—Adianto que a história tem muito mais camadas do que vou te conta agora, mas não porque eu não quero que saiba sobre mim... É que ainda não me sinto pronto.
Sentados no colchão macio, um de frente para o outro, com as mãos unidas em uma só, meu namorado me encara com seus olhos castanhos tão tristes, que um buraco vai se abrindo dentro de mim.
—Tudo bem.—Aceito tocando em seu rosto e abrindo um pequeno sorriso para encorajá-lo.
—No ensino médio, os pais da Sierra não queriam nos separar, então sugeriu que eu e Bonnie estudássemos na mesma escola.—Engole seco.—Consegui uma bolsa, e todos fomos para lá. Alguns meses depois do primeiro ano, eu consegui entrar para o time de hóquei, e foi lá que conheci George DiLaurentis. O pai do Joshua.
Prendo o ar nos meus pulmões.
—Joshua é mais velho que eu, e naquela época já estava no seu primeiro ano na faculdade.—Isso me deixa mais supresa que o restante da história. O cara não parecia ter mais de vinte e dois anos.—O George era o treinador do time, e se gabava pelo filho jogar aqui. Eu e o treinador iniciamos uma relação como...—Vejo seus olhos marejarem.—Para mim era como uma família. Mas então, no meu último ano conheci um primo de Sierra que era olheiro do time de Boston, nos Estados Unidos.
—Deixe-me adivinhar...—Sussurro.—George não o deixou ir?
Ele nega sorrindo sem humor.
—Ele me deu apoio.—Fala.—Mas enquanto minha carreira começava a decolar, a de Joshua não ia muito bem, pois nenhum time havia demonstrado interesse nele. Ele queria os Canadiens.—Explica.—George propôs ao time de Boston que colocasse o filho para jogar também, pois caso o contrário eu não iria jogar para eles.
—Babaca!
—Muito.—Afirma.—Em uma competição idiota entre nós, eu acabei sendo expulso do time por... Algumas questões.
Arregalo meus olhos.
—Eu sinto muito.—Lamento aumentando o aperto entre nossas mãos.—Quais questões?
Sebastian ruboriza as bochechas e suspira alto. Percebo sua mão trêmula na minha minha e logo ele se afasta e limpa suas palmas suadas na colcha da cama.
—Ele usava drogas.—Fala baixinho.—E um dia, em uma festa do time, ele me ofereceu. Eu havia falado que não queria e que ele não deveria usar, já que tínhamos um jogo no dia seguinte, mas Josh não me escutara. E nem eu mesmo me escutei. Acabei usando com ele e fiquei muito chapado. Josh queria que eu fizesse aquilo, para que fosse expulso ao passar pelos exames que eram feitos antes dos campeonatos. Ele tinha o pai para defendê-lo... Mas eu não tinha ninguém.
Seus olhos marejam e esse é o fim para mim.
Meu coração se quebra e vários pedaços. Minha alma se rompe e todo o meu corpo treme com a vontade imensa de chorar aninhada ao corpo dele.
Porém não me aproximo de Sebastian. O deixo em seu próprio espaço e apenas assinto para que ele veja que eu o entendi.
—O plano dele deu certo. Fui expulso do time e mandado de volta ao Canadá.—Conta nostálgico.—Chegando aqui, George me deu um sermão e disse que nunca mais queria estar envolvido comigo. Foi assim que troquei de escola, enquanto o Josh ainda estava em Boston. Me dediquei ao hóquei com todas as minhas forças naquela época. Consegui uma bolsa de estudos graças ao hóquei e vim estudar aqui. Eu não sabia que Josh havia voltado, pois até certos meses atrás, eu ainda acompanhava as redes sociais de Boston e o via por lá nos treinos.
—Isso é uma merda.—Sussurro.—Sebastian...
—Ele tem raiva de mim, pois o pai o esnobava muito, e de repente mostrou interesse por um garoto que nem mesmo era o seu filho.—Conta com a voz embargada.—Ele se sentiu excluído. Sentiu que sempre teria que seguir os mesmos passos que eu.
—E por que você tem tanta raiva dele?—Pergunto franzindo a testa.—Além da merda que ele fez, claro. Você não tem muitos motivos para ter raiva dele,
Sebastian suspira e olha para cima.
—Por que eu...—Começa.—Mesmo com as discussões, eu o via como um irmão, e ele... Mentiu para mim, me enganou e... Tornou as coisas mais difíceis do que são para mim. Eu tentava ajudar Josh em tudo que era do meu alcance envolvendo hóquei, mas ele me abandonou... O meu irmão.
Assinto.
É quase palpável a dor que ele mostra em seus olhos. Sebastian nunca demonstrou ser tão quebrado como agora.
E vê-lo sofrer, é como se milhares de facas afiadas se enfiassem em meu peito.
Ele é só um garoto... E naquela época era um garoto que queria uma família.
—Sinto muito, amor.—Sussurro.—Sinto demais, Sebastian.
Ele assente ainda sem me encarar nos olhos.
Ficamos abraçados por alguns minutos, apenas aproveitando a companhia e o carinho um do outro. Sebastian deitado com a cabeça em meu colo, as mãos agarradas a minha cintura me acariciando e a respiração lenta e pesada no meu pescoço.
A cada vez que eu tenho a oportunidade de conhecer mais alguns fragmentos da vida de Sebastian, percebo como era impossível não me apaixonar por ele.
A sensibilidade pela qual ele vê o mundo e as pessoas, mesmo depois de ter sofrido muitas coisas que eu ainda não sei por completo, só reforça o fato de que é um homem incrível.
E que eu posso amá-lo.
E sinto que estou no caminho para amá-lo muito.
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Querido Sebastian
RomanceMelinda Winfred é uma boa garota. Ama sua família mais que tudo e ama cafés amargos também. Em seu último ano na Universidade de Montreal, no Canadá, Melinda conhece o astro de hóquei universitário Colin Balenger. Ou Sebastian para os íntimos. Col...