XXXIII -

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O clima ameno fazia o nariz da jovem arder, não passavam das três (03) horas da madrugada e ela ainda estava acordada, lutando contra o sono e tentando se acalentar em seu casaco peludo - que ela houvera roubado de sua madrasta. O sereno cobria toda a "vila" com uma fina camada de chuva. Edgar estava sentado em um tronco, enquanto tostava em um espeto uma chicha, mesmo estando próxima a uma fogueira, Mia-lena parecia não ser esquentada, seu corpo estava gelado, seus lábios agora brancos e suas mãos gélidas mostravam isso.

– O que foi? – Edgar aproximou-se, sentando ao lado dela.

– Eu queria dormir um pouco, será que eu posso? – Mia perguntou, baixo, tentando garantir que ninguém a escutasse. Todos ali estavam bem acordados e ela temia que eles zombassem dela por sentir-se cansada.

– Claro – Edgar a segurou pela mão, olhando para ela fazendo careta –, sua mão está muito gelada. Você está com frio?

A jovem assentiu, envergonhada.

– Era só ter me avisado, não precisa esconder isso de mim. Você ainda não consegue controlar o seu lobo, isso é comum, Mia.

Ela sorriu, com a cabeça baixa.

– Para onde estamos indo? – ela decidiu quebrar o silêncio, olhando em volta, tendo sua atenção concentrada na ladeira que agora os dois subiam.

– Para minha casa. – Edgar sorriu alegre – Quero dizer, nossa casa.

Algo nessas palavras fez o corpo de Mia-lena vibrar. Ela afastou os pensamentos rapidamente, tentando se concentrar no caminho que seguia. Ele morava no pico da colina, uma casa como as outras que ela acabara de ver lá embaixo. Não tinha luxos, era idêntica as outras, isso a fez sorrir.

– Deve estar se perguntando o porquê de estarmos tão alto, certo? – Edgar indagou, abrindo a porta para que ela entrasse, a jovem assentiu – Bem, aqui de cima podemos ver tudo que encosta a floresta e tudo que pode se aproximar de nossa matilha...

– Vocês não dormem? – ela perguntou de repente, olhando em volta.

Estavam em uma pequena sala, com uma clareia, um capacho feito de pele de algum animal, uma mesa pequena com duas cadeiras de madeira escura e uma tv de tubo.
Mia-lena torceu o nariz, ela não imaginava que eles assistissem televisão.

– Sim, no entanto, as vezes gostamos de trocar o dia pela noite. Como hoje, o clima está perfeito para caçar, ainda mais com uma festa a caminho. Precisamos do máximo de suplemento.

– E quando será essa festa?

– Pelos meus cálculos, hoje. Então durma e tente descansar ao máximo. – Edgar deu um beijo em sua testa, levando-a até o quarto, onde ela notou uma cama de tamanho médio coberta por lençóis de crochê.

– Você não vai dormir? – ela perguntou, assim que notou que ele estava saindo do quarto.

– Não, preciso resolver algumas coisas, passei muito tempo fora – respirou fundo –, não se preocupe, aqui dentro você está protegida. Farei com que dois dos meus crinos fiquem de guarda, caso escute algum barulho, são eles.

– Obrigado. – a jovem tira o casaco e a bota que calçava, soltou os cabelos da trança e deitou-se contra a cama. Que a surpreendeu, ela esperava algo duro e desconfortável e recebeu uma cama macia que parecia abraçá-la, ou talvez o sono fosse tanto que ela estava encantada.

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Seus olhos foram abertos abruptamente, assustou-se ao sentir a cama afundar e algo passar as mãos em seu ombro. A jovem engoliu em seco mas ao sentir o odor agradável, ela já sabia de quem se tratava.

– Dorminhoca, já são cinco horas...

– Da tarde? – ela levantou rápido, ficando tonta em seguida. Olhou de relance para janela e viu que ainda estava escuro, virou-se confusa para Edgar.

– Não, bobinha. Cinco da matina, vamos. Você precisa se preparar para a festa. – ele estendeu sua mão, a jovem recuou mas logo agarrou sua mão, levantando da cama e esticando o corpo.

Ao saírem do quarto, haviam três mulheres paradas na pequena sala, cada uma segurava algo em mãos. A da esquerda, de cabelos negros e curtos segurava uma peça de roupa; um vestido longo. A da direita, de cabelos negros porém longos segurava um par de sandálias e a do meio, de cabelos loiros cacheados segurava uma escova de cabelo. Elas não olhavam diretamente para Mia-lena, mantinham a cabeça baixa e não diziam sequer uma palavra, no entanto, isso não assustava Mia-lena, o que a assustava era ver que essas três mulheres estavam completamente vestidas, diferente dos demais que ela houvera visto mais cedo.

Terminou de se arrumar e agradeceu com gentileza as moças que a ajudaram, recebendo apenas um por nada, Luna em resposta. Mia-lena olhou seu reflexo no pequeno espelho de mãos e suspirou, não estava preparada para uma festa, ainda mais com o frio que fazia lá fora, seu vestido era grande e seu tecido grosso fazia com que ela sentisse calor mas suava de nervoso.

– Você está magnífica. – Edgar diz, adentrando o local, com um sorriso enorme no rosto.

– Obrigado. – Mia-lena agradece, sentindo-se corar.

– Vamos, eles estão impacientes lá fora, não quero que comecem a brigar, não hoje. E também, não quero levar uma bronca de Ivan quando o mesmo voltar...

– Ivan? Esse é o seu irmão? Quando irei conhecê-lo, você fala tanto dele... – Mia-lena demonstrou curiosidade e anseio em descobrir quem era Ivan, por apenas escutar seu nome, seu corpo inteiro se iluminava.

Edgar por outro lado suspirou – Não tenho certeza mas espero que seja em breve, talvez ele goste de você...

– Ele não é igual a você?

– Igual a mim? Como assim?

– Bonzinho, sorridente e com aparência de sol. Você me lembra o sol, Edgar. – ela diz, sorrindo, entrelaçando suas mãos.

– Te lembro o sol? – ele sorrir, beijando sua bochecha – Não vejo a hora em te queimar, te deixar em brasas...

– Eca. – é tudo que Mia-lena consegue dizer, sentindo-se constrangida.

– Você vai amar a festa, preparamos algo simples, porém, você vai amar! Desculpe caso seja simples de mais para você mas é de coração...

– Não importo com essas coisas mais elaboradas, Ed. Eu amarei pelo simples fato de ser bem aceita, eu agradeço por toda essa hospitalidade.

Edgar voltou a sorrir de orelha a orelha. Contente por ter encontrado a companheira ideal, porém, seu sorriso desapareceu ao lembrar do seu irmão e ao pensar em como ele iria reagir ao notar a presença de uma recém transformada em sua alcateia. Suspirou fundo, abrindo novamente um sorriso aasim que apareceram em meio ao povo. Ele pensaria sobre isso mais tarde.

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NÃO REVISADO

Dois CompanheirosOnde histórias criam vida. Descubra agora