𝟎𝟎𝟗 | O Mar De Mortos

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Carlos deitado de bruços, respira entrecortadamente e tosse conforme tenta se orientar no caos. O ar, denso e pesado com poeira, arde em seus pulmões. Com o rosto sujo e os olhos semicerrados pela irritação, ele se força a olhar por cima do ombro em direção ao muro que desmoronou. Silhuetas indistintas se movem na névoa sufocante. O mundo ao seu redor parece ter sido engolido por um silêncio estranho, interrompido apenas pelos grunhidos grotescos que ecoam, ameaçadores e impiedosos.

Quando a poeira começa a baixar, os mortos-vivos emergem como fantasmas, com seus pés arrastando-se pelo chão de maneira monótona e aterradora. Cada movimento deles carrega o peso da morte, e Carlos mal consegue desviar o olhar. Jim, caído no chão à frente, é o alvo mais próximo deles. Ele tenta se levantar com esforço, mas tudo se desenrola rápido demais para qualquer reação.

Carlos observa, o coração disparado no peito, quando vê uma figura que destaca-se entre os mortos: Darkey. O barulho da serra elétrica que ele carrega é abafado pelos grunhidos, mas ainda assim, é uma ameaça que Carlos reconhece de imediato. Darkey está irreconhecível. Além do poncho grotesco feito de pele de morto-vivo, agora ele usa o rosto de Cassidy como máscara, costurada com dois chifres de touro no topo, como uma macabra e profana coroa. Aquele que antes era um homem agora parece algo saído dos pesadelos mais profundos de Carlos. Um demônio de carne e osso.

Jim, finalmente em pé, vira-se e seu rosto congela de puro terror. Seus olhos estão arregalados, presos em um pânico absoluto. O instinto toma conta e ele tenta correr, mas seus movimentos são descoordenados, desesperados. Darkey é mais rápido, avançando sobre ele como uma fera faminta. Num golpe brutal, ele atravessa Jim pelas costas com a serra elétrica. O som do metal rasgando carne e osso é abafado por um arquejo seco, o único som que Jim consegue emitir.

Carlos observa horrorizado enquanto Darkey levanta Jim levemente do chão com a força da serra, pressionando a lâmina mais fundo. O sangue espirra em todas as direções como uma chuva vermelha, tingindo o cenário caótico. Em um movimento final, Darkey puxa a serra de volta, e o corpo de Jim desaba. Primeiro de joelhos, depois cai como uma marionete sem vida, o rosto no chão. Imóvel. Morto. A horda de mordedores avança sem hesitação, caindo sobre o corpo de Jim como sanguessugas, alimentando-se da carne ainda quente.

Carlos, com o coração martelando no peito e os olhos ainda presos na cena grotesca, se força a levantar. Ele vê Lexie lutando para se erguer e corre até ela, estendendo a mão com pressa.

— CONSEGUE CORRER? — grita ele, a voz quase engolida pelos grunhidos e o pavor.

Lexie, com o rosto pálido e a respiração ofegante, apenas assente rapidamente, os lábios secos tremendo.

— Sim!

Sem perder mais tempo, Carlos começa a correr, com Lexie ao seu lado. Suas pernas parecem pesadas como chumbo, mas o medo da morte o impulsiona. Ao redor, os outros soldados também correm, fugindo da horda implacável que os persegue.

O Winnebago avança pela estrada como uma fera indomável, seu motor rugindo como um trovão distante que ecoa pelas florestas. As árvores, alinhadas em ambos os lados, tornam-se apenas sombras fugidias, borrões verdes que mal podem ser percebidos através das janelas, enquanto o veículo devora o asfalto em direção a Crossville.

Sam, com as mãos firmes no volante, lança um olhar rápido para Henry, sentado ao seu lado. O reflexo da tensão está claro nos traços endurecidos de seu rosto, como uma corda prestes a arrebentar.

— Está tudo bem? — ele pergunta, sua voz carregada de preocupação disfarçada sob uma calma forçada, enquanto seus olhos voltam para a estrada sinuosa à frente.

Henry ergue os olhos para Sam, seus pensamentos envoltos em uma névoa de inquietação. O peso do mundo parece repousar sobre seus ombros, pressionando-o com a angústia que sente por Lexie. Seu olhar é distante, perdido em um abismo de incertezas.

The Dead Come Back To Life: O Caminho Para CrossvilleOnde histórias criam vida. Descubra agora