𝟎𝟎𝟕 | Em Desespero

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A criatura, que outrora fora um homem, agora se levanta lentamente da cama, onde repousava apenas com um ferimento superficial na barriga. Seus olhos, outrora cheios de vida, agora são poços vazios, sem qualquer traço de humanidade. Ele cambaleia, um grotesco simulacro de vida, com seus movimentos desajeitados, quase marionéticos, guiados por uma fome insaciável. O corpo, desprovido de alma, se arrasta até a janela quebrada da sala, onde a lua minguante projeta uma luz pálida, quase doentia, sobre os destroços deixados pela invasão dos cicatrizes.

Com um impulso desajeitado, a criatura se lança para fora, caindo com um baque surdo na varanda de madeira que estala sob o impacto, como se protestasse contra o peso morto. Por alguns segundos, tudo fica em silêncio, exceto pelo som agourento do vento que sussurra entre as árvores do lado de fora de Crossville. Então, um grunhido gutural escapa da garganta da criatura, enquanto ela se ergue. O céu, ainda envolto em escuridão, parece conivente com a cena macabra que se desenrola abaixo.

A criatura avança cambaleando, cada passo ecoando pela noite vazia, como se o próprio mundo estivesse segurando a respiração. Desce as escadas com dificuldade, os pés arranhando a madeira com um som áspero antes de finalmente chegar à calçada.

Está prestes a virar a esquina, quando seus ouvidos captam um som frágil e quase imperceptível: um soluço, abafado e carregado de tristeza. Como um predador atraído pela presa, a criatura se vira lentamente, seus olhos mortos focando na figura solitária de uma mulher que caminha do outro lado da rua. De costas para o perigo iminente, ela se move com passos trêmulo, os ombros curvados sob o peso de uma tristeza avassaladora. As lágrimas que deslizam por seu rosto são silenciosas, refletindo um sofrimento interno que ela não consegue controlar, uma angústia que a fez sair no meio da noite, buscando refúgio no ar frio e sombrio.

A mulher, alheia ao terror que se aproxima, não percebe os passos arrastados que diminuem a distância entre eles, como o tique-taque de um relógio de morte. A criatura avança com seus dentes à mostra em um sorriso grotesco, manchado de sangue coagulado. O ataque é rápido, brutal, como um relâmpago em uma tempestade silenciosa. Ela é agarrada por trás, e por um instante seus olhos se arregalam em puro terror. Ela tenta se libertar, mas as mãos a seguram com uma força desumana. Então os dentes cravam-se com voracidade na lateral de seu pescoço, rasgando carne e veias com um som repulsivo, enquanto o sangue jorra em um fluxo quente e viscoso, como um rio rubro correndo pela calçada.

O grito da mulher corta a noite, mas logo se transforma em um gemido agonizante, abafado pelos próprios espasmos de dor. Suas mãos, antes tão desesperadas, começam a perder a força. Seus pensamentos, em meio ao pânico e à dor, tornam-se um redemoinho de medo e desesperança, até que, finalmente, tudo se apaga. Seus joelhos cedem, e ela desaba na calçada, a vida escapando de seu corpo, enquanto o monstro se lança sobre ela, devorando seus restos com uma selvageria que desafia qualquer compreensão.

Das vinte e três pessoas com febre, dezessete já se transformaram em monstros famintos, e agora, com uma sede insaciável por carne, atacam com violência brutal. Como feras desencadeadas, destroçam seus companheiros de quarto enquanto estes dormem indefesos, invadem casas sem piedade e devoram os poucos que se andam pelas ruas. O caos irrompe silenciosamente por quarenta e seis minutos intermináveis, até que um grito desesperado corta o silêncio, uma lâmina aguda que rasga o véu da tranquilidade noturna. Esse som dilacerante arranca Lexie de seu sono profundo.

Ela desperta num sobressalto, seu coração martelando no peito, e se levanta com um único pensamento: se proteger. Com a respiração entrecortada, suas mãos ágeis agarram a pistola, e, ainda vestindo o pijama, Lexie se aproxima da janela, sua mente fervilhando com a possibilidade de um novo ataque dos Cicatrizes. Contudo, o que vê a paralisa momentaneamente: uma mulher lutando desesperadamente contra um cadáver ambulante sobre ela. Lexie no momento nem nota que o morto atacante era um membro de crossville. Concentrada, ignora a familiaridade da figura; sua única prioridade é salvar a mulher.

The Dead Come Back To Life: O Caminho Para CrossvilleOnde histórias criam vida. Descubra agora