𝟎𝟎𝟓 | Não Há Tempo

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Ao cair da noite, por volta das 19h00, o grupo confia a escola a Maddy, Mia, Meg, Johnny, Raquel, Mary e outros oito jovens, com idades entre 11 a 18 anos. Enquanto quatorze deles, partem agora, subindo nos veículos militares que rugem impacientes. Alguns se acomodam nos bancos, enquanto outros se ajeitam nos compartimentos de carga, espremidos entre caixas de armas. A tensão é palpável, quase cortante. Cada rosto juvenil, iluminado pela luz vacilante dos faróis, reflete a gravidade do momento. Seus olhos brilham com um propósito sombrio e um medo mal disfarçado, um brilho que denuncia a inocência perdida.

Dedos trêmulos roçam nervosamente nos gatilhos de segurança e nas coronhas dos rifles de assalto. Eles não são soldados, de modo algum; são apenas crianças e adolescentes cujas vidas foram brutalmente interrompidas. Deveriam estar estudando, brincando, aproveitando a juventude. Mas agora, são forçados a lutar se quiserem sobreviver.

O portão da escola se abre com um rangido metálico e o ar se enche com o ronco profundo dos motores, um som que reverbera no peito de cada jovem como um aviso sombrio. Os veículos e caminhões partem em direção ao hospital, e este é o pior momento para eles: ver a escola se distanciar, uma silhueta cada vez menor no retrovisor, sem saber se algum dia irão vê-la novamente.

Sob o manto prateado da lua, estrelas cintilam com fervor no firmamento, enquanto flocos de neve dançam ao vento, caindo com a delicadeza de pétalas ao solo. São precisamente 22h32. O caminhão liderado por Fritz desacelera diante de uma praça vasta em frente ao hospital, cuja extensão se estende por aproximadamente 25.000 metros quadrados, suas dimensões de 200 metros de comprimento por 125 metros de largura desenham um retângulo que abriga ruínas de um passado glorioso, árvores desfolhadas e bancos abandonados cobertos na neve, circundando uma fonte muda no coração da praça mergulhada na neve.

O policial Fritz, com um olhar calculista, escolhe o local para estacionar o veículo — com uma visão estratégica do hospital—, e o restante do comboio o segue, movendo-se com cautela, faróis apagados, motores sussurrando em uníssono, cada um encontrando seu lugar na quietude da noite.

Por um tempo que parece eterno, reina um silêncio sepulcral quando os motores são desligados. Christian, sentado na cabine, escuta o pulsar de sua própria vida em seus ouvidos. Então, como um prelúdio silencioso, o som discreto de portas se abrindo marca o início do irreversível. Ele desce, sentindo cada músculo tensionado, o estômago retorcido pela ansiedade. Um sopro gelado da noite faz sua pele se eriçar, e ao tocar o chão nevado da praça, ele sente o frio penetrar até os ossos.

Nas sombras, o clique metálico de rifles sendo armados ecoa sutilmente. Coletes à prova de balas são apertados, tambores são carregados e cintos de munição ajustados. Todos ficam de diante das grades frontais dos veiculos, aguardando a Kara cortar as luzes, ativar o alarme e abrir o portão.

Enquanto isso, Christian se perde em pensamentos enquanto observa a imponente estrutura de cinco andares que brilha na escuridão como um farol. O Hospital Memorial St. James ergue-se majestosamente com suas enormes paredes de concreto e vidro sujo que refletem as estrelas. O logotipo está gravado no ápice da construção, e uma cerca de arame farpado envolve o perímetro, protegendo o colosso de concreto e vidro.

É difícil ver alguma alma viva no estacionamento através da grade na escuridão, mas a mente de Christian está focada em uma única coisa, a mesma desde o discurso: aquelas vidas dependem dele. Desde aquele momento, as pessoas têm buscado orientação nele, como se fosse um líder. Ele fez o discurso para motivar, não para liderar, mas agora sente o peso angustiante em seus ombros, além de uma sensação de fracasso em relação a Maddy. Será que ele está realmente certo? Mas de qualquer forma, é tarde de mais para voltar atrás.

Minutos se passam, ou talvez horas — Christian perde a noção do tempo — e as luzes do hospital se apagam, mergulhando o lugar em um breu total. Seu corpo treme, seja pelo medo ou pelo frio, sob o poncho negro agora pontuado pela neve. Debaixo do poncho, ele sente a segurança fria da pistola Taurus 1911 no coldre, junto com a faca militar na bainha. Segura o cabo da pistola com força, tentando conter os tremores. Uma voz ao seu lado o desperta de seu torpor. Christian se vira e encontra Mason vestindo roupas de frios e se juntando a ele na frente do caminhão. A princípio Christian não entende o que o garoto diz e pede para repetir.

The Dead Come Back To Life: O Caminho Para CrossvilleOnde histórias criam vida. Descubra agora