A luz do sol penetra pelas janelas sujas da antiga casa de tijolos, seus raios dourados se espalhando pelo piso de madeira desgastado como dedos invisíveis. O terceiro andar, amplo e iluminado, acolhe uma atmosfera pesada. No centro da sala, uma mesa redonda de carvalho exibe arranhões e lascas. Ao redor dela, duas figuras estão sentadas ali.
Henry está inclinado para frente, as mãos inquietas brincando com a borda da mesa. Ele fala com um nó na garganta, as palavras tropeçando na memória do que viu.
— Foi tudo tão rápido... — ele murmura, como se cada sílaba fosse um peso amargo que ele mal consegue suportar. Sua voz falha, e ele fecha os olhos por um instante, tentando apagar as imagens que insistem em invadir sua mente. A lembrança dos runners rasga seus pensamentos como um relâmpago em meio a uma noite escura. — Eles... apareceram do nada... Pegaram o Louis... Eu tive que...
Ele para. O silêncio que segue é como um abismo, profundo e esmagador. Seus olhos, normalmente azuis e vívidos, agora estão sem brilho, refletindo um peso invisível. Ele desvia o olhar de Sam, incapaz de sustentar o contato, como se a culpa pudesse ser lida em seu rosto.
Sam, do outro lado da mesa, mantém a expressão impenetrável. Seu rosto é uma máscara, uma fortaleza que esconde as ruínas de um coração partido. Ele cruza os braços, como se tentasse conter a dor que ameaça transbordar.
— Não precisa continuar. — A voz de Sam é contida, mas, por trás da máscara impassível, seu coração se despedaça.
Os olhos de Sam vagueiam para a embalagem de metildopa sobre a mesa, destinada à pré-eclâmpsia. O infortúnio — ou a sorte, dependendo do ponto de vista — é que normalmente essas embalagens contêm 20 comprimidos, mas a que Henry encontrou só possui 3. Os espaços vazios onde deveriam estar os outros 17 comprimidos sugerem que alguém os pegou antes. Mas por que alguém teria se contentado com tão poucos? E será o suficiente para tratar Lexie?
— Onde você achou isso? — Sam pergunta.
— Numa farmácia. — Henry responde, a voz arrastada, como se as palavras fossem pedras nos lábios.
— A do Noroeste?
— Sim. — Henry solta um suspiro longo, o ar escapando como se estivesse carregando o peso de uma confissão.
Sam analisa os olhos do outro homem, buscando alguma fissura que lhe revele mais do que ele está disposto a dizer. Mas tudo que encontra é um vazio perturbador, como se Henry estivesse em outro lugar, perdido em memórias que preferia esquecer.
A porta range ao se abrir lentamente, como um aviso preguiçoso. Carlos entra, ajustando o boné militar em sua cabeça, seguido por Grayson e Connor. O barulho de botas ressoando no assoalho seco enche o ar. Sam inclina a cabeça ligeiramente, mas mantém a postura rígida.
— Sou Sam. Estes são...
— Já sei quem são. — Connor interrompe com um sorriso torto estampado no rosto, como se o mundo fosse uma piada que apenas ele entende.
Sam não reage à provocação e continua.
— Fazemos parte do conselho.
— Conselho? — Grayson repete, lançando um olhar confuso para Connor.
— Sim. — Sam ajusta-se na cadeira, como se precisasse se ancorar para não se perder na explicação. — As pessoas nos escolheram para tomar decisões. A maioria nunca saiu daqui para enfrentar o que tem lá fora. Eram mais de nós, mas... muitos morreram protegendo essa comunidade.
VOCÊ ESTÁ LENDO
The Dead Come Back To Life: O Caminho Para Crossville
Teen FictionEm um apocalipse devastador que transformou o estados unidos em um pesadelo desolado, Christian, um jovem resiliente que luta pela sobrevivência junto a um bando de jovens, atravessa este novo mundo infernal com um propósito inabalável: reencontrar...