50 - Confiança

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O terno de Luiza pingava sangue. Por um instante, senti o meu coração na garganta.

Mas ela se virou para me encarar, e logo em seguida fitou o olhar perdido de Lívia. A médica já perdia a consciência e caia diante do corpo de Luiza.

Consegui ver que a bala havia atingido Lívia bem acima do abdômen. O sangue jorrava rapido. Corri ao encontro de seu corpo que caiu lentamente e respirava pesado.

- Calma, respira. - tentei pressionar o local para sanar a hemorragia, eu conhecia apenas o básico de primeiros socorros. - Não fecha os olhos, Lívia. Me escuta. Presta atenção, você tem que se manter acordada. Lu, liga pra emergência.

- Meu... pai... - ela dizia com dificuldade.

Luiza tinha se ajoelhado também, mexia freneticamente no celular com mãos trêmulas e um choro copioso. 

- O médico da empresa está subindo, chamei o helicóptero também. Ela está perdendo muito sangue, Valen. - Luiza disse, fitando a poça vermelha que se acumulava ao nosso lado.

Livia já tinha dificuldade em manter os olhos abertos. Ela perderia a consciência em instantes.

- Desculpa... Lu... me... perd... - Lívia não conseguiu completar a frase. Seus olhos fecharam e sua consciência foi perdida no mesmo instante que o médico atravessou a porta do terraço, junto com diversos seguranças, vindo rapidamente em nossa direção.

Me afastei e o deixei prestar o atendimento, ficando de pé ali próximo, onde Luiza ainda mantinha contato pedindo mais ajuda pelo celular. Percebi seu corpo trêmulo, seu olhar se perdia facilmente perdendo o foco do que estava fazendo. Ela estava em choque.

- Lu... você tá bem? - toquei seu braço para que ela voltasse a atenção em mim. Percebi seu rosto contorcer em sofrimento. Rapidamente eu a envolvi em meus braços, acolhendo seu choro repleto de soluço.

- Achei que ia te perder Valen, não pude deixar ela te obrigar a pular. Não era pra ser assim. A minha mão... encostou no gatilho....

- Tá tudo bem, não foi sua culpa. Você não quis fazer nada disso... Estava só nos defendendo.

- E se ela...

- Calma, vai ficar tudo bem.

O helicóptero já se aproximava no horizonte, Luiza e eu permanecíamos abraçadas enquanto mais gente surgia de dentro do prédio, com equipamentos médicos para executar o transporte da doutora. Em alguns segundos ela já estava imobilizada na maca dentro do aeromotor.

- Eu... preciso ir ao hospital. Preciso conversar com o pai dela, explicar...

- Lu... olha pra mim. Não foi sua culpa, tá? Você vai dizer toda a verdade e eu vou estar com você. Eu só preciso resolver uma coisa antes, eu preciso encontrar o Igor e acabar com isso tudo de uma vez. Eu pedi ajuda ao meu pai. Eu vou te encontrar lá em alguns minutos, tá?

- Tá. Você tem certeza que vai ficar bem? - seu olhar me fitava com preocupação. Eu poderia imaginar tudo que havia se passado na sua cabeça, quantos gatilhos poderiam ter sido ativados.

- Nada me faria pular, Lu. Eu vou ficar bem. Você também. Acabou, ta?

Seu abraço me confortava de diversas maneiras, eu sabia que Luiza ainda me amava da mesma forma que eu. A mantive ali, em mim, por alguns segundos sentindo seu toque, seu cheiro, aproveitando o máximo possível.

Sorri discretamente ao desvencilharmos, ela sorriu brevemente de volta. Nada precisava ser dito, eu sabia e ela também.


LILACOnde histórias criam vida. Descubra agora