VI - Campo

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É tudo tão verde e calmo, um lugar magnífico. Chegamos no sítio da vovó, cercado por um longo e alto muro de pedras, o portão grande se abre sozinho a medida que o carro se aproxima, posso ver mais detalhadamente agora, a casa não era tão grande mas parecia ser espaçosa por dentro e bastante confortável. Vejo um pequeno caminhão de mudança parado em frente a casa, alguns jovens descarregavam caixas e objetos pesados. Vovó não permite que eu desça do carro até eles terminarem, não sei a resposta, mas talvez, a culpa seja da forma em que eles conversam, menosprezando algumas mulheres desconhecidas. Meu estômago embrulha ao notar um perceber minha presença, ele sorrir para mim, abaixando um pouco o seu chapéu esquisito.  Depois de alguns longos minutos, eles saíem, permitindo que eu saía do carro e estique minhas pernas.

– Pode dar uma caminhada por aí, querida. Tome – vovó me entrega um apito –, caso se perca, assopre isso e o caseiro irá ao seu encontro.

Observo o mesmo senhor ranzinza e dono de olhos enigmáticos, ele estava aqui mas ... Como? Não lembro-me de tê-lo visto entrar no sítio. Afasto esses pensamentos e decido caminhar pelo lugar, vendo que o muro era extenso mas tinha um fim, ele não cobria todo o sítio, a parte de trás ficava livre e com uma belíssima vista para a floresta, posso ouvir os pássaros cantarem e observo a presença de uns macacos, eles me olhavam com curiosidade, talvez soubessem que eu era nova no pedaço, são animais super interessantes e espertos.

– Cabras! – digo, ao me aproximar de um dos currais e notar a presença de cabras.

Tinham vacas, cavalos, pavões, galinhas, patos, vários animais e ... Um cachorro! Ele corre atrás de mim, latindo e rosnando, me assusto, pulando no chiqueiro, os porcos se afastam, assustados e de repente, todos os animais estão fazendo barulho. O som estava muito alto e minha orelha começou a sangrar por causa disso, eu era muito sensível.

– Está assustando os animais. – o senhor apareceu, me ajudando a sair do chiqueiro.

– Peço desculpas, eu me assustei com o cachorro...

– O Bob não ataca ninguém, apenas quem ele não gosta – me olhou com desdém –, tome mais cuidado da próxima vez e fique longe dos animais.

Ele me larga na entrada da casa e some da minha vista. Que homem louco, decido entrar na casa e dou de frente com uma enorme e elegante sala. Sorrio, era linda, uma pequena televisão estava no final dela, decido ir assistir algo mas estávamos sem sinal.

– Querida, nesse fim de mundo é bem difícil termos sinal. – minha avó aparece de repente, me assustando. Ela também se assusta e me acerta com o pano de prato, atingindo meu rosto.

– Aí! Vó! – esperneio, sentindo meus olhos arderem.

– Desculpa! Você me assustou, venha lavar esse rosto e as mãos, prometo que irá melhorar...

▪️▪️▪️
E

stou sentada nesse momento, de frente para uma janela grande, situada no meio do meu quarto, daqui consigo ter uma visão melhor da floresta detrás da casa. Alguns pirilampos voavam, iluminando o quanto podiam a escuridão, fiquei animada ao ver uma coruja-preta, ela pousou em um galho de árvore próxima a minha janela e... Ficou me olhando, parada, os olhos grandes pareciam analisar cada movimento que eu fazia. Isso me assustou muito, tanto que decidi fechar a janela e ir deitar.

– Querida – minha avó adentra o quarto, iluminando tudo, enquanto segurava uma vela e uma bandeja –, trouxe leite morno e biscoitos.

Levanto-me da cama – Vó, não estou sentindo muita fome.

– Coma, isso é uma ordem. – disse séria – Não quero vê-la magra, você precisa engordar mais um pouco, ouviu bem?

Faço que sim com a cabeça. Decido beliscar os biscoitos, de nata, eles desmanchavam na boca e o leite estava uma delícia. Vovó era uma excelente cozinheira. Ficamos conversando sobre várias coisas, quando ela começou a falar sobre o corpo feminino.

– Eu soube que você ainda não ficou mocinha... – disse, parecendo estar triste. – Isso não é normal para uma jovem de 18 anos, Mia-lena.

– Os médicos disseram que poderia ser porque meu metabolismo está atrasado, não pareço ter a idade que tenho. – suspiro, cansada.

– Sim. Isso tudo é culpa daquela mulher e de certa forma, do seu pai. Eu sabia que ela não seria uma boa mãe para você. Eu avisei para ele, pedi que te deixasse comigo mas depois daquele ocorrido na floresta, no dia em que você se perdeu, ele disse que eu não era confiável.

– Vovó, não se culpe, por favor. Ninguém tem culpa, essas coisas aconteceram porque tinham que acontecer, entende? Não quero vê-la triste por aí, o importante é que estou viva e que agora, livre daquela mulher.

Nos abraçamos forte e eu pedi para minha avó dormir comigo, eu estava um pouco ansiosa e com medo, medo dela aparecer de repente e me levar daqui. Eu não queria isso, estava apaixonada pelo campo, mesmo estando apenas há um dia aqui, parece que esse lugar foi feito para mim.

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Dois CompanheirosOnde histórias criam vida. Descubra agora