44 - La Kasta Negra

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Na rua, de frente aquela residência simples, meu coração pulsava forte. Eu estava completamente nervosa e a mercê das reações daquela mulher desconhecida. Valentina apertou o toque em minha palma, ao perceber minha respiração descompassada

- Tá tudo bem, Lu... Vamos?

Assenti e caminhei em direção a entrada, ela apertou a campainha e me olhou receosa. Sorriu gentilmente tentando me passar algum conforto.

Uma mulher surgiu, de pele clara e cabelos levemente cacheados, olhos azuis e aparentava ter a minha idade, ou um pouco menos. Era bonita, mas tinha um semblante triste, a aparência cansada e debilitada. Seu rosto curioso me observou de cima abaixo, para depois contemplar Valentina da mesma forma.

- Pois não? - ela questionou aparentemente solicita. Juarez se colocou diante de nós, entrando no campo de visão dela e sua expressão logo mudou. Tinha terror.

- Dona Clarice, a senhora lembra de mim? Precisamos conversar sobre o Denilsinho. - disse cético.

Ela já recuava os passos, negando com a cabeça. Eu me aproximei de prontidão, segurando nas barras do portão.

- Por favor, escute o que eu tenho pra falar. Nós viemos em paz... Eu prometo. - pronunciei, já alterada, tomando sua atenção.

Ela ponderou por uns segundos, intercalando os olhares entre nós três.

- Só vocês duas, esse brutamontes pode ficar aí fora.

Eu assenti, teria Valentina comigo e nada poderia acontecer se os ânimos se exaltassem lá dentro. Sinalizei Juarez que me encarou preocupado, observando também o rosto de Valentina, a qual evitava o contato com ele por puro ranço.

- Vamos... - segurei em sua mão e entramos pelo portão, nos aproximando de Clarice que aguardava.

Ela nos indicou um sofá assim que entramos pela sala, onde tinha a TV ligada na novela vespertina.

Do outro lado da sala, ela se acomodou em uma poltrona antiga, cruzou os braços em um claro sinal de defesa e nos encarou atenta, mas receptiva.

- Clarice... meu nome é Luiza Campos, eu sou dona da empresa pela qual o Juarez trabalha, aquele homem lá fora. - Ela balançou a cabeça, como se compreendesse onde eu quero chegar.

- Você é a chefona, então. - disse, sem receio.

- Sim... - respondi confusa. Era algum tipo de acusação?

- Talvez eu deveria te agradecer... - disse tão baixo que eu mal pude entender.

- Oi? - perguntei sem saber se eu havia escutado certo.

- Enfim... o que a senhora veio fazer aqui? E quem é essa?

- Essa é a Valentina, ela também procurava por você. Por outras razões diferentes da minha, mas procurava... - olhei para Valentina que tinha um olhar acolhedor e intercalava entre mim e Clarice.

Ela nada respondeu, apenas continuou nos encarando, aguardando a resposta da sua pergunta inicial.

- Eu vim primeiro prestar minhas condolências, pela tragédia que tirou a vida do seu marido... - seu olhar desceu por todo o meu rosto e subiu, desconfiada - De certa forma, eu me sinto culpada... - engoli em seco devido a angústia e a dificuldade de assumir aquilo - e eu gostaria de oferecer ajuda pra você e o bebê que vocês tiveram. Eu adoraria conhecer, ele ou ela...

- É ela... - a mulher abaixou o olhar, se perdendo por alguns segundos - mas ela não tá aqui não... - Assenti, curiosa - A senhora não precisa vir aqui me comprar não... Eu nunca falei nada pras autoridades, nem vou falar...

LILACOnde histórias criam vida. Descubra agora