Querido Sebastian

2

—Porra.—Exclamo.

Meu corpo inteiro arrepia pelo frio e eu sinto que meu cabelo está enxarcado. Antes que o cheiro forte de vodca atinja minhas narinas, eu me viro para encarar o meliante.

—Me desculpa.—Olhos castanhos me encaram arregalados.

Desculpo, é claro que sim.

Simplesmente Colin Belanger me encara com a expressão mais encantadora do mundo, enquanto em suas mãos estão a arma do crime: Um copo grande com o líquido gelado.

—Estou enxarcada.—Murmuro desviando nossos olhares e puxando minha blusa nova toda molhada e fedendo a ácool puro.

—Você está bem, Mel?—Kris toca meu ombro e faz uma careta quando o cheiro forte a atinge.—Caralho.

Reviro os olhos.

Beber muito até fazia parte dos meus planos, mas agora tomar um banho de bebida não.

—Sinto muito.—O cara alto volta a repetir com sua voz calma e grave.—Eu estava no celular e não vi você.

Assinto não dando muita atenção ao que ele diz, apenas pensando nas dezenas de doláres que gastei na droga da minha blusa e agora ela se encontra destruída justamente na ocasião que eu escolhi para estreia-la.

—Tudo bem.—Murmuro e pego meu casaco novamente.—Vou para casa trocar.

Olho para Kris que tem as sobrancelhas loiras erguidas e o foco total em um certo jogador alto e musculoso a nossa frente. Preciso segurar seu queixo disfarçadamente para que ela pare de babar.

—Ah...—A garota coça a garganta voltando os olhos para mim.—Acho que não precisa. Talvez alguma garota tenha algo para te emprestar.

Suspiro me forçando a ignorar a presença forte do homem e olho para minha amiga.

—Se esqueceu que é uma fraternidade masculina?—Pergunto óbvia e Kris faz uma careta.

—Eu...—Colin chama nossa atenção.—Posso te emprestar algo. Eu moro aqui.

Sugere meio sem jeito. Isso me dá vontade de sorrir, mas mantenho minha expressão séria. É sempre engraçado ver homens tão grandes e largos com atitudes que não condizem muito com sua aparência.

—Tenho quase certeza que não vestimos o mesmo tamanho.—Falo e o observo dos pés a cabeça. Colin sorri de canto, causando um formigamento em mim.

Homens de sorrisos bonitos podem ser o meu ponto fraco.

Acho que o cheiro do álcool me deixou bêbada.

—Acho que é melhor que ficar com isso.—Aponta para minha linda blusa destruída.—E a festa ainda nem começou, não pode ir embora.

Na verdade eu posso sim, mas talvez eu deva ficar só mais um pouquinho.

Nos encaramos por alguns segundos que mais se apreceram horas. Enquanto eu me esforço para não deixar o pequeno sorriso de timidez sair pelos meus lábios, Colin sorri de canto como se soubesse todas as sensações que causa nas pessoas.

Somos interrompidos por um pigarro.

—Bom...—Kris começa com seu olhar sugestivo.—Vou esperar aqui.

Assinto.

—É lá em cima.—Colin aponta na direção das escadas que já começam a ficar cheias.—Pode ir na frente.

Me abre espaço para passar. Engulo seco e vou andando, mas antes lanço um sorriso para Kristen.

Ela sabe que não fico com um cara há meses, desde que o idiota do meu ex me traiu com minha antiga amiga dentro no dormitório no qual dividíamos. Tudo bem que não éramos melhores amigas, e talvez nossa relação pudesse ser resumida em colegas de quarto, mas a garota era uma das únicas pessoas que me conheciam mais a fundo e o meu relacionamento também.

Eu dei uma pulseira cara a ela no dia de seu aniversário. E vadia me devolve a cortesia transando com o meu namorado na cama ao lado.

Isso aconteceu no semestre retrasado, quando Dalton estava quase se formando. Graças a Deus ele se foi e acredito que não esteja morando em Montreal mais.

Subindo as escadas, sentindo apenas a presença de Colin a minhas costas, vou desviando das várias pessoas pelo caminho, até alcançar o topo das escadas, onde há um corredor com várias portas.

—É a última.—Um arrepio me sobe quando a voz grave fala ao meu ouvido.

É a vodca. Certeza.

Ou a carência.

A maneira mais clichê do mundo para se conhecer, não acham? Kkkkkkkkk

Beijo! Até amanhã!