35 - Eu desapareci

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Quinta-feira, 19 de maio de 2023.


Luiza

Caminho atordoada pelos cômodos infinitos daquela enorme casa.

Como pude me deixar enganar?

A dor em meu peito irradia por todo o meu corpo, a minha cabeça parece que vai explodir.

Melhor eu tomar um remédio de enxaqueca.

Não comi nada o dia inteiro e não sinto qualquer indício de fome, ainda assim o meu estômago insiste em me enjoar, causando náuseas tentando expelir o vazio. Estou tonta, perdida.

Busco em meu banheiro um antiemético para aliviar aquela agonia.

Eu deveria falar com alguém, meus advogados? Avisá-los de uma possível denúncia contra mim. Ela tinha as provas, tinha a minha confissão. Era só terminar o trabalho. Eu não sei como agir, não sei o que pensar. Me desfaço do meu casaco jogando-o no sofá.

Nunca imaginei me sentir assim, tão perdida, tão quebrada. E eu pensava que aquele ano inteiro me corroendo pela morte de alguém havia sido uma tortura. Nada se compara ao que eu sinto agora, como vou suportar? Eu sei como vou...

Disco uma, duas, três vezes. Me atende por favor.

- Oi. Preciso de uma receita mais forte...

- Você está chorando? Tá tudo bem?

- Por favor, Lívia.... Não pergunta nada. Manda pra mim?

- Venha até o hospital, eu te entrego aqui.

- Eu não consigo, só me manda no email como da outra vez...

- Não posso Lu, desculpa...

Desligo. O sedativo que eu tenho vai ter que funcionar. Talvez uma dose dupla seja suficiente. Tomo as pílulas virando o copo de uísque junto. Já é o terceiro que bebo. Me sinto alta, parece que o efeito está começando, já não dói mais. Eu só queria desaparecer. Por um momento, não existir, não sentir.

Sinto um calor extremo, ando em direção à varanda costurando os passos na intenção de tomar um ar. Me sento na borda da piscina e afundo os pés na água gelada. Alívio momentâneo.

O fundo da piscina parece mais distante do que me lembrava. As ondas da superfície da água parecem mais como um tsunami e o barulho da fauna na vegetação do entorno de minha casa é muito alto. Nunca foi assim. Que som é esse? É o canto de um Urutau?

A minha visão fica turva, os meus sentidos começam a falhar. Eu acho melhor me deitar.

Coloco a mão na borda para me levantar, mas acabo perdendo o apoio. A minha cabeça debate no piso aerado enquanto eu me desequilibro entrando direto na água. Meu corpo inteiro se encharca conforme eu afundo naquela profundeza escura.

Alívio momentâneo.

Eu deveria lutar contra a água que me engole e aos poucos me invade. Deveria me debater até alcançar a superfície, boiar, mas meu corpo parece anestesiado. São segundos de decisões que determinam toda uma vida.

"Promete que nunca mais vai fazer aquilo?"

A voz dela ressonava pelas ondas da água calma. Contrastava com as minhas turbulentas. Eu prometi que não faria isso comigo mesma, eu não queria ir para o sétimo círculo. Mas agora eu não sinto forças para sobreviver. E eu quero sobreviver? Eu quero sentir? A minha mente reproduz os comandos para meus braços e pernas lutarem, mas nada acontece. Algo bloqueia os meus instintos de sobrevivência. Eu mesma, talvez. A minha cabeça arde levemente, manchas de sangue se misturavam e se dissolviam na água diante dos meus olhos.

LILACOnde histórias criam vida. Descubra agora