𝟎𝟒𝟑 . Apelido

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Ele desacelera e estaciona no primeiro ponto que vê.

- Desculpa, perdi a noção. - ele tira o cinto.

- Hyunjin, tá tudo bem? - tiro o meu também.

- Não é a primeira vez que meu pai fala isso, mas machuca muito, Minseo. - ele me olhou e vi seus olhos quererem marejar.

- Chora, Hyunjin.

- Que? - o nariz dele começou a fungar mas, sem sinais de lágrimas.

- Pare de se forçar a não chorar comigo. Pode chorar, chora o quanto quiser. - digo.

- Eu sei...

- Não, você não sabe. - procuro o olhar dele. - Hyunjin, me conta o que está acontecendo.

- Meus pais sempre foram assim. - ele começa. - Meu pai sempre pareceu ter raiva de mim, e minha mãe é sempre cúmplice.

Decido ficar quieta e ouvi-lo.

- Nunca fui pra uma psicóloga para me ajudar, nunca tive um amigo para conversar, então é muito difícil descrever o que eu sinto pra você. - uma lágrima cai.

- Tá tudo bem, Hyunjin. - começo a fazer cafuné na cabeça dele; que estava na minha frente.

- Esse é o problema, eu nunca sei o que eu sinto. Nunca nada faz sentido, nunca fez. - ele desvia o olhar. - A família é a base de tudo, mas nunca tive um mínimo apoio da minha. - a primeira lágrima deu abertura para incontáveis outras caírem dos dois olhos.

Eu sorrio de lado para ele.

- O que foi? - ele me olha, fungando o nariz.

- Não, nada... Só você... Não sei... - me embaralho nas minhas palavras. - ... Só fico mal de te ver triste.

- Lembra quando você me perguntou sobre alma-gêmea? - ele chorava muito.

- Lembro. - continuava o cafuné.

- Eu nunca cheguei perto de me sentir da forma que eu falava. Eu me sinto um idiota de cara pintada.

- De cara pintada?

- Quando você está de cara pintada, se sente envergonhado.

- Ah... - eu só olhava para o rosto de Hyunjin e lembrava do dia em que a bola quase caiu em mim no recreio. Seu sorriso quadrado sútil... Faria loucuras para pô-lo em seu rosto novamente.

- Não consigo... tirar da cabeça o que o meu pai falou. - ele fazia esforço.

- Dói, né?

- Muito! Eu não deveria estar acostumado, mas já é familiar. - ele diz. - Mas ainda me dá vontade de chorar e gritar.

- Eu sinto tanto por você, Hyunjin. Eu sinto sua criança interior gritar por você comigo.

- Ainda bem que a sente, ela está aprisionada faz tantos mas tantos anos.

- O que aconteceu com o pequeno Hyunjin?

- Sofri bullying e tive uma onda de amigos falsos...

- Bullying? Por causa de o que?

- Eu não sabia até poucos anos atrás, mas Hyungsik espalhou a todos que eu não tinha atenção em casa na primeira série. - ele fungava.

- Você tinha 7 anos? - pergunto.

- Tinha.

Ele também tinha 7 anos. Nós tínhamos sete anos.
Não vou mentir, quando estou com Hwang Hyunjin sinto como se nossas crianças da sétima idade se libertam.

- E você também. - ele lembra.

- Eu também tinha. - sorrio.

- Me faz falta alguém assim, próximo estilo família. - caiu uma lágrima que diria que estava presa.

Ele desvia o olhar novamente.

- Posso contar um segredo? - ele pergunta.

- Claro que sim.

- Eu amei muito meus pais. Eu dei muito amor a eles. - ele me olhou com os olhos brilhosos. Hyunjin, porque você tinha esse efeito em mim?!

- Mas e eles?

- Eles sempre pareceram rejeitar de alguma forma. Mas eu juro, que todas as coisas que eu já fiz, foi para que eles me chamassem de filho alguma vez. - ele assume.

- Porque eles rejeitam?

- Eu não sei. Me diziam que eu era mal criado, mal educado, que eu não era bom o suficiente para absolutamente nada. Nunca ouviu um elogio se quer da boca deles. - aquilo me doía.

- Não tem motivos?

- Eu não sei! Eu estou tão cansado de esperar por alguém ou algo que nunca vai chegar. Alguma coisa que seja salvação. - ele se deita no volante.

Eu ouvia seu choro abafado por seus braços na cara.

- Hyunjin-a, venha cá. - eu peço um abraço a ele.

Ele me abraça com a maior certeza que senti na vida, como se só aquilo estivesse certo naquele momento.

- Minseo, eu estou cansado. Meu coração dói muito mesmo. - eu acaricio seus cabelos enquanto estamos envolvidos no abraço.

- Eu sei, Hyune, eu sei. Está tudo bem, eu estou aqui.

Sinto ele sorrir no meu colo.

- O que foi? - pergunto.

- O momento está bom.

- Ah, está? - ironizo.

- Está. Estou com você, num abraço enquanto você me faz cafuné e me chama por apelidos fofos. - ele diz fungando.

- Apelidos fofos?

- 'Hyune'. - ele repete.

- Ah... Isso... - fiquei vermelha, mas ele continuava nos meus braços e eu continuava com a mão em sua cabeça.

- Cale a boca, seu Hyune precisa de muito carinho seu agora. - ele aperta levemente o abraço.

𝗗𝗔𝗬𝗟𝗜𝗚𝗛𝗧, h. hyunjinOnde histórias criam vida. Descubra agora