

– Foram até a casa desse rapaz, e ele estava deitado, sujo de sangue e... – ela inspirou fundo – Advinha, nos dentes dele estavam pedaços de pano, crianças naquela época usavam fraldas de pano. Mas, eu não acredito nessa história, embora minha avó jurasse de pé junto que isso de fato aconteceu, nesse quesito prefiro permanecer incrédula.

– E o que aconteceu com ele?

– Ele? O rapaz? – faço que sim com a cabeça – Minha avó disse que ele apanhou muito e iria ser morto mas conseguiu fugir. Desde então nunca mais encontraram ele, desapareceu.

– Credo. – foi a única coisa que consegui dizer.

Meu coração estava acelerado e minha cabeça doía, eu não deveria ter perguntado sobre, agora isso irá permanecer na minha cabeça.

▪️▪️▪️

O croaxar dos sapos não permitiu que eu dormisse, era como se minha mente estivesse em câmera acelerada, estando tudo em 3x mais rápido, minha respiração ofegante parecia ser escutada a distância e, isso me deixava aflita. Um medo repentino. Como se a qualquer momento algo grandioso pudesse acontecer.

Levantei da cama, disposta a caminhar pela casa e tentar dispersar tais pensamentos, muito deles agressivos e tenebrosos. O medo realmente era o meu maior inimigo. Um barulho alto chamou a minha atenção, caminhei até a janela que ia em direção a varanda, espiei pela mesma e vi Krucis, segurando um machado, estava cortando troncos... Sem camisa, nunca havia visto o mesmo assim, seu suor fazia suas costas ficarem reluzentes, o tronco musculoso e completamente nú conseguia me cativar, me deixando em êxtase, completamente fascinada.

– Você irá babar se continuar com a boca aberta...

Gritei com o susto, fazendo o mesmo rir. Olhei para os lados, envergonhada, espero que minha avó não tenha escutado! Mas acho bem difícil, já que o ronco dela é muito mais alto que meu grito.

– Não estava te olhando. – decido dizer, ao notar que ele me olhava

– Eu não disse que estava – riu, largando o machado –, estou com sede, você pode buscar um copo d'água para mim?

– S-sim...

Saio rapidamente, ainda com vergonha, isso era estranho, eu não costumava ficar assim perto dele, Krucis de fato não fazia meu estilo, no entanto, hoje, algo nele chamava a minha atenção. Seu cheiro estava diferente, um cheiro bom.

– Obrigado. – Ele agradece, pegando o copo da minha mão.

– Por que está fazendo isso tão tarde? – perguntei, ao lembrar que já passavam das 02 da manhã.

– Eu funciono melhor na madrugada. – tossiu, olhando para o céu

A lua minguante cortava o céu azul escuro, com diversos pontos brilhantes, aqui o céu é sempre estrelado.

– Entendi. – digo, sem muito ânimo – Eu vou dormir, boa noite para você.

Me despeço, andando de volta para o meu quarto mas antes, Krucis me chama, olho para ele, o mesmo estava sério, podia jurar que vi seus olhos mudarem de cor, então ele perguntou;

Você acredita em lobisomens?

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