𝟎𝟎𝟓 | Declaração A Guerra

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— Você voltou! — exclama Jim, avançando com passos pesados e um semblante de alívio mesclado com cansaço. Aos 42 anos, Jim aparenta carregar a marca de uma década a mais em suas rugas profundas. Seu boné surrado e o macacão jeans, já tão desgastados quanto a própria vida no interior, fazem dele uma figura quase mitológica entre os que permanecem aqui.

Christian lança um olhar rápido para os arredores, atento a qualquer sinal de perigo que possa se esconder nas sombras da tarde. Seus olhos percorrem a rua, observando os rostos curiosos que espiam através das janelas empoeiradas das casas bem cuidadas. Olha a pequena praça em frente onde crianças brincam em volta de um chafariz quebrado que se ergue como um monumento ao esquecimento, cercado por flores murchas e uma árvore com folhas secas e amareladas que caem como lágrimas da estação. Inicialmente, nada suspeito.

— Trouxe companhia! — Jim diz com seus olhos inicialmente cheios de alegria que logo se sombriam quando ele percebe a expressão grave no rosto de Louis. — Sua perna! Espera... Onde está Nicolas?

Louis, com a voz tingida de tristeza e dor, responde:

— Te explico tudo depois.

O semblante de Jim se transforma em uma máscara de preocupação e confusão.

— E Bruce?

Louis suspira, um som que parece carregar todo o peso do mundo, enquanto responde:

— Bruce? Ele não estava conosco.

— Ele saiu para procurá-los.

— Merda! — Louis coloca a caixa de suprimentos no chão com um estrondo surdo, ao lado da de Christian. A frustração e a urgência marcam suas palavras. — Não posso deixá-lo lá fora sozinho.

Christian, com uma expressão firme e decidida, intervém, seu olhar se fixando em Louis com uma intensidade que reflete sua preocupação:

— Se ele estiver bem, terá que se virar por conta própria. Está escurecendo, e os cicatrizes ainda estão lá.

Louis fica em silêncio, seu rosto revelando um misto de aceitação e preocupação enquanto ele concorda com um leve aceno.

— Cicatrizes? — Jim pergunta, a curiosidade e o medo se entrelaçando em sua voz.

Louis tenta suavizar a tensão com um toque de humor amargo:

— Parece que temos muito para colocar em dia.

Christian passa o restante da tarde explorando a comunidade, caminhando pelas ruas com o olhar atento e o coração pesado de expectativa. Ele saúda alguns moradores que vagam despreocupados, empurrando carrinhos com bebês que gorgolejam felizes, enquanto outros conversam em pequenos grupos. Mas em meio a esses gestos cotidianos, ele ainda não encontra vestígios de sua família. Nenhum rosto familiar emerge entre as sombras, e nenhum sinal suspeito ameaça a frágil paz da comunidade.

Ao entardecer, ele se acomoda em uma das casas desocupadas. Arrasta móveis pesados para barrar as portas e coloca sua pistola ao alcance, ao lado da cama. Apesar de sua determinação em permanecer alerta, o cansaço o domina. Em pouco tempo, ele se entrega ao abraço morno do sono, confortado pela cama macia.

Ao amanhecer, o ronco profundo de um caminhão irrompe na tranquilidade do quarto, seguido pelo baque metálico do portão da comunidade se fechando com força. Christian acorda com um sobressalto, o coração batendo forte, a mão instintivamente se fechando ao redor da arma. Sonolento, ele se levanta, esfregando os olhos e caminhando até a janela em passos hesitantes. A luz pálida do amanhecer banha o cenário lá fora, revelando três homens e uma mulher trabalhando ao redor do caminhão, descarregando caixas com suprimentos. A distância não lhe permite distinguir rostos, mas ele pressente que um dos homens é Sam, aquele que Louis mencionou. Christian observa por um momento, o olhar fixo, antes de voltar para dentro, sentindo a apreensão formigar em sua mente.

The Dead Come Back To Life: O Caminho Para CrossvilleOnde histórias criam vida. Descubra agora