Capítulo 30 - Dança

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ALYSSA VISION

Não lembro da última vez que chorei tanto assim. Passei a noite inteira pensando e pensando em coisas impossíveis, tipo eu e o Tom nos darmos bem nisso tudo, embora eu acredite que ainda há esperança. Eu confio muito nele, eu só posso confiar nele. Quando Tom diz que vai fazer alguma coisa, ele faz. Então se ele disse que nós vamos fugir, a gente vai.

Tom está dormindo, ainda tem alguns resquícios de lágrimas no seu rosto. Ele é tão lindo... E eu não mereço ele, ele é incrível.

Suas tranças pretas estão caídas sobre seus ombros e sobre o meu cabelo, já que estou apoiada em seu ombro. Seu cheiro é único, consigo sentir de longe. Mesmo depois de tanto tempo, Tom é igual a antes. Mas eu não, não mesmo.

Eu adoro o nariz empinadinho dele, trás um ar de "doce e sapeca". Amo seus olhos castanhos profundos, sempre me perco neles. Posso ficar até amanhã falando sobre tudo dele, mas a Daniela, que achei que tinha morrido, me interrompeu e entrou no nosso "habitat natural".

— Acorda, porra — disse a Castro mais nova à Tom.

— Eu tô acordado — disse ele SUPER sonolento.

— Que ótimo! Assim vai ser mais fácil para mim! — Riu ela, enquanto trança seus cabelos gigantescos que vão até o meio de suas coxas.

— O que você quer? — perguntei.

— Ah, eu quero várias coisas, na verdade. Mas agora eu gostaria muito que você calasse a boca — berrou Daniela e depois continuou. — Preciso que o Tom venha comigo, agora — disse ela, apontando para ele que já se levantava me encarando confuso. Eu dei de ombros e os observei sair da cela.

Conforme o tempo foi passando, fui riscando o chão com a pedrinha que tinha ali do lado, se passaram 5 minutos, 10, 30... até que chegou 2 horas. Comecei a ficar preocupada, o que ele fez por 2 horas?

Eu não tenho como saber e minhas pernas estão dormentes demais, então resolvi me levantar e me soltar. Acho que poucas pessoas sabem que eu amo dançar, assim como cantar. Fui mexendo meus pés primeiro e depois meus quadris, acompanhando a música que estava tocando ali. Nunca ouvi música por aqui, acho que é porque as pessoas estão tão deprimidas que a Priscila teve alguma compaixão.

Enfim, quando eu nem percebi já estava no meio da cela dançando e decorei a letra da música que se repetiu por muito tempo. Não sei porque, mas a dança sempre me fez ficar mais leve, mais feliz, e eu amo isso. A música me contagia, e me mover junto a ela em uma sintonia é incrível. Dançar é libertador, você consegue se expressar sem falar nada. Você demonstra o que sente através de passos rápidos, lentos, leves, pesados, altos, baixos... Tudo. Dança é uma das minhas paixões, desde sempre. Tenho quase certeza que o Tom sabe disso, porque volte e meia eu estou mexendo o quadril no meio da cela, ou em casa, quando estávamos lá... Ele sempre me olhava, e eu fingia que não e ele também. Mas eu sei que ele gostava muito.

Parei e voltei ao meu lugar quando ouvi a porta ser aberta bruscamente pela Daniela e Tom em sua frente amarrado. Ela o prendeu ali e saiu da mesma forma que entrou, irritada.

Fiquei sem saber o que dizer, porque Tom estava estático, imóvel, quase chorando. Ele não pisca faz uns 3 minutos. Choque. É isso o que ele está sentindo, por algum motivo que vai me fazer chorar.

— Tom... ? — perguntei e ele não se moveu.

— Tom? O que aconteceu? — perguntei se novo e agora ele piscou.

— Me desculpe. — Foi a única coisa que ele disse.

— Por quê? — perguntei confusa de novo.

— A Daniela... Ela... Ela... Basicamente pagou para uma prostituta me assediar e... você sabe — imediatamente ele começou a chorar e implorar o meu perdão, e eu só conseguia chorar junto à ele. Ele se apoiou em mim e me puxou para perto dele.

— Desculpa, Alyssa. Eu tentei impedir, mas ela me ameaçou com uma arma e com uma faca e... Eu também não aguento mais. — Agora é Tom que está chorando e sou eu quem vou consolá-lo. Depois de muito tempo, muito tempo MESMO, ele se acalmou, mas ainda estava fungando. Não sei quantas vezes ele pediu desculpa e derramou muitas lágrimas pelo rosto que encharcaram o chão. Eu odeio isso, toda essa merda é minha culpa.

TOM VISION

Daniela me diz para não contar nada do que aconteceu para a Aly, mas ela sabe muito bem que eu vou contar para ela de qualquer jeito. Não tem como ficar bem depois de ser assediado e ser forçado a fazer sexo com uma puta qualquer. Não consigo pensar agora em como a Aly está, será que fizeram algo com ela? Pelo amor de Deus, por favor, não.

Estava quase rezando em voz alta até que vejo pela janelinha da porta a Aly dançando. Estava feliz, finalmente. Ela dança tão bem, não sabe o talento que tem. Fiquei hipnotizado por um tempo enquanto a Daniela abre a porta, então consegui apreciar um pouco sua dança conforme a música que tocava. Ela se remexe como se fosse parte da música, como se sempre fizesse isso, com essa música, essa dança. Essa mulher é foda.

Porém, assim que a porta se destranca, vejo ela correr e voltar ao seu lugar, cabisbaixa. Assim que Daniela me larga lá dentro ela fecha a porta bruscamente e sai com passos pesados pelo corredor. Agora não sei o que fazer. O que ela vai pensar quando souber? Ela já sofreu isso e eu a ajudei, ela não estava bem. Eu não estou bem.

O que eu estou fazendo da minha vida? A única coisa que me anima é qualquer coisa relacionada a Alyssa. Isso está ficando extremamente grave. Sinto que eu tenho depressão, embora eu nunca tenha feito realmente uma consulta com um médico para ver isso. Desde os meus 16 anos, sempre achei que tinha, mas pensei que eu só estava triste. Porém, agora a situação é diferente, estou preso há 3 anos sendo torturado e sem ver mais de 3 pessoas por dia. Não quero viver assim.

— Tom... ? — chamou Aly depois de um tempo, ainda estou olhando para o nada e pensando nisso. — Tom? O que aconteceu? — perguntou ela de novo e tive uma vontade imensa de chorar.

— Me desculpe. — Foi a única coisa que eu consegui dizer nesse momento, e a única coisa que eu preciso dizer.

— Por que? — perguntou ela mais confusa.

— A Daniela... Ela... Ela... Basicamente pagou para uma prostituta me assediar e... você sabe — disse e agora sim as lágrimas desceram dos meus olhos. — Perdão, Aly. Me desculpa mesmo, eu não tinha o que fazer — continuei e ela também está chorando ao meu lado, com pena. — Eu sinto muito mesmo, eu estava apavorado na hora, desculpa... — Chorei mais e mais, mesmo sabendo que ela me perdoa, sinto como se eu fosse um monstro. Encostei minha cabeça da dela e a puxei para mais perto de mim, não quero me separar dela mais.

— Desculpa, Alyssa. Eu tentei impedir, mas ela me ameaçou com uma arma e com uma faca e... Eu também não aguento mais — eu disse sincero, está insuportável tudo isso. Não é uma vida normal. Todo dia eu choro, a Aly também. Estou chorando agora também, pra variar. Sinto meus olhos ficarem pesados e inchados, meu lábios tremem e estou fungando muito.

Por quê? Por quê?

(...)

— Você dança tão bem... — comentei depois de um tempinho, e no mesmo instante ela se virou para mim e eu consegui sorrir levemente vendo ela corar.

— Para, Tom. Eu danço quando fico triste, brava, feliz, nervosa, medrosa, não sei. E nesse caso eu estava tudo — disse ela com firmeza, olhando em meus olhos.

— O.k... Mas ver você dançando me deixa feliz também, é sério.

— ... Obrigada? — sorriu e eu beijei sua testa.

— De nada. Boa noite. — Me deitei em suas pernas e fechei meus olhos, assim como ela.

Continua...

Without Looking Back | Tom KaulitzOnde histórias criam vida. Descubra agora