Tudo ficou bem. Mais uma vez.
Minha mãe permaneceu no hospital durante uma semana, sendo assim, eu não pude voltar a Montreal com Sebastian.
Maddox está muito abalado por ter que ficar sozinho, mas eu o tranquilizei dizendo que o buscaria no natal, assim poderíamos passar o final de ano juntos.
Mamãe me ligou e implorou por desculpas, as quais eu insisti que não eram necessárias. Falamos sobre como funcionava a nova rotina de medicação e terapia. Ela disse que se sente bem, mas negou me explicar o que exatamente aconteceu naquele dia.
As vezes eu tento com todas as minhas forças entender o lado dela. Tento tanto, que até me esqueço do lado meu e de Maddox. Me pergunto como ela não pensou em nós, como não viu o quanto isso nos deixaria destruídos.
Será que ela não vê sua própria importância como mãe? Sei que deve ser uma merda ser resumida a isso, mas porra... E eu? E o meu irmão?
Ele só tem onze anos de idade, não é justo que precise passar por tantos traumas assim.
Fico rezando todas as noites para que meus pais sejam pais normais, que sejam pais que ao menos se importam com a gente.
Só que quando eu abro meus olhos de manhã, tenho que ligar para os vizinhos, minha mãe e meu avós para ter certeza que tudo está bem.
Agora estou encarando o teste do professor demônio, quase chorando de alegria por mais uma nota decente. Ou talvez seja de tristeza pela quantidade absurda de merda que acontece na minha vida.
Sebastian também comemora ao meu lado. Feliz. Porque esse é o meu namorado.
Ele é feliz com poucas coisas, com mínimas coisas. Ele é tão encantador, que me irrita.
—Tenho uma ótima professora.—Se gaba para os amigos na hora do almoço.
Não sei se sou uma boa professora, já que nossas aulas se resumem em beijos que sempre acabam em sexo bom.
A cada dia que se passa eu tenho certeza que esse cara me deixa distraída demais.
Há alguns dias me peguei pensando nele durante uma reunião super importante para a próxima viagem que faremos aqui na faculdade. Pensei em passar os dedos entre os fios macios do cabelo dele, pensei em beijar aqueles lábios incríveis, pensei em arrancar uma gargalhada sua com alguma piada boba, e... Pensei em nós dois transando em lugares obscenos.
Não que já não fazemos isso.
Não vou me esquecer do dia que fizemos no rinque de treinamento após o horário. E na academia quando todos os colegas foram embora.
É tão louco quando estamos juntos. Tudo vira motivo de diversão.
Mas a realidade não me deixa curtir demais. Todas as vezes que estou nos céus com Sebastian, algo me traz de volta ao chão e o peso volta as minhas costas.
Lembro do meu irmãozinho sofrendo em Brounch, da minha mãe deprimida ao tomar seus remédios, do meu pai idiota falando coisas ruins...
Me lembro que sou Melinda Winfred, e me forço a esquecer que sou a "Gatinha do Balenger".
—O que você tem?—Sebastian pergunta após mais uma crise existencial me atingir.—Tá com uma carinha tão triste, amor.
Segura meu rosto entre as mãos e distribui alguns beijos.
—Tô bem.—Murmuro me afastando.—Preciso ir para o dormitório hoje.—Falo enquanto procuro minhas roupas que ocupam o armário dele por completo.—Kristen quer uma noite das garotas.
Ele sorri ladino.
—Isso é legal.—Afirma.—Sei que não está bem, Melinda.
Começa com a mesma conversa de sempre, desde o dia que minha mãe... Bom... Desde aquele dia.
—Não, Sebastian.—Resmungo.—Eu estou ótima.
Puxo a blusa larga que estou vestindo e me enfio nas minhas roupas que, honestamente, parecem muito desconfortáveis agora que me acostumei com as dele.
—Gatinha.—Chama se levantando.—Não quero te pressionar, só quero que saiba que pode contar comigo.
Assinto sem o encarar.
Eu sei que posso. E ainda bem que posso.
Mas talvez isso não baste.
Só que não quero dizer isso a ele. Não quero deixá-lo pensando que não é importante para mim. Por isso prefiro me afastar e pensar apenas para mim mesma todas essas merdas.
—Estou indo.—Deixo um beijo rápido em seus lábios e corro para fora do quarto.
Acabo tropeçando em Darius no caminho, e o cara apenas me segura pelos ombros no lugar e franze o cenho.
—Tudo bem com você, cunhada?—Pergunta me analisando.
O que eu tenho afinal? Há chifres nascendo em minha cabeça? (Se sim, Sebastian está morto! Morto!!!)
—Tudo ótimo, cunhado.—Devolvo com um sorriso e volto a descer a escadaria.
Os homens presentes já nem se surpreendem comigo, nem se preocupam se eu estou vendo eles cheirarem as meias usadas, limparem seus narizes em qualquer estofado, ou colocar a mão no pênis despretenciosamente enquanto assistem TV.
Ao chegar no meu dormitório, respiro fundo e me jogo na cama também desconfortável que eu não durmo há alguns dias.
—Quem é vivo sempre aparece.—Kris provoca se deitando ao meu lado e me abraçando.—Animada para a noite das meninas?
Suspiro.
—Kris...—Levanto meu rosto já molhado em lágrimas.—Tem como ligar para as suas mães?
Minha amiga arregala os olhos, mas então me puxa para um abraço apertado.
—Vou ligar agora mesmo.—Sussurra.
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Querido Sebastian
RomanceMelinda Winfred é uma boa garota. Ama sua família mais que tudo e ama cafés amargos também. Em seu último ano na Universidade de Montreal, no Canadá, Melinda conhece o astro de hóquei universitário Colin Balenger. Ou Sebastian para os íntimos. Col...