Quando eu resolvi sair do interior do Canadá, tinha a mais pura certeza de que estava fazendo a coisa certa, que estava fazendo aquilo que meu coração sempre me pediu.
Porém, a partir do momento que comecei a viver a vida em Montreal, percebi que talvez a calmaria e o aconchego que Bronchville me proporcionava jamais seria possível encontrar em uma cidade grande. Eu sinto falta da proximidade dos vizinhos, de patinar nos lagos congelados de uma propriedade abandonada no bairro, de tomar chocolate quente na varanda da casa dos nossos tios e de passar todos os aniversários comendo o delicioso bolo que minha avó fazia.
Mas não posso dizer que sou completamente infeliz aqui, pois reconheço que muitos dos meus sonhos só poderiam se realizar com a minha vinda para cá. Um exemplo disso é o início do meu último semestre de Relações Internacionais aqui na Universidade de Montreal, tal qual jamais imaginei conseguir, não quando no meu primeiro cursando eu pensei seriamente em desistir e voltar para trás.
Meus pais me apoiaram na vinda, mas desde aquele ano muitas coisas mudaram, e eles até se divorciaram nesse meio tempo. Mamãe ficou extremamente depressiva e meu pai foi embora para Nova Iorque com sua amante, deixando meu irmão mais novo de apenas 11 anos de idade com a mãe que está instável. Cada vez que Mad me liga chorando, um pedaço do meu coração é quebrado.
Eu quero me formar o mais rápido possível e voltar para Brounch para que eu possa cuidar da minha família.
Mas não há muito tempo para pensar sobre minha vida, já que um começo de semestre é sempre um caos para que é veterano. Encaro os calouros rindo entre si enquanto o frio congelante do Canadá os assola. A maioria está tão feliz de estar aqui, que nem mesmo o frio de -7°C os incomoda, e eu com várias camadas de roupas quentes ainda sinto os arrepios subindo a espinha.
—Sejam bem-vindos à Universidade de Montreal, bicharada.—Um dos caras do meu curso grita bem alto e começa a jogar tinta vermelha e azul nos calouros que gargalham e gritam também.—E viva o Tricolore*.
A gritaria domina o campus escuro quando o time de Hóquei no Gelo é mencionado.
—No nosso ano eles pegaram mais pesado.—Kris comenta ao meu lado.—Demorei quase três semanas para curar aquela gripe e a ressaca também.
Dou uma risada com a lembrança e afirmo com a cabeça. Com toda certeza o nosso trote foi bem pior, mas graças as novas regras das universidades, trotes malucos como aqueles não podem mais acontecer.
—Estou morrendo de frio, será que a festa já começou?—Pergunto por cima da gritaria.
—A Donna disse que o Pax ainda não chegou.—Kris responde após olhar a tela do celular. Suspiro alto.—Também estou cansada, sinto que as férias não foram suficientes.
Gargalho assentindo.
Como descansar quatro anos de curso em apenas três meses? Me diz!
—Vamos ir entrando e bebendo.—Ela gruda não minha mão coberta pela luva grossa de couro e vamos andando pela neve ainda fina sobre a grama que a última vez que vi se mantinha em um verde vibrante, mesmo que a fina camada de neve ainda a cobrisse.
As festas universitárias são o único momento que temos para esquecer o problemas acadêmicos. Eu era mais ativa no início, mas agora com minha pressa de formar sem dever nenhuma matéria, optei por focar nos estudos.
Obviamente tem pessoas que não possuem o mesmo pensamento que eu, mas não pensem que eu os julgo, na realidade eu os admiro e os invejo muito, pois a faculdade é o último momento antes que o peso da vida adulta nos esmague lá fora. É necessário aproveitar, pois viver o restante da existência desejando voltar no tempo deve ser o pior sentimento.
—Olha quem apareceu.—Kris empurra meu braço quando já estamos no hall aquecido da casa. Olho na direção que ela pede, até ver o alvo.—A cada ano que passa esses caras ficam mais bonitos.
Seguro a risada, mas não discordo, pois seria uma grande mentira.
Os jogadores do time da universidade são o ouro daqui. O time atual tem—em sua maioria—grandes chances de irem para a liga profissional, além de serem encantadores. Sempre tive uma visão muito ruim de atletas, mas talvez eles sejam os melhores que já conheci. Acho que por sabrem de sua importância, não são tão irresponsáveis como estamos acostumados a ver.
Penduro meu casaso felpudo e vou retirando as luvas para guardar na bolsa, até que sinto um impacto nos minhas costas e algo gelado escorrendo pela minha espinha até minha bunda.
—Porra.—Exclamo.
Tricolore: Significa Tricolor, traduzido do francês para o português. Faz referência ao time de Montreal—Montreal Canadiens
Primeiro capítulo de Querido Sebastian publicado!!
Tô muito animada com esse livro, gente! Espero que gostem tanto quanto eu!!!Feliz Ano Novooo
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Querido Sebastian
RomanceMelinda Winfred é uma boa garota. Ama sua família mais que tudo e ama cafés amargos também. Em seu último ano na Universidade de Montreal, no Canadá, Melinda conhece o astro de hóquei universitário Colin Balenger. Ou Sebastian para os íntimos. Col...