31 - Percepção

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Nós estávamos completamente de guarda baixa naquele passeio. Luiza revelava mais de si mesma, enquanto eu me deslumbrava mais e mais com seu passado e seu presente.

Tento descobrir mais sobre sua rotina, suas decisões, é uma ação espontânea e automática de anos de profissão. Porém, eu já não tinha mais certeza se queria usar aquilo a meu favor.

Eu já não sabia onde saia a Valentina investigadora de Luiza e entrava a Valentina modelo de Luiza.

Eu precisei arriscar saber o porquê. Por que se jogar, por que desistir daquela forma? Luiza não parecia ser tão covarde a ponto de se matar por algumas notas frias e certas explorações fora da lei. Não era possível que aquela mulher determinada, potente e de personalidade forte fosse capaz de abandonar tudo por um motivo fútil. O que eu mais temia é que aquele segredo fosse real, ou que na pior das hipóteses, ele fosse ainda mais profundo. É claro que ela não me deu a resposta que eu queria, era cedo demais para confiar em mim. E eu bem sabia que nunca seria tempo dela confiar em mim.

O resto do dia acontece entre altos e baixos, perguntas e respostas. Invasivas ou não. Luiza queria me conhecer tanto quanto eu queria lhe desvendar. Nós tínhamos trocas de olhares, sorrisos e elogios como duas pessoas que acabaram de se conhecer. Eu sabia o que estava acontecendo. E não podia ignorar o enorme alarme em minha cabeça me alertando que aquilo era perigoso demais, mas como evitar?

Eu insisti em perguntar sobre nosso envolvimento, dessa vez pronta para receber a sua resposta. Sem imaturidade, sem impulsividade. Perceber que a consciência dela dominou sua resposta me fez cair em realidade. Aquela era mesmo a melhor decisão. Então eu concordei, mesmo que não fosse a minha verdadeira vontade.

Por mais que a decisão fosse contrária era inevitável conter a nossa 'falsa liberdade' uma com a outra. Luiza revidava cada provocação, cada olhar indiscreto, seu sorriso era encantador quando correspondia ao meu. Eu me sinto tão confusa! Queria mesmo era parar o tempo naquele restaurante, não tendo que lidar com o dia depois de amanhã!



Domingo, 08 de maio de 2022.

- Pronta?

- Vamos.. - digo sem muita animação. Eu não estava nem um pouco afim de fazer aquela viagem. Mas era essencial para o andamento do caso. Depois de muito persistir, conseguimos o contato desse rapaz tão escorregadio. Não dava pra perder a oportunidade de encontrá-lo antes que ele sumisse novamente.


Segunda-feira, 09 de maio de 2022.

O voo a noite foi tranquilo, me dopei para não sentir a viagem. Odiava voar. Igor e eu dormimos em uma pousada para sairmos cedo em direção ao local de encontro. Seriam algumas horas de viagem em um veículo 4x4 saindo do município de Parauapebas.

Ao chegar no local, muitos olhares tortos de encarregados e mineradores nos julgavam. Duas pessoas bem diferentes naquele local, com certeza chamamos a atenção. Nós estávamos em risco, é claro. Éramos suspeitos ali. Toco discretamente em meu quadril conferindo se minha arma estava engatilhada, todo cuidado é pouco em situações comprometedoras.

O barulho alto de um maquinário de mineração atrapalhava escutar as instruções que o responsável pela exploração nos dava. Ele indicava o melhor caminho para encontrar nosso informante, Cléber. O meu celular tocou em meu bolso e o nome do visor indicava que era a assistente de Luiza. Merda!

Informei que eu não conseguiria ir até a empresa hoje conforme ela solicitou. Não havia nada programado na minha agenda de trabalho naquele começo da semana pós desfile e por isso nós decidimos vir logo para cá. Mal se passaram dois minutos que desliguei com Alice e o telefone vibrou novamente. Era ela.

LILACOnde histórias criam vida. Descubra agora