𝟎𝟎𝟐 | Isso É Sobrevivência

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A noite desce sobre a clareira como um manto escuro, engolindo as formas com sua escuridão densa. Christian está sentado no chão de terra, reunido com o novo grupo ao redor da fogueira crepitante. As chamas dançam e lançam sombras trêmulas nas árvores ao redor, criando um espetáculo quase hipnótico.

Christian ergue o olhar, tentando afastar a mente do que está mastigando. O pedaço de braço em suas mãos é uma visão que ainda não consegue aceitar completamente. A primeira mordida foi um tormento, mas a fome o impulsiona agora. Ele tenta imaginar que é apenas um pedaço de bife, forçando-se a engolir.

— Então, o que vocês fazem? Apenas vagam por aí? — pergunta Christian, a voz um tanto trêmula, tentando manter a naturalidade enquanto mastiga.

Zyanna, do outro lado da fogueira, é uma figura enigmática envolta na escuridão. Sua presença é imponente, quase mística. A luz do fogo realça seus cabelos dourados, que brilham como ouro sob a pálida luz da lua. Ao redor dos olhos, o sangue escuro aplicado como sombra cria uma máscara sinistra que acentua seu olhar penetrante, quase hipnótico. Seus lábios carmesim, tingidos com o sangue coagulado de um morto-vivo, conferem-lhe uma aparência gótica que intensifica sua aura de perigo e sedução.

— Cassidy guia os mortos para onde devemos ir — explica Zyanna com a confiança de quem ensina matemática, movendo-se com uma graça inimitável. Seus passos são medidos, como se estivesse dançando sobre um piso de mármore invisível.

As maçãs do rosto de Zyanna, altas e bem definidas, são realçadas por um rubor sutil. Manchas de sangue — algumas frescas, outras secas — salpicam seu rosto e pescoço, testemunhos silenciosos de seus encontros violentos e de sua natureza predatória. Pequenos respingos adornam a área ao redor de sua boca, sugerindo um recente banquete macabro.

Ela veste um longo e fluido vestido, feito de um tecido velho e misterioso, de uma tonalidade cinza semelhante à cor de minhocas. Flores e folhas entrelaçadas sobre o vestido com intricados padrões criam um contraste sutil entre o opulento e o sombrio. Acessórios de pétalas de flores decoram suas mãos e pescoço, enquanto um véu — do mesmo tecido do vestido — está igualmente adornado com pétalas de flores pretas cobre sua cabeça, aumentando seu ar de mistério.

Apesar de seu aspecto assustador, Zyanna é inegavelmente estilosa e bela. Ela é o braço direito do grupo e, até agora, mostra-se mais racional que o líder, Darkey.

— E quando vou conhecer Cassidy? — Christian pergunta, olhando para todos em volta, que o encaram com um misto de zombaria e curiosidade.

Darkey, sentado próximo a Zyanna, responde com sua voz grave:

— Quando chegar a hora.

Zyanna retoma a palavra, movendo-se de um lado para o outro da fogueira com uma elegância quase sobrenatural.

— A idade do gelo, idade da pedra e agora a idade dos mortos-vivos. A natureza tem ciclos e nós nos adaptamos a ela. Os seres humanos criaram a ilusão da sociedade, mas no fundo somos animais — declara ela, cada gesto cuidadosamente medido, como se estivesse em perfeita sintonia com o ambiente ao seu redor. O leve cheiro de flores e de morte que a acompanha parece se misturar ao ar. — para conhecer Cassidy, você terá que se tornar como nós. Isso significa se tornar um morto-vivo. Terá que aprender a caminhar entre eles como um deles.

Christian limpa as mãos na própria roupa, um gesto quase nervoso, tentando absorver o que foi dito.

— Já andei entre eles — afirma ele, com um toque de orgulho.

Zyanna para abruptamente, suas mãos entrelaçadas em frente ao corpo, seu olhar fixo nele.

— Como? — ela pergunta, sua voz um sussurro intrigado.

The Dead Come Back To Life: O Caminho Para CrossvilleOnde histórias criam vida. Descubra agora