XXII - Elegância

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MIA-LENA

Ele caminhava em uma elegância majestosa, conversávamos animadamente, algo que me deixava um pouco confusa, eu mal conhecia ele e nós dois nos dávamos tão bem. Era como se, nos conhecêssemos há anos mesmo sem nunca termos nos encontrado antes, Edgar era um cara legal. Muito mais legal que Krucis...

- Krucis... - deixei esse nome escapar de meus lábios, vendo a confusão se formar nos olhos de Edgar.

- Por que pensa tanto nele? Vocês tiveram algo? - Edgar largou os troncos que me ajudava a carregar, com certa brutalidade, me olhando sério.

- O que? Não! - digo, firmemente, até me lembrar do beijo que tivemos, embora não fosse da minha vontade, eu gostei.

- Ufa! - ele solta um suspiro aliviado - Ainda bem, eu não aguentaria ter que dividir você com alguém, pelo menos não com ele ...

- Mas o que ele fez de tão grave? - questiono, jogando os troncos em um canto, juntando todos em uma pilha. Serviriam como lenha mais tarde.

- Krucis era do nosso bando... - ele retornou a pegar os troncos, parecendo frustrado dessa vez - Por incrível que pareça, Krucis era um transformado, assim como você, encontramos ele ainda "filhote" - fez aspas ao dizer isso -, perdido na mata, uma distante daqui, sendo cercado por coiotes, se não fosse por meus pais, Krucis já não existiria...

- Transformado? O que é isso? - indago, confusa, já havia escutado isso diversas vezes mas não entendia muito bem o sentido.

- Você não nasceu lobo, você transformou-se, ou por maldição ou por uma mordida, que ao julgar pela sua aparência, você não foi amaldiçoada... - soltou uma risada pelo nariz, fazendo um som engraçado - Krucis no início era calmo, atencioso e muito obediente, no entanto, depois de um tempo, ele queria tudo para ele, tudo! - rosnou - Meu irmão e eu tivemos que lutar pela atenção dos nossos pais por causa dele, ele sentia-se mais forte por ser um recém transformado e nos batia e caçoava como se fôssemos estrume de cavalo. Até que entramos na adolescência, aquela idade dos hormônios a flor da pele e bem, Krucis parecia ter mais hormônios do que imaginávamos. Ele abusou de pelo menos 05 fêmeas da alcateia...

- Abusou? Você quer dizer...

- Sim, isso mesmo que você pensou. - sentou-se sobre uma grande pedra, limpando as mãos sujas de areia e poeira - Uma delas era apenas uma criança! Aquele filha da puta ...

- Não acredito nisso, não consigo acreditar...

- Por que não? Gostava tanto dele para defendê-lo?

- Veja bem, não estou o defendendo, porém, eu conheci sua irmã...

- Irmã? Aquela louca ainda está com ele? - grunhiu - Não são irmãos, são amantes. Ele a mantém como uma "escrava" e ela, aceita pois é e sempre foi apaixonada por ele. Advinhe, ela foi uma de suas vítimas.

Engoli seco, como pude não notar que algo estava errado nele?

- Não confie nele, Mia, ele é horrível, é capaz de matar qualquer coisa que entrar em seu caminho e não obedecê-lo. Felizmente, não tornou-se Alfa, meu irmão conseguiu esse posto, pois tinha humildade.

- E o seu irmão, onde está? - perguntei, curiosa. Ele falava muito sobre o seu irmão mais do que notava.

- Meu irmão está cuidando da alcateia. - sorriu, despreocupadamente - Tenho certeza que ele irá gostar de você mas antes nós precisamos trabalhar em algumas coisas aqui - apontou para mim, necessariamente para meu peito -, você não sabe nada sobre nós. E eu gostaria de ter a honra de ensiná-la tudo que eu sei.

- Edgar, eu agradeço. No entanto, não desejo aprender nada sobre isso ... - apontei de mim para ele. Frustrada.

- O que? Por que não? - preocupou-se, chateado.

- Edgar, eu não acho que eu seja isso que você tanto menciona, eu sou uma garota normal, com seus quase 19 anos e eu ficaria muito feliz em continuar sendo assim, sem me preocupar com o que irei me transformar na lua cheia, entende?

Ele riu, alto.

- Nós não nos transformamos apenas em lua cheia, as vezes, os transformados sim, porém, apenas quando o instinto está suprido e guardado há muito tempo. E, quando seu lobo entende que está livre, você acaba se transformando nessa fase da lua. Mia, por favor, nos dê uma chance, só tente, uma vez e se você não gostar, eu desisto disso tudo... Ok?

Suspirei, dando de ombros.

- Tudo bem, Edgar. Nós podemos tentar mas não garanto nada!

- Está certo, enquanto isso, vamos almoçar? Estou faminto.

Diz, antes de sua barriga roncar alto. Gargalho, esse cara era hilário.

- Ei! Não ria assim, eu estou em uma situação decadente aqui, viu, mocinha!

- Ok, ok! - me rendo.


Passamos o resto da tarde conversando e armando um plano, mirabolante como disse Edgar, sobre a minha mais nova transformação. Pois ele pensava que eu ainda não tinha me transformado mas então, lembrei-me do episódio das penas ...

- Edgar... - chamei por ele, tirando toda a sua concentração, enquanto ele olhava para um papel tão concentrado que suas veias saltavam em sua testa.

- Sim. - me olhou, com os olhos meio marejados e avermelhados.

- Está tudo bem? - perguntei, curiosa. Ele está chorando?

- É que isso ... - bufou, apontando para o papel - As letras... Eu ...

Olhei para ele e depois para o papel, confusa. As letras eram pequenas demais para ele entender? Isso era possível? Um ser tão sombrio não conseguia ler umas letrinhas minúsculas ou ...

- Você não consegue ler?

- Não... - respondeu, desapontado.

Olhei para ele, incrédula. Bem, era de se esperar mas eu não estava esperando isso...

- Tudo bem, você me ajuda e eu te ajudo. Irei te ensinar a ler, Edgar, não se preocupe!

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Dois CompanheirosOnde histórias criam vida. Descubra agora