𝟎𝟎𝟐 | Merythyopts

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Ao raiar de um novo dia, tingido pela tristeza da perda de Steph, o grupo de jovens sequestrados da escola chega ao hospital. Eles foram amarrados, forçados a viajar em três humvees, enquanto tiveram que ouvir a viagem inteira os soluços e lágrimas daqueles que choram por entes queridos perdidos e pela recusa em abandonar a escola. Ao adentrarem o hospital, Leonor, Gavin, Joshua, Hazen, Tommy e os outros sete jovens são escoltados por soldados em armaduras até a sala 10 no segundo andar. O ambiente é estéril, com paredes brancas e rodapés num suave tom de azul celeste. O cheiro de álcool e produtos de limpeza vencidos permeia o ar, e exceto pelas oito camas alinhadas, a sala está desolada.

— Não façam nada estúpido! — ordena Kara com uma voz que ressoa autoridade, parada à porta, seu capacete em mãos, enquanto veste o blindado.

Ela está prestes a selar o destino do grupo com o fechar da porta, quando Leonor, impelida por um ímpeto súbito, clama:

— MÃE! — Ela avança em direção a Kara, encarando-a com olhos suplicantes. Seu peito sobe e desce em respirações arfantes — Por favor, diga que não foi sua intenção.

Kara permanece imóvel, seu olhar é o de uma estátua, inexpressivo e frio como se fosse um robo, não carne e sangue. Isso desperta uma tormenta de emoções em Leonor, que observa a pele antes parda de Kara agora pálida que parece estar adoentada, seus cachos habitualmente bem arrumados agora desalinhados. Por um breve instante, Leonor alberga a esperança de uma resposta, mas Kara, abruptamente, vira-se e encerra o encontro com um estrondo surdo da porta, deixando Leonor imersa em um silêncio ensurdecedor e sem respostas.

Leonor se distancia da porta, seus passos ecoam no silêncio da sala enquanto ela se dirige à cama. Com um suspiro que carrega o peso do mundo, ela se senta lentamente, removendo a viseira que esconde seus olhos cansados. Suas mãos trêmulas libertam as maria-chiquinhas, permitindo que seus cabelos cacheados e selvagens caiam livremente até os ombros, formando uma cascata de fios desordenados.

Gavin, com um olhar distante, observa-a de seu canto solitário. Ele começa a perambular pelo recinto, seus olhos varrendo cada centímetro em busca de uma saída, uma falha no quarto, qualquer coisa.

— Precisamos encontrar uma saída — ele articula com determinação, fixando o olhar no cano que serpenteia pelo canto do teto. — Vasculhe tudo — ordena a Joshua com um gesto imperativo.

Joshua, um homem de estatura mediana e porte atlético, com a cabeça raspada num estilo militar, se ergue prontamente. Ele inicia a busca meticulosa, mas é interrompido abruptamente pela voz resignada de Leonor.

— É inútil... — ela murmura, a voz embargada pela desesperança. — Eles sempre ganham.

Gavin congela, seus punhos cerrados tremem com a fúria contida. "Está tudo fudido," ele reflete amargamente. "Mesmo que consigamos fugir, tudo está fodido, porra Fritz!" Consumido pelo desespero, ele desfere um soco na parede imaculada, um golpe tão potente que o som reverbera pelo ambiente e a dor irradia por seus dedos. Mas a dor física é insignificante diante da tormenta interna.

— Gavin! — Joshua o adverte, lançando-lhe um olhar reprovador antes de sinalizar discretamente para os jovens acuados no canto.

Gavin se vira, e seus olhos encontram os deles: crianças e adolescentes paralisados, alguns de pés, outros sentados na beira da cama ou no canto do quarto, porém todos os encaram com medo, seus rostos marcados pelo terror, lábios trêmulos e sobrancelhas franzidas em angústia. Eles se encolhem juntos, buscando conforto uns nos outros, como filhotes de gato buscando o calor fraternal em um abraço coletivo.

— Droga — Gavin pragueja entre dentes, sua voz um sussurro carregado de frustração e arrependimento.
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Ao longo do dia, Tommy permanece confinado no quarto, imerso em um mar de monotonia. Ele contempla o teto alvo, perdido em pensamentos sobre Christian, questionando-se sobre seu bem-estar e a possibilidade de algum dia se encontrar. Essas reflexões o embalam até que o sono o captura. Subitamente, um toque brusco o desperta — apenas quatro horas se passaram, mas para Tommy, pareceu meros instantes.

The Dead Come Back To Life: O Caminho Para CrossvilleOnde histórias criam vida. Descubra agora