LILAC

27 - A missão

[8 MESES ATRÁS

Outubro de 2021]

Valentina:

- Como vão, senhores? - a jovem moça de óculos me cumprimenta em um aperto de mão. - Que bom que aceitaram a nossa proposta. - ela sorri singelo. Parecia incomodada de ter que fazer aquilo.

- A gente sabe que vocês não têm muito a oferecer financeiramente, mas o que estamos visando é o reconhecimento. Queremos crescer no mercado e uma oportunidade dessa nos trará bons clientes no futuro! - eu respondo sucinta, olhando para meu irmão ao lado que confirmava acenando.

Sorriu, parecia estar menos incomodada agora. Ela abre a pasta marrom em suas mãos e começa a retirar papéis e fotos, distribuindo sobre a mesa.

- A nossa ONG recebeu uma denúncia anônima sobre um acidente que resultou na morte de uma pessoa. Esse é o motivo principal que desencadeou o interesse em contratar vocês. O que nós queremos descobrir é quem realmente está por trás disso. A denúncia só nos disse para investigar essa empresa, que provavelmente é a financiadora da exploração no qual ocasionou a tragédia. Além disso, nós já temos suspeitas antigas que acontecem muitas irregularidades atrás dessa fachada. É uma das maiores empresas do país e nós sabemos bem o que ocorre nessas grandes corporações...

Conforme ela explicava as denúncias e suspeitas, eu anotava tudo. Os riscos vermelhos iam se formando em um completo dossiê sobre a famosa empresa de joias.

- ... Dito isto, temos a executiva deste grande império. Luiza Campos. - Ela nos entrega a foto. Uma mulher aparentemente alta e de cabelos levemente ondulados vestia um conjunto fino de terno e calça social na cor preta. Eu encarava a foto seriamente, não conseguia desfocar daquele olhar. Mas o que me chamou atenção foi sua boca. Era volumosa e tinha um tom avermelhado. Ela era uma mulher muito bonita, tinha presença. Algo ali me prendeu a atenção por tempo demais, mas a mulher falando logo me tirou daquele devaneio - Luiza é um lobo solitário, um poço de arrogância e presunção. Não tem família presente, foi praticamente adotada pela família Mourão aos treze anos. Era empregada da casa e tinha uma boa relação com a família. Seus pais biológicos não apresentam nenhum risco, o pai morreu e a mãe está internada em uma clínica. Tudo o que sabemos é que ela terminou os estudos supletivos e entrou na faculdade. Em seguida abriu uma empresa que não sabemos de onde veio o capital, mas provavelmente da mesma família que ela trabalhava. Se foi de forma legal ou ilegal, fica o questionamento. Ela lucrou muito no primeiro ano, sua empresa avançou desde então e continua avançando. Bom, resumidamente é isso, mas aqui nesses documentos você terá acesso a informações de lucros, estimativa de patrimônio, os últimos investimentos, detalhes sobre as ações da empresa e sobre os acionistas, está bem completo pois são anos tentando ajudar esses trabalhadores, mas nunca conseguimos encontrar nada concreto. - ela me entregou o amontoado de papéis. - Tudo isso é de fácil acesso, mas o que precisamos saber são as informações inacessíveis. É claro que o foco principal é encontrar o culpado pela morte do Adenilson, mas com certeza vocês encontrarão outras irregularidades que também servirão para denunciarmos as falcatruas da empresa.

- Eu entendo a motivação da ONG em punir a empresa pelas explorações irregulares, o esquema que ocorre nas mineradoras e tudo o que envolve o bem estar desses trabalhadores, mas por quê investigar a morte? Se foi um acidente natural, não há um culpado perante a justiça.

- A senhorita Luiza sabia da exploração irregular, ela ordenou que fosse acelerado o processo, conscientemente ela induziu a vítima a um trabalho excessivo, sob pressão, que pode ter sim resultado na própria morte. Nós consideramos que ela é a culpada pela tragédia, porém precisamos provar. Essa motivação exposta na mídia ajudará a abrir uma investigação perante a justiça e dará visão às outras questões que o próprio sistema tapa os olhos. Outro adendo: a família da vítima não foi encontrada, nós também temos interesse em saber o que aconteceu a eles.