Capítulo 35

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• pov. Rafaella •

Permaneci aquela noite no hospital e recebi alta na manhã seguinte. Além dos arranhões pelo corpo, eu tinha um corte na coxa devido ao impacto da colisão. O médico disse que o cinto de segurança foi o que me salvou, mas não salvou meu filho.

Várias recomendações foram me passadas para a recuperação da curetagem, ficar mais quieta por uma semana e anti-inflamatórios para a dor.

Dor essa, apenas a do corpo.

Não era apenas meu ventre que estava vazio, meu coração também estava. Parece que minha alma tinha se rasgado.

À tarde, Gizelly recebeu a ligação que o homem que bateu em meu carro estava bêbado e após sair do hospital, foi preso.

Pelo menos isso.

{...}

Aquela semana que passou, foram os piores dias da minha vida. A dor do luto que eu estava vivendo, a perda daquele serzinho que poucas pessoas sabiam, mas que já era tudo pra mim. Era devastador.

E o que me doía ainda mais, era ver Gizelly calada, guardando a dor pra ela.

Gizelly se fazia de forte, mas eu sabia que ela estava sentindo tanto quanto eu, eu via a tristeza em seu olhar, mas ela não deixava se abalar na minha frente, ela queria me dar forças, mesmo que ela mesma, não tinha nem pra ela.

Era domingo e estávamos aqui deitada na sua cama, em completo silêncio.

- Ei, conversa comigo. chamei sua atenção.

- O que você quer conversar?

- Eu quero que você fale comigo, o que está sentindo.

- Está tudo bem, amor.

- Não tá, eu te conheço Gi, desabafa comigo, para de guardar as coisas só pra você.

- É que está doendo... ela disse baixinho e abaixou o rosto. - Mas uma de nós duas tem que ser forte e ser o amparo, o consolo, da outra e esse é meu papel.

- Não, você está aqui por mim e eu estou aqui por você, passamos a primeira perda juntas e vamos passar por essa juntas também.

- Eu sonhei tanto com nós três. ela murmurou e se entregou ao choro.

A abracei e permanecemos ali, chorando juntas, querendo expulsar aquela dor de alguma forma.

Por mais que eu sabia que não ia passar.

{...}

Gizelly e eu remarcamos a data do nosso casamento. Não estávamos em clima de festa, claro, queríamos nos casar, mas optamos por deixar esse momento especial um pouco mais pra frente.

Eu voltei a trabalhar e fazer o que eu mais gostava, me ajudava a não ficar pensando muito na minha perda.

Após dez dias, eu fui a uma consulta com Marcela e fiz um exame e um ultrassom. Marcela, como sempre, foi muito atenciosa comigo e Gizelly, disse para não desistirmos, que tudo ia dar certo.

Os meses seguintes, Gizelly e eu, dividíamos e compartilhávamos a nossa dor, foi e estava sendo um processo difícil e doloroso, mas era era essencial para o nosso processo de cura.

E assim a gente íamos seguindo naquela montanha russa de sentimentos.

Tem dias que me sentia bem, mas às vezes, as lembranças vinham com força total, me deixando com aquela confusão e tentativa de fugir da realidade. Nossa vida era um ciclo de superações e recomeços, e eu queria seguir em frente junto de Gizelly.

{...}

- Eu nem queria contar ainda, por causa do momento difícil que passaram, mas, já estou começando os quatro meses, já já vocês iam perceber. Manu falou.

- Já está dando pra perceber amiga. Bia disse.

- Não se preocupe amiga, está tudo bem, estou muito feliz por vocês dois, de verdade.

- Obrigado! Jullio agradeceu.

- Eu tenho certeza que o bebê arco-íris de vocês duas vai chegar logo. foi a vez de Mari falar.

- Ai amiga, eu nem sei se quero mais tentar sabe?

- Não fala assim Rafa, vão desistir assim tão fácil do sonho de serem mães? Mari questionou.

- Já somos mães, de dois anjinhos. Gizelly respondeu cabisbaixa e senti meu coração se apertar.

- Eu não quis dizer isso, claro, já são mães sim, e os dois anjinhos que vão mandar o irmãozinho pra vocês.

- Não sei explicar direito, mas eu não quero tentar, eu não sei se aguento outra perda. desabafei sentindo as lágrimas molharem meu rosto.

- Oh meu Deus! Bianca veio até mim e me abraçou. - Acalme o coração, que o que precisa dar certo, vai dar certo, e dá tempo de tudo, principalmente de ser feliz, hum? assenti.

- E está tudo bem, essa vontade delas precisa ser respeitada. Manu disse.

- E saiba que estaremos aqui pra tudo que precisarem, sempre. Mari disse.

- Obrigada meninas! Gizelly agradeceu.

- E os nomes já escolheram?

- Sim, se for menina Júlia e se for menino, Mateus.

- Lindos e eu acho que é o Mateus. Bia disse.

- Eu acho que é a Júlia. Mari falou.

- Independente de quem seja, só sei que eu irei fazer o acompanhamento mensal desse neném, todos os mesversarios.

- Claro, nossa melhor fotógrafa. Jullio disse.

Ficamos ali conversando sobre outras coisas aleatórias, até o cair da noite.

•••

To be continued...

Professora Substituta Onde histórias criam vida. Descubra agora