41 - Reconexão

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- Valen, vai ficar para o jantar né? Acho que nós devíamos ir naquele restaurante novo que abriu...

- Eu acho que deveria voltar para SP, Sara. Vai acabar ficando tarde...

- Você pode dormir aqui, temos quartos de sobra...

- Eu não me sentiria confortável... - encarei Luiza que caminhava ao lado da irmã. Dispersa observando a rua, ela não fazia contato visual comigo. Sara também tentou olhar a irmã para captar algo, mas sem sucesso.

- Tem a casinha de veraneio também, você pode ficar lá. Mesmo achando que não tem necessidade, não é, Lu?

Luiza parecia perdida em pensamentos, olhou para nós confusa

- Oi? Ah, sim... também acho. - Disse mesmo sem saber muito sobre o que concordava. O que ela pensava tanto?



- Vou subir para tomar um banho, encontro vocês logo... - Luiza informou quando entramos na residência dos Mourão.

- Ela tá um pouco estranha, você percebeu? - Sara me questionou quando Luiza se afastou o suficiente.

- É um processo árduo o dela, Sara.

- Não tá fácil pra você também, né? - ela questiona com um semblante de pena.

- Você já sabe como me sinto, eu sou forte. Vou segurar essa por nós. Até quando eu puder, ou ela quiser.

- Vem, vou te ajudar um pouquinho. - ela me puxou pelo punho, adentrando a residência que até então eu não conhecia. Atravessamos um corredor no qual uma das portas estava entreaberta e eu escutei o chuveiro ligado. Devia ser o quarto de Luiza.

No fim havia um aparador com muitas fotos. Eu acabei desacelerando e olhando curiosa. Sara percebeu e se aproximou de volta.

- Olha... a Lu. - a loira pegou um porta retrato onde havia uma jovem magra e de cabelos rebeldes se apoiando no pilar da residência. Ela não olhava para a câmera e tinha o semblante fechado - sempre marrentinha. Eu adorava implicar com ela.

- Imagino que sim. Ela gosta muito de você.

- É recíproco. Carol nunca foi afetuosa, sempre criava intriga com a gente. Era nítido o quanto meus pais gostavam mais da gente. - ela ri - Tudo bem, era filha deles e eles a amavam também, mas ela mesmo que se fechou, o tratamento sempre foi igual. Eu acho que ela tinha raiva de nós. Minha mãe dizia que ela era muito paparicada, mimada antes de minha chegada, sabe? Eu acho que isso marcou ela. E quando a Lu chegou, foi pior ainda. Nem a terapia ajudava. Acho que deve ser algo espirituoso mesmo. Aquela ali é o cão.

Balanço a cabeça em concordância. Observo mais algumas fotos da família, reconheço poucos rostos. Queria ouvir mais sobre a história dela, mas apenas me contentei e desejei que um dia ela pudesse estar ali, ao meu lado, me contando.

- Valen... é o seguinte. Coloca essa aqui. - ela tirou uma lingerie vinho do closet abarrotado de roupas. A peça ainda estava no pacote, com etiquetas e o preço exorbitante exposto.

- Não, Sara. Não precisa disso... sério.

- Vai colocar sim, a não ser que você queira escolher outra. Olha aqui... - ela puxou uma caixa em couro cheia de pacotes com infinitas peças recém compradas.

- Meu Deus, quantas Sarinhas você tem? - perguntei espontânea

A garota gargalhou. Limpou uma lágrima que se formou em seu rosto de tanto rir.

LILACOnde histórias criam vida. Descubra agora