𝟎𝟎𝟗 | Longo Inverno

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Johnny e Meg adentram o auditório, um lugar solene que ecoa com o silêncio da sua conversa iminente. Ele, de pé em frente ao palco, encara-a com uma mistura de surpresa e apreensão.

— Quanto tempo faz? — sua voz ressoa, carregada de emoção contida.

— Apenas alguns dias — ela responde, mantendo-se de costas para as fileiras vazias de cadeiras, como se as palavras fossem mais fáceis de pronunciar sem encará-lo.

— E como tem tanta certeza? — a dúvida em sua voz revela a esperança de um engano.

— Testei positivo... há vários kits na enfermaria — sua resposta é firme, mas os olhos evitam o contato, esquivando-se do turbilhão de pensamentos que certamente inundam sua mente.

Ele fica parado, imerso em um silêncio pesado, enquanto seus olhos se fixam no chão, incapazes de encarar a realidade que se desenrola diante dele. O peso da responsabilidade paira sobre seus ombros, uma sombra escura que o consome. Ele não pode evitar pensar na difícil jornada que está por vir, lidar com uma gravidez em meio ao caos da guerra e em um mundo despedaçado.

Seus pensamentos se desviam para a preocupação crescente sobre como garantir que ela tenha a nutrição adequada para sustentar o bebê. E se os recursos escassearem? Ele se pergunta se uma mulher grávida necessita de cuidados específicos, como uma dieta rica em proteínas e nutrientes essenciais. A falta de conhecimento sobre gravidez o assombra, deixando-o sem respostas concretas.

A juventude de Meg, apenas dezesseis anos, parece-lhe agora tão frágil, tão inadequada para as exigências brutais da maternidade. Ele sente um aperto no peito ao considerar os perigos que ela enfrentará, seu corpo talvez não preparado para os desafios que se aproximam. A possibilidade de complicações durante o parto assombra seus pensamentos, deixando-o temeroso pelo futuro incerto que aguarda.

A incerteza se instala enquanto ele pondera sobre suas próprias habilidades para cuidar de um recém-nascido. A dúvida o consome: será que realmente é seguro eles ficarem na escola? Ele se pergunta como é possível que ela tenha engravidado, quando sempre foram cuidadosos em relação ao sexo. Esses pensamentos são que invadem a mente de Johnny nesse meio minuto de silêncio.

— Johnny? — a voz trêmula de Meg quebra o silêncio, arrancando-o de seus devaneios sombrios.

Ele a encara, como se emergisse de um transe, e seus olhos se encontram. Ela parece vulnerável, suas palavras carregadas de incerteza e medo.

— Estou confusa... — ela começa, sua voz trêmula, vulnerável — Não sei se é certo trazer uma criança para um mundo tão cruel.

— O que está dizendo? — ele pergunta, a preocupação marcando cada sílaba.

— Lembro-me de quando éramos pequenos, e o mundo desabou... passamos pelo inferno na terra — ela pausa, lutando para encontrar as palavras — Talvez a decisão correta... para poupar nosso bebê do sofrimento... seja... optar por um aborto.

Por um breve momento, ele encara-a intensamente, seus olhos carregados de emoções conflitantes que se refletem na expressão tensa de seu rosto. A mera citação do aborto é como um estopim que inflama uma chama dentro dele, uma ira fervente que ameaça consumi-lo por completo. Seu punho se fecha com força, numa tentativa desesperada de conter a explosão de raiva que ameaça transbordar.

Ele inspira profundamente, lutando para recuperar o controle sobre suas próprias emoções. Uma batalha interna se desenrola dentro dele, uma voz sussurrando a necessidade de calma e racionalidade, enquanto outra, mais sombria e primitiva — a mesma que vinha no pensamento de seu pai —, clama por vingança. A ordem implacável ecoa em sua mente: "Acerte a cara dessa...". Ele hesita por um instante, lutando contra seus instintos mais básicos, mas a compulsão é irresistível.

The Dead Come Back To Life: O Caminho Para CrossvilleOnde histórias criam vida. Descubra agora