Encaro meu reflexo no espelho mais uma vez e tento deixar meu cabelo menos volumoso, mas isso é impossível.
Ajeito a touca branca, da cor do meu suéter e suspiro alto.
—Vai sair?—Kristen pergunta ao sair do banheiro penteando os cabelos.
—Sim. Vou no treino do Sebastian e depois vamos jantar juntos.—Aviso ignorando o sorriso que quer se formar no meu rosto.
Ouço o estalo na língua.
—Isso é perfeito.—Exclama.—Mas é tudo casual, né? Tipo... Você trocou nosso chá de ervas por uma bomba doce por espontânea vontade, sem influência de ninguém. Você também não assiste jogos de hóquei a madrugada inteira por influência, é que descobriu seu interesse por esportes agora...
—Kris, por favor.—Choramingo me aproximando dela.—Não complique o que está tão fácil.
—Eu complicando algo, Mel?—Espalma a mão no peito.—Ele anda por aí dizendo que você é dele, não permite que os caras do time olhem na sua direção e, simplesmente trata todos ao redor como sacos de lixo, enquanto você parece ser uma imperatriz poderosa ao olhos do cara.
Gargalho alto.
Mas pela expressão séria de Kris, meu sorriso se fecha aos poucos.
—Vou falar sobre isso hoje.—Afirmo.—Vou deixar tudo as claras.
Os olhos azuis se apertam ao me encarar, mesmo quando eu deixo vários beijos na bochecha da mulher.
—Só não quero que perca oportunidades incríveis por medo de dar errado novamente.—Explica.—E não somos homens para ter toda essa casualidade.
Arregalo os olhos.
—Acho que isso é misógino da sua parte.—Pondero.
—Claro que não! Não é uma crítica, é apenas um fato. Quem dera se fôssemos assim.—Se apressa em corrigir.—As vezes você só nasceu com o sexo errado.
Eu assinto em concordância.
—Realmente.
Saio do dormitório segurando minha bolsa e ajeitando meu casaco azul bebê por cima de todas as camadas de roupas que coloquei.
Hoje Montreal está -15ºC. O frio está de congelar os ossos e a tempestade de neve está prevista para a madrugada de hoje.
Caminho até a arena de treinamento do time, que graças aos céus é bem próxima do dormitório. Assim que adentro o lugar, a temperatura não é muito diferente do que está lá fora, mas é bem mais aconchegante.
Retiro os flocos de neve dos meus cílios e pego um copo de água quente para beber.
Um café de abóbora cairia como uma luva agora.
Ao rinque vejo todos os jogadores com seus equipamentos jogando entre si. O treinador grita como um louco ao meio deles e gesticula rapidamente com as mãos.
Há poucas pessoas parentes no local, fazendo com que qualquer barulho ecoe pelo lugar espaçoso. Vou andando entre as cadeiras até chegar o mais próximo da proteção possível.
Vejo Sebastian retirar o capacete por alguns segundos para poder conversar com o treinador e vejo o quanto ele está suado, mesmo que o frio esteja de matar.
Seus cabelos estão grudados na testa, suas bochechas extremamente vermelhas e os olhos arregalados focando em um ponto específico do gelo, enquanto o treinador fala ao seu lado.
Não demora muito para que eu seja vista, mas ganho apenas um aceno discreto e uma piscadela.
Enquanto o treino vai acontecendo, vou olhar minhas redes sociais e revisar alguns trabalhos da semana que vem, além de responder as mensagens insistentes do meu irmão.
Ele está com medo que o voo seja cancelado amanhã... E eu também.
Alguns longos minutos depois, os jogadores saem do rinque e o único que patina o contrário dos colegas é Sebastian Balenger.
Ele retira o capacete passando a mão no cabelo suado e para com as mãos na proteção de acrílico.
—Oi, gatinha.—Cumprimenta.
Me levanto sorrindo.
—Oi, Sebs.—O vejo abrir um sorriso largo.—Isso é um treino de como se matar e matar os outros jogadores?
Pergunto apontando para o rinque.
—Ah...—Ele dá uma risada.—Não é tão agressivo quanto parece.
Ergo uma sobrancelha.
—Achei que iam matar você.
—Eu sou o capitão, amor, e o melhor do Canadá.—Joga os cabelo imaginários do ombro, me fazendo rir.—Brincadeira. Somos treinados para aguentar tudo isso, e eu jogo a vida toda, por isso acho normal.
Eu assinto.
—Me desculpe, Senhor "Sou o melhor do Canadá".—Dou uma batidinha no acrílico e damos uma risada em uníssono.
Sebastian avisa que vai tomar um banho e vai patinando para fora da minha vista.
O que não é difícil, já que meus óculos permanecem pendurados na gola do meu suéter desde que pisei aqui dentro.
Vinte minutos depois o jogador sai do vestiário com todos os amigos, vestindo uma calça jeans escura, tênis branco e um moletom branco da universidade.
E ele consegue ficar mais lindo que o normal.
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Querido Sebastian
RomansaMelinda Winfred é uma boa garota. Ama sua família mais que tudo e ama cafés amargos também. Em seu último ano na Universidade de Montreal, no Canadá, Melinda conhece o astro de hóquei universitário Colin Balenger. Ou Sebastian para os íntimos. Col...