XVIII - DELTA.

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CATLEYA

Na nossa ancestralidade, todo Alfa precisa de um Beta. E em nossa alcateia não seria diferente. O Alfa tinha seu irmão, o Beta como braço direito nos domínios de nosso pequeno mundo mas, o nosso Beta também precisava de um braço direito, os dois eram puro-sangue, prodígios, vieram de uma linhagem pura e elegantemente dominadora. Ele precisava de alguém forte para ajudá-lo onde quer que ele fosse e bem, cá estou eu. Nascida para servi-lo, como deveria ser, no entanto, as coisas saíram um pouco do controle, acabei me apaixonando pelo meu Senhor, não era algo difícil de se imaginar, nossa alcateia era grande, contando com um pouco mais de 1500 crinos e a grande parte das fêmeas solteiras sonhavam com nosso Beta e nosso Alfa, os dois estavam solteiros, até hoje. Quando por azar do destino, meu Senhor encontrou sua companheira e se aconteceu a conexão eles não poderiam mais se afastar, por enquanto. Merda! Por que eu não corri mais rápido para poder alcançá-lo? E impedir que isso acontecesse, como eu a odeio! Maldita transmutada. Des-transformo a medida que escuto as vozes, estava próxima da alcateia e estar dentro dela me permitia ser normal, era protegida o suficiente e poderíamos ficar na nossa forma - fraca e indefesa - humana.

- Cat. - Anaís foi a primeira a me saudar, sorrindo amigavelmente. Eu poderia sorrir de volta mas, todos sabiam que ela apenas agia assim por interesse.

- Anaís. - digo de volta, colocando minha capa verde musgo.

Veja bem, nós não gostamos muito de ficar completamente nús, embora isso não seja um problema, antigamente andar como nascemos era comum, porém, ao passar dos anos isso foi ficando para trás. E agora, vestimos apenas uma capa longa e confortável, não poderíamos usar roupas, rasgaríamos em questão de segundos e, não tínhamos tanto dinheiro assim.

- Onde está Edgar? - Anaís indagou, olhando em volta, procurando pelo meu Beta.

Eu suspirei, cansada, precisava de um bom banho - É melhor você desistir da ideia de conseguir conquistá-lo, Anaís. Ele encontrou sua companheira, foque no Alfa.

Eu disse, tentando não soar grosseiramente, o que não surtiu efeito. Parecia que todos haviam escutado o que eu acabara de dizer e rapidamente os murmúrios tomaram conta da praça.

- Meu irmão encontrou sua companheira?

O Alfa estava aqui, nos surpreendendo, ele geralmente não saía de sua cabana para nada. Todos nos afastamos, dando espaço para que ele pudesse passar, não poderíamos tocá-lo, era lei.

- Sim, Alfa. Precisamos conversar - coloquei os braços para trás, abraçando-os sobre as costas. - Em particular.

Disse a última parte um pouco mais alto, para que os curiosos voltassem a fazer o que estavam fazendo. O Alfa concordou, fazendo um pequeno gesto para que fosse seguido e assim, eu o fiz.

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- Ela é uma recém transformada.

Disse eu, rápido, assim que me sentei na cadeira, em frente a sua mesa. Ele rodopiou sobre a sua, coçando a barba rala. Parecia pensativo.

- E onde ela está? Onde meu irmão está? - perguntou, aflito.

Suspirei, me ajeitando confortavelmente sobre a cadeira.

- Alfa, seu irmão é teimoso. Tentei trazê-lo mas...

- Já sei, deixe-me advinhar. A fêmea não quis segui-lo, não é isso? E como conheço meu irmão, ele decidiu segui-la, não é mesmo? - assenti, nosso Alfa sempre sabia de tudo, era incrível - Mas ele esqueceu-se completamente dos afazeres do nosso bando. Precisamos dele aqui...

- Sim, senhor, irei trazê-lo! - levantei-me sobressaltada, derrubando a cadeira.

- Não. - ele sorriu - Eu irei atrás dele. Aquele cabeça oca precisa de uma lição, não é por qualquer boceta que ele poderá largar os afazeres, nosso bando está em primeiro lugar.

- Sempre! - terminei sua fala, sorrindo.

Eu gostava do nosso Alfa mas tinha algo que faltava nele. Talvez fosse a cara azeda ou a forma que ele tratava os crinos, como se fosse superior a tudo e a todos. Ele não era como Edgar, embora fossem gêmeos idênticos, o Alfa era mais sensato e grosseiro, talvez fosse por isso que eu não conseguia sentir atração pelo mesmo. Diferentemente do seu irmão, que era engraçado e brincalhão.

Sorri, assim que saí da cabana. Aquela que pouquíssimas pessoas poderiam entrar. Apenas Edgar e eu possuíamos permissão. E era por isso que todos me olhavam com orgulho, eu poderia não ser uma luna mas eles me tratavam como tal e eu farei de tudo para que isso não acabe, nem que o jeito seja acabar com a verdadeira.

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