𝟎𝟎𝟏 | Fortaleza Num Mundo Quebrado

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Com um estalo, a bola atravessa a rede do aro. Mason solta um grito de triunfo e corre pela quadra como um leão.

Ele para, e Johnny — que ganhou músculos nos últimos anos — se aproxima dele.

— Cara, como você faz isso?

Johnny indaga, admirado, fitando Mason, o garoto de 15 anos que parece ter 30 — uma penugem rala cobre o canto do seu rosto, tentando ser uma barba — endurecido pela pandemia, o próprio albert Einstein do grupo como diz Steph.

Mason se acomoda na arquibancada da quadra ampla, que mede 28 metros de comprimento por 15 de largura. Algumas pessoas se espalham pelos assentos. Desde que a praga devastou a terra, há seis anos, boa parte dos sobreviventes se reúne semanalmente para jogar ou assistir a uma partida.

— É só matemática, amigo... É só matemática!

A voz dele ressoa pelo o ambiente desolado da quadra com linhas de demarcação azuis no chão de madeira firme. Nos últimos seis anos, cada um contribuiu com algo, mas Mason foi o mais dedicado.

Ele passou boa parte dos primeiros dois anos devorando todo tipo de livro, desde os didáticos — ciências, geografia, química e física — até os da biblioteca e de guias encontrados em algumas casas ao redor que contém como cultivar, manual prático de energia solar e entre outros. Mason ajudou a transformar a escola em um lugar melhor, criando um sistema de captação de água da chuva — para beber e se lavar — que funciona muito bem.

Pelo menos uma vez por semana, o grupo usa a água para se banhar no chuveiro localizado nos banheiros do fundo da escola, que por sorte têm canos em bom estado e vestiários com roupas esportivas que Mason usa agora.

Ele também vasculhou os arredores do bairro e conseguiu material suficiente para reforçar o portão e cobri-lo com um longo pano preto, para que os mortos não vejam o que há dentro.

Também com base nos conhecimentos adquiridos nos livros sobre energia solar, ele habilmente projetou e instalou uma série de painéis solares no amplo pátio da propriedade. Utilizando materiais improvisados e sua engenhosidade, ele montou os painéis estrategicamente para capturar a maior quantidade possível de luz solar.

Além disso, arranjou um canto com terra no fundo do pátio e plantou sementes. Pegou alguns carrinhos de metal de mão e tirou as rodas e encheu de terra e semente, para aumentar a plantação.

Graças a Mason, a escola — que abriga agora mais ou menos 30 pessoas, sendo apenas três adultos e o resto crianças que foram encontradas há seis anos escondidas na quadra, com exceção de algumas — se tornou um refúgio do caos do lado de fora.

Agora Mason caminha para o lado de fora, em direção à plantação. Agora com suas vestes normais, simples e confortáveis, encontradas em uma loja abandonada nas proximidades. Steph, sua companheira de sobrevivência, prefere as roupas escuras e rasgadas que combinam com seu estilo gótico.

O grupo também usam os uniformes da escola quando precisam, mas Mason sente que eles são um lembrete doloroso do que foi perdido. Ele caminha pelo corredor de armários, alguns vazios e outros com desenhos feitos pela própria Steph. Ele cumprimenta alguns rostos conhecidos.

É quinta-feira — ou pelo menos ele acredita que seja, pois perdeu a noção do tempo há muito tempo — dia de ver se está tudo em ordem. Ele adquiriu esse hábito depois que um morto-vivo invadiu a escola por uma brecha no muro de concreto e matou uma menina que brincava inocentemente no balanço. Desde então, ele se tornou mais vigilante e cuidadoso, como um guardião da vida que ainda resta.

Ele atravessa a porta de vidro dupla e se dirige até o fundo do pátio e se depara com as quatro figuras femininas que trabalham na horta. Elas foram resgatadas há um mês, depois que seu antigo refúgio em cabanas foi atacado por uma horda de mortos e seus pais e seus amigos morreram. Elas escaparam por um triz, mas carregam as cicatrizes daquele dia em suas almas.

The Dead Come Back To Life: O Caminho Para CrossvilleOnde histórias criam vida. Descubra agora