𝟎𝟏𝟓 | O Assassino Entre Nós

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— Acho que deveríamos ir na Walgreens — sugere Louis, sentado no banco traseiro do carro com os olhos fixos em um mapa desgastado.

O Ford preto avança lentamente por uma estrada coberta de folhas apodrecidas e cadáveres em decomposição. A cada poucos quilômetros, carcaças de veículos abandonados, já tomadas pela vegetação, bloqueiam o caminho, forçando-os a parar e remover os destroços com as próprias mãos. É a terceira manhã desde que saíram de Crossville em busca dos medicamentos. Eles madrugaram e agora seguem em direção a um pequeno bairro distante, com as árvores flanqueando a estrada como borrões nas janelas. Carter, ao volante desta vez, calcula que, se não houver mais obstruções, devem chegar no bairro em menos de uma hora.

— Não. Vamos ao Walmart. — Carter refuta a sugestão de Louis com um gesto impaciente, sem tirar a mão do volante.

Carter Volkov, o russo de 50 anos com cabelos castanhos ondulados, quase sempre cobertos por um fedora preto, foi bem aceito nos últimos meses desde sua chegada. É conhecido por sua gentileza, embora também seja famoso por sua indiscrição, frequentemente visto na varanda, fumando seu cachimbo enquanto vigia os movimentos na comunidade. Pouco escapa de seus olhos atentos, e muitos recorrem a ele para saber as últimas novidades de Crossville. Louis não o condena por isso — no fim das contas, o que mais há para fazer em um apocalipse?

A única coisa que incomoda Louis é a maneira grosseira com que Carter sempre o trata. Desde que chegou, o homem russo nunca escondeu seu desdém, frequentemente fechando a cara quando o vê. Louis chegou a pensar que Carter fosse apenas um racista, já que parecia tratar todos bem, exceto ele. No entanto, ao perceber que Christian, também alvo da frieza de Carter, recebia o mesmo tratamento, ele descartou essa hipótese. Agora, Louis não sabe se Carter está rejeitando sua sugestão apenas por ele ter sido o autor, ou se há algo mais por trás disso. Afinal, a Walgreens está bem mais próxima que o Walmart.

— O que você acha, Henry? — Louis pergunta com astúcia, buscando o apoio de Henry.

Henry, por sua vez, sentado no banco do passageiro, está perdido em seus próprios pensamentos. Louis sabe que ele está inquieto por causa de Lexie.

— Vamos nos dois — responde Henry, sem se comprometer com nenhum dos lados, dando de ombros.

Sob o comando de Carter, eles seguem primeiro em direção ao Walmart. A viagem é rápida, mas parece demorar uma eternidade para Henry, com o peso da urgência pendendo sobre seus ombros. O estacionamento, que um dia fora um mar de consumidores apressados, agora se assemelha a um cemitério de metal e ferrugem. Carros e motos, abandonados e mutilados pelo tempo, jazem espalhados como cadáveres esquecidos, suas carcaças engolidas por ervas daninhas que insistem em prosperar em meio à decadência. O Walmart ergue-se à frente, uma sombra do que já foi, suas paredes cobertas de musgo e as janelas quebradas como feridas abertas no concreto.

Carter estaciona o veículo em uma vaga vazia no meio, o silêncio tomando conta como uma onda repentina quando o motor é desligado. Apenas o vento sussurra através dos destroços, e o canto ocasional de pássaros distantes quebra a quietude.

— Agora esperamos um pouco. — Carter murmura, inclinando-se no banco com uma despreocupação que parece insultar a gravidade do momento. Ele puxa a fedora para baixo, cobrindo os olhos, e se acomoda como se estivessem em uma tarde de verão qualquer.

Henry e Louis se entreolham, a confusão evidente no rosto de ambos. A mente de Henry fervilha de impaciência. Ele não consegue entender como Carter pode estar tão calmo quando Lexie esta precisando dos remédios urgentemente.

— Esperar o quê? — Louis finalmente quebra o silêncio, sua voz carregada de incredulidade.

Carter não responde, apenas começa a assobiar uma melodia suave, ignorando-os por completo. Henry sente a irritação crescendo dentro dele, uma onda de frustração que começa a bater contra as margens de seu autocontrole. Henry, impaciente, pega sua katana aos pés, trocando um olhar decidido com Louis. Ele tenta abrir a porta para sair, mas ela está trancada.

The Dead Come Back To Life: O Caminho Para CrossvilleOnde histórias criam vida. Descubra agora