III - Desconfiança

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Calafrios. Minha boca tremia, fazendo um barulho alto, pelo trincar de dentes, tirei o termômetro que estava debaixo do meu braço e me assustei ao perceber que estava marcando 39°. Não pode ser verdade, o que essa mulher fez comigo? Levantei da cama, arrastando meu corpo junto com a manta fina que eu ousava me cobrir, era minha companheira de noites e noites.

– Elizabete... – bato na porta do seu quarto, quase sem forças mas ela não atende. Decido seguir até o porão, ela geralmente guardava os remédios dentro de uma caixa que ficava no porão.

Caminho a passos vacilantes, como se a qualquer momento eu fosse morrer, abro a porta do porão e ao tentar ligar a luz do lugar, tropeço, caindo sobre algumas coisas, uma caixa empoeirada cai no chão, fazendo barulho. Recolho as coisas mas uma pasta em questão chama a minha atenção, ela era vermelha e continha alguns documentos dentro dela, um deles era bem estranho.

Daniel Smith Cavalcanti
Nascido em 1994, no dia 01 de Março.
Mãe: Elizabete Cavalcanti da Silva.
Pai: Alexander Smith McCartney.

Me choco ao ler o nome do pai, meu pai se chamava Carl Luiz Fabbri de Jesus, quem era esse Alexander Smith McCartney? Engulo seco ao perceber que... Daniel e Daniella não eram meus irmãos legítimos, talvez fosse por isso que papai os afastou de seu testamento, então porque Eliz insiste em permanecer nessa mentira? O que ela ganhará com isso? Decido guardar todos os papéis que caíram, coloco tudo na caixa e arrumo as coisas que baguncei com minha queda, pego um xarope e tomo. Havia até mesmo me esquecido da dor que sentia há minutos atrás, a adrenalina nos traz coisas surreais.

Eu irei descobrir o que Eliz anda aprontando, nem que seja a última coisa que eu faça...

– O que você faz aqui?

Sou pega desprevenida, me assusto com sua pergunta, ela vem até mim, olhando em direção ao xarope, depois olha para mim, como se eu tivesse feito a pior coisa do mundo.

– Esse remédio é da Dani. – tirou o xarope do meu alcance, guardando o mesmo longe de mim.

– Eu estava passando muito mal, chamei pela senhora mas a mesma não me atendeu. – suspiro, sentindo a barriga voltar a doer.

– Passando mal? – ela sorrir, de uma maneira presunçosa – Pensei que estivesse bem, estava tão animada conversando com a puta da Cristina.

– Eu estava bem, acho que foi o leite que você me deu...

Um estalo, alto e rápido. Óbvio, era um tapa, na minha bochecha esquerda, deixando o local ardido. Olho para Eliz, assustada.

Você? Desde quando você perdeu o respeito? Vagabunda mirim!

Ela me insulta, fazendo com que o meu choro saísse descontrolado. Eliz segura em meu cabelo, puxando a minha cabeça para trás e sorrir, diabólicamente.

– Espero que você não conte isso a ninguém e, essa dorzinha que você está sentindo não irá te matar, acredite nisso, nojenta!

Ela me solta, eu apenas sentia raiva, queria machucá-la da mesma forma que ela me machucava mas não conseguiria, não era medo e sim, respeito.

– Eu sei de tudo! – decido dizer, quando ela estava prestes a sair do porão, ela me encara, sem entender – Sei que Daniel e Daniella não são filhos do meu pai, sei que você é uma safada que tentou aplicar o golpe do baú!

Seus olhos ficam arregalados, posso ver seu rosto mudar de cor, quando ela corre em minha direção, me derrubando, subindo em cima de mim e me batendo. Dói tudo mas com certeza, a única dor que eu não poderia curar era a do meu coração.

– ME SOLTA! – grito assustada, enquanto ela me dava socos e tapas, meu nariz sangrava.

Vi Daniel sorrindo parado nos degraus, enquanto Dani chorava assustada.

– Mamãe, não faz isso! – Daniella pediu, amuada.

Eliz olhou para ela e sorriu.

– Saíam daqui, crianças. Vocês não precisam ver isso...

– Mamãe, olha o que eu achei no bolso da Dani...

– Foi a Mia-lena que me deu, mamãe... – Daniella avisa, assustada.

Meu coração errou as batidas, ao ver Daniel com uma barrinha de cereal na mão, choro baixo, esse era o meu fim.

– Você anda tentando matar a minha filha? Sua vagabunda perversa! – ela chuta meu estômago, me fazendo vomitar na hora. Ao ver o meu estado, ela se afasta, um pouco assustada – Eu poderia acabar com você hoje mesmo mas deixarei para outro dia, limpe essa bagunça.

Ela sai, levando as crianças com ela, me deixando sobre o chão, ensanguentada e machucada. Adormeço, sentindo tudo girar.

Desperto, sentindo dor de cabeça e uma terrível dor na coluna. Levantei devagar, as lágrimas já estavam aqui, escorrendo dos meus olhos, molhando o meu rosto e blusa ensanguentada. Respiro fundo. Tateio o bolso do meu casaco, afim de encontrar um papel em específico, encontro-o, minha mão treme enquanto penso se era isso mesmo que eu deveria fazer. Tinha minha desconfianças mas agora, tudo foi jogado ao ralo, eu estava cansada de sofrer. Caminho a passos largos em direção a cozinha, onde Eliz comia cereal com leite, ela me olhou, confusa. Tirei o telefone do gancho e disquei o número.

– O que você está fazendo? – perguntou ela, me empurrando.

A pessoa do outro lado da linha atende, com uma voz humorada.

Tia Cris, socorro!

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