13 - Por quê?

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No caminho sinuoso de um enorme jardim, Valentina observava as pessoas sentadas na grama, montando piqueniques e jogando frescobol. O parque ainda não estava cheio, o movimento aumentava mais conforme se aproximava o horário do almoço.

- Me desculpa por mais cedo...

- Não é a primeira pessoa que me chama de babaca, nem de arrogante... - Ela sorriu culpada.

- Como você lida com o fato do mundo te conhecer? Você não deveria andar com seguranças? Alguém pode tentar te sequestrar, pedir dinheiro...

- E vão pedir o resgate pra quem? - eu sorri sem transparecer alegria.

- E sua família biológica? - ela perguntou curiosa e eu fitei o horizonte. Me aproximei de um banco esculpido no tronco de uma árvore e me sentei, ela fez o mesmo ao meu lado - Tudo bem se não quiser falar...

Depois de alguns segundos processando eu respondi

- Meu genitor morreu já faz alguns anos, foi o que eu soube. Infarto. A minha genitora está em uma casa de repouso desde que adoeceu, ela descobriu ser portadora da doença de Parkinson e precisa de ajuda constantemente.

- Nossa...

- Histórico bom né? Mas eu procuro cuidar da minha saúde de perto...

- Sinto muito por eles

- Não tenho afeto por eles, nem contato, nunca mais tive desde que saí aos treze anos. - Eu menti, mas não tanto. De fato era eu quem bancava a mensalidade daquela casa de repouso, mas evitei qualquer tipo de contato com aquela mulher que nunca soube ser mãe. - Mas respondendo sua pergunta, eu tenho meus métodos de segurança pessoal, além de ter feito cursos de autodefesa, eu tenho cuidado, tento estar sempre atenta, tenho todo um esquema profissional e seguro sempre que as joias estão envolvidas ou que vou a algum evento importante. Já fui roubada, claro. Na rua. Mas nada fora do habitual, aposto que eles nem faziam ideia o quanto aquele colar valia. Sobre a fama... bom, eu sou meio low profile. Me limito a algumas entrevistas apenas, como tudo é mais centrado sobre a empresa eu deixo a fama toda para ela.

- Entendi.

- Você gosta de caminhar?

- Sim

Me levanto e estendo minha mão para ela, ela dá um sorriso singelo e me entrega sua mão para apoiar ao levantar-se. Alguns minutos depois caminhamos por uma trilha de vegetação intensa.

- Uau, tem uma trilha no meio de São Paulo?

- Aqui tem três na verdade, e a intenção é esquecer que você está em São Paulo... Então - eu abro os braços indicando ao redor - aproveite.

Ela assentiu e observamos o caminho, atravessamos por uma pequena ponte onde uma nascente passava. Ela se apoiou no guarda corpo e ficou encarando a água cristalina correr. Fiz o mesmo apoiando minhas costas e observando a copa das árvores. Depois de um tempo, ela cortou o ar de meus pulmões com suas palavras.

- Por quê tentou se matar, Luiza? Conversa comigo...

Meu corpo todo se retraiu, fitei o horizonte em estado de alerta e completamente estática. Eu não esperava aquela mudança repentina de assunto e de clima. Até o tom de voz dela tinha sido diferente, tinha sido horripilante. Atravessei até o outro lado da ponte em poucos passos, apoiei meus cotovelos ali e refleti sobre a água passando por debaixo de mim. Percebi seu corpo se aproximando de mim, sua mão tocou meu ombro em forma de apoio. Dessa vez ela não me deu a opção de não falar, ela estava esperando a resposta, e eu imagino o porquê.

- Eu tive um ano difícil... - foi só o que consegui responder. Me envergonha admitir qualquer outra coisa até mesmo para mim.

- Ainda está tendo? - ela perguntou, esperançosa.

LILACOnde histórias criam vida. Descubra agora