XXXV - Dois Companheiros

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MIA-LENA

– O que você disse? – Edgar me puxou, exasperado. Eu ainda não tinha conseguido me mover, estava em estado de choque.

– Você ouviu bem – o mais alto sorriu, bagunçando os cabelos de forma despojada –, ela é minha companheira.

– Sua companheira? – Edgar rosnou, seu corpo estava quente e ao mesmo tempo úmido, ele suava muito.

– Vamos conversar em particular. – ele olhou em volta – Venha.

– Não. – Edgar negou, me soltando – Eu não aceito perdê-la para você, ela é minha Ivan.

Ivan suspirou, parando a metros de distância, eu conseguia sentir o clima pesar, era quase palpável.

– Eu irei te explicar, agora venha.

Ele saiu andando, como se esperasse que Edgar o seguisse, assim ele fez. Antes olhou para mim e acenou, me deixando sozinha no meio do nada.

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Ventava muito na colina, algumas nuvens estavam se formando no céu, a cor cinza e o vento gélido mostrava que em breve iria chover. Mas eu não sentia frio, estava muito ansiosa para pensar nisso. Preferi me manter longe de Edgar por um tempo, ele estava estranho, seu olhar alegre não existia mais, eu não conseguia ver aquele brilho que antes ele emanava.

– Muito tempo sozinha não te fará mal?

Virei-me ao encontro da voz potente, podendo ver Ivan parado, encostado em uma árvore? Me pergunto, há quanto tempo ele está aqui?

– N-não... – tento parecer o mais convincente possível mas minha voz falha e mal consigo terminar minha fala.

– Você e o meu irmão... – ele coçou a garganta, se aproximando lentamente – Há quanto tempo estão nesse joguinho?

Perguntou, tão próximo que eu pude sentir seu hálito quente, ele cheirava a hortelã e queijo. Engoli seco ao sentir meu corpo arrepiar.

– Como assim? Que joguinho? – pergunto, confusa.

– Não me diga que não sabe, olhe para você! – soou rude, girando sob o calcanhar e me olhando de cima a baixo – Com essa cara de sonsa, eu conheço bem esse seu tipinho, já lidamos com uma fêmea como você...

– Ei! – o empurro ao notar que ele estava próximo demais – Quem você acha que é para falar assim comigo?

– Quem eu acho que sou? – perguntou, soltando uma risada sarcástica, enquanto coçava a testa – Tudo isso que você pisa é meu! Ao contrário do que meu querido irmãozinho demonstrou, eu quem mando nessa porra!

– Não me importo com isso. – digo, sem pensar.

Era surreal a forma em que eu me sentia mais corajosa ao lado dele, mesmo sem conhecê-lo. Ivan sorriu, cruzando os braços, deixando seus músculos evidentes.

– Deveria se importar, sei muito bem o que você está fazendo, aposto que teve ajuda de bruxas! Duvido muito que você seja uma transformada, você nem ao menos tem cheiro de lobo!

Reviro os olhos, deixando-o falar sozinho, caminho em direção contrária a colina, sentindo que ele me sentia.

– Espúria!

Ivan aproximou-se rápido demais, me fazendo tropeçar.

– Eu nem ao menos sei o que significa isso, babaca! Me deixe em paz! – sou rude, tento me afastar mas é praticamente impossível, Ivan ficou me cercando.

– Eu irei descobrir o que aconteceu, não serei escravo de uma fêmea, muito menos terei que dividi-la com meu irmão! – rosnou ele, acariciando meu cabelo. Afastei suas mãos de mim.

– Não sei do que você está falando, nem ao menos me importo, apenas peço que não me perturbe e claro, deixe-me com Edgar...

– Então você anda pensando nele? – rugiu, se afastando, sua respiração estava ofegante.

Olhei para ele, de soslaio, sorri internamente – O motivo? Não faço a menor ideia.

– Óbvio, somos namorados...

Ivan rosnou alto, fazendo meu coração acelerar e minhas pernas perderem a força.

– Você tem dois companheiros, garota!

Duvido muito, quem é você para que eu possa confiar? Aposto que está com inveja do seu irmão e inventou essas coisas para que ele me deixasse mas fique sabendo Alfinha, eu nunca o trocaria por você.

Com isso, me afasto. Confusa por tudo que eu havia dito, era como se outra pessoa estivesse falando no meu lugar, eu jamais poderia ter tanta coragem para falar dessa forma, ainda mais com alguém que parecia ser tão especial. Ivan emanava poder e soberba, ao contrário de Edgar, que esbanjava doçura e gentileza – menos quando algo ou alguém me fazia mal.

Ivan não me seguiu, consegui alcançar a cabana e encontrei-me com Edgar, que estava sentado sobre um tronco velho e sujo. Ele me viu mas não me olhou por muito tempo, me aproximei do mesmo e acariciei suas costas, tentando fazê-lo relaxar, era nítido sua frustração, eu podia sentir seus músculos rígidos.

– Vocês se viram?

Foi a primeira coisa que ele me perguntou, abaixando a cabeça e abraçando seus joelhos. Era estranho vê-lo dessa maneira, tão vulnerável.

– Sim. – suspirei

– O que ele disse a você?

– Eu não sei... – suspirei novamente – Ele me chamou de espúria, o que isso significa Edgar?

– Deixe isso, Ivan não sabe o que diz... – coçou a garganta, me olhando, seus olhos estavam inchados e vermelhos, como se ele tivesse chorado por bastante tempo – Ele te beijou?

Engasgo, como ele tinha coragem de me perguntar isso?

– O que? Não! – bufo, cruzando os braços.

– Por favor, Mia... – ele me abraçou forte, juntando nossas mãos e testas em seguida – Eu não quero te perder para ele, por favor fique comigo. Eu estou cansado de virar segunda opção, principalmente quando se trata do meu irmão...

Seus olhos nadaram em lágrimas, enquanto ele segurava o nó preso em sua garganta.

– Eu não irei fazer isso. Jamais! – o beijo calmamente e terminamos com selinhos, o abraço com força e suspiro ao ver Ivan ao longe.

Ele nos olhava. Talvez isso fique mais difícil do que eu espere! Por que Ivan era tão atraente e chamava tanto minha atenção? Como se meu corpo precisasse de sua companhia, assim como eu me sinto perto de Edgar? Isso é tão cruel!

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CAPÍTULO SEM REVISÃO

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