24 - A verdade

4.8K 450 325
                                    


De roupão, sentada com as costas apoiadas na cabeceira da cama, Luiza tinha o olhar perdido. Toda a sua agonia e seu ressentimento tinha vindo à tona, com força total, agora que seu segredo havia sido compartilhado. Mesmo que Valentina entendesse e se compadecesse, nada poderia apagar aquilo da história delas. Luiza se sentia ainda mais triste ao perceber que elas não poderiam ter um futuro juntas enquanto a executiva não se libertasse daquela culpa e pagasse por seu crime. A CEO pensava não ter coragem de enfrentar as consequências dos seus atos, foi por isso que havia tomado aquela decisão diante daquele terraço. Mas tudo havia mudado desde então. E o motivo estava agora, diante de seus olhos, saindo do banho e caminhando em sua direção.

- Lu, conversa comigo... Para de chorar, por favor... - Valentina tinha um tom suave na voz, ela não precisava lidar com aquela informação, pois já havia processado tudo antes de aceitar aquela proposta. Sabia que tudo o que ouviu muito provavelmente era verdade quando se deparou com Luiza diante daquele guarda corpo, prestes a cair. Depois de se envolver, era óbvio, ela desejou que Luiza não fosse culpada, mas anos de experiência e entendimento já haviam sido deduzidos. Ela só precisava lidar com a confusão feita em sua cabeça e em seu coração pois tinha muitas coisas em jogo em seu país, lhe esperando com um retorno de sucesso.

Luiza encarou olhos verdes ansiosos. Como se suplicassem por uma explicação. Valentina queria muito ouvir qualquer que fosse um motivo, bom o suficiente para não precisar seguir a ética da profissão.

- Foi minha ordem, Valen. Um pedido cheio de ganância e ambição culminou na morte dele. O Juarez encobriu tudo, ninguém soube que ele estava lá a favor da Lilac. Só nós dois... - ela corrigiu - nós três sabemos...

Valentina escutava atentamente, seus olhos buscaram rapidamente o celular, mas ele não estava perto. Luiza continuou a desabafar, alheia a tudo o que acontecia.

-... Foi um deslizamento. Ele era um minerador conhecido na cidadezinha, nunca sofreu nenhum acidente, as pessoas sabiam que ele vivia se aventurando por conta própria. Isso foi o que o Juarez me disse, ele me convenceu a ficar calada, não me entregar e entregar ele que ficaria tudo bem. Ele me convenceu que foi um acidente. Mas fui eu, Valen, fui eu que ordenei que aquela pedra estivesse em minhas mãos a tempo. A campanha ia ser lançada e eu precisava daquele destaque. Eu não sei se ele se apressou, não sei o que aconteceu lá dentro...

Suas lágrimas caiam uma seguida da outra, Luiza respirava fundo tentando retomar o folego. Valentina buscou uma agua no frigobar e entregou a CEO.

- Eu sei de tudo o que acontece por lá, Valen. Não vou muito pro Ceará, mas eu sei. Eu sei que rola exploração, suborno, notas frias. No começo, nos primeiros anos, tudo ia bem, era tudo feito certo. Mas eu estava ficando pra trás. A concorrência surgia com novidades únicas, e os fornecedores não tinham aquilo pra mim. Enquanto se tratou de números e papéis, eu não me importei, eu consenti. Mas então envolveu uma vida... eu olhei pra trás e me questionei até onde valeu a pena. Por muitas noites eu acordava desse pesadelo de ser soterrada, de não conseguir respirar. Com crises. A Lívia me arrumou os remédios, eu lidei bem por um tempo. Até que eu não suportei mais... - Luiza encarou os olhos verdes marejados em sua frente. - e aí você me salvou naquele dia...

Valentina não sabia o que falar. Respirou fundo tentando desembaralhar as palavras que vagavam por sua mente.

- Lu, não se culpa. Eu sei que é difícil. Mas como você poderia saber? Foi sim, um acidente.

LILACOnde histórias criam vida. Descubra agora