48 - Inimiga

4.3K 400 283
                                    


POV *****



Sexta-feira, 20 de maio de 2022.


- Alô? .... Sim, lembro.... Vizinho? ... Como assim? Ela tá bem? ... Claro, claro, eu estou a caminho.

Meu Deus. Tudo surgiu como um turbilhão de emoções ao receber notícias dela. Nada poderia acontecer, não agora, não com ela. Eu me troco rápido e sigo em direção ao local indicado. Preciso chegar a tempo de encontrá-la.

Verifiquei toda a ficha, vejo que ficará tudo bem. Acompanho por todo o percurso enquanto observo seu rosto pálido. Seu peito sobe e desce por conta da ventilação mecânica, mesmo abatida, ela ainda é linda.

Respiro fundo, será que eu deveria lhe contar toda a verdade? Eu queria poder estar no lugar dela. Qual a sensação de pertencer à Luiza Campos?

Nunca pude saber, não me deram essa chance. Eu apenas fui descartada. Não fui valorizada, não fui escolhida.

Está tudo sob controle por aqui, ela está estabilizada e sem previsão de alta. Eu decido ir para minha sala descansar um pouco, já é tarde da noite e não haverá muito o que fazer nas próximas horas.


Sábado, 21 de maio de 2022.


Acordo cedo da chaise confortável que tenho. Tive um sonho agradável com ela, assim como muitos outros que eu sempre tenho. Não consegui parar de pensar naquela frase "Não sei se ela vai querer me ver quando acordar...". Problemas no paraíso? Isso poderia ser bom para mim.

Faço minha higiene e tomo um banho rápido, o trabalho começa em alguns minutos mas eu estou mesmo ansiosa para a hora das rondas, quero vê-la o quanto antes. Quero saber do seu progresso.

- Bom dia enfermeira Nilce. Alguma novidade?

- Pressão ok, batimentos estáveis, sem intercorrências. Nada no relatório noturno.

- Certo, vou fazer o resto das checagens.


Domingo, 22 de maio de 2022.

Entro no quarto frio e percebo seu corpo quase descoberto. Me aproximo e puxo a coberta até a altura de seu peito, livro a mecha que caia sobre seu rosto. Sua aparência já havia melhorado, ela poderia facilmente ser confundida com alguém dormindo.

Mas estava em coma induzido, sem sinais até o momento. Até que ponto nós, céticos, cremos no espiritual. Será que de alguma forma sua alma me ouvia? Depois de verificar todos os sinais vitais e atualizar o relatório, eu me sento na beirada da cama. Sua mão está apoiada ali, abaixo da coberta, e eu coloco a minha por cima. Queria poder tocá-la além disso, queria poder tê-la e chamá-la de minha.

- Queria poder te dizer tanta coisa, Lu. Mas você nunca me deu nenhuma chance. - Olhei seu rosto, na esperança de que ela pudesse acordar - Sou eu, a Lí... - respiro fundo - Lembro quando saímos para nos divertir e você me chamou assim pela primeira vez. Eu já sentia algo por você e você sabia, eu via sinais de que poderíamos ser algo, sei que existia. Por que você se abriu para ela e não para mim? O que ela tem de diferente? Ela é só uma modelo... - divaguei, pensativa - Claro, você deve conhecer muitas, alguém iria acabar te enfeitiçando... Tanto que te trouxe até aqui, até essa situação. O que aconteceu com você, Lu? Você sabe que não pode misturar remédios dessa forma. Eu deveria ter ido até a sua casa depois daquela ligação. Eu pensei em ir, mas eu não queria receber a porta na cara como da última vez. Eu ainda tenho esperanças em nós, Lu. Sei que ela não vai passar de uma distração.

LILACOnde histórias criam vida. Descubra agora